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Salvação e Teologia da Libertação - (*) Francisco Espiridião
Criada a trinta e sete anos (1968), a Teologia da Libertação ainda não disse a que veio, a não ser criar uma montanha de expectativas nas classes menos favorecidas, uma espécie de utopia, que, como o próprio nome sugere, embala sonhos inatingíveis.

Após longo período de ostracismo, em razão do esfacelamento do comunismo, com a queda do Muro de Berlim e a Perestroika, a Teologia da Libertação, que no princípio chamava-se Teologia da Revolução, voltou a ser assunto esta semana, quando da realização do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre (RS). Ganhou importante status com o 1.º Fórum Mundial da Teologia da Libertação. Criada a trinta e sete anos (1968), a Teologia da Libertação ainda não disse a que veio, a não ser criar uma montanha de expectativas nas classes menos favorecidas, uma espécie de utopia, que, como o próprio nome sugere, embala sonhos inatingíveis. A então novidade em termos teológicos, que teve seu nascedouro na Conferência Episcopal Latino-Americana (Celam), realizada na cidade colombiana de Medellim, foi condenada por grande maioria dos teólogos católicos apostólicos romanos - teve seu berço nas entranhas da denominação comandada pelo Papa. A rejeição foi tamanha, a ponto de um de seus idealizadores, o então frade franciscano, catarinense de Concórdia, Leonardo Boff, ter sido defenestrado do clericalismo. A Teologia da Libertação é radical em todos os sentidos. Primeiro, porque hospeda em seu conteúdo doutrinário muito da filosofia humanista, pela qual o homem é o centro de todas as coisas, a primazia. Visão totalmente antropocêntrica. Despreza o conteúdo bíblico que tem na pessoa de um Deus-criador o motor de todas as coisas. Segundo, resume-se numa interpretação da Bíblia à luz do conceito marxista, onde a luta de classes é o único caminho para se alcançar o equilíbrio, com uma mudança radical da estrutura social vigente, considerada, por eles, injusta sob todos os aspectos. O acidente de percurso foi o ocaso do marxismo. Por conta disso, há de se buscar novos paradigmas para que o ideal possa ter continuidade. Esse foi o mote do 1.º Fórum de Porto Alegre. Resumindo, a Teologia da Libertação busca uma resposta às desigualdades sociais. Reduz, pois, o homem a um ser unicamente físico-material, que precisa ter seus desejos e necessidades satisfeitos aqui e agora. A salvação do homem, segundo o idealismo dos intelectuais da Libertação, está não em Jesus Cristo e seu sacrifício vicário na cruz, mas na libertação política de toda forma de opressão, principalmente no que se refere ao social. Para eles, não têm sentido as palavras proferidas por Jesus, ao responder aos críticos de Maria, irmã de Lázaro, quanto ao perfume caríssimo que gastou com o Mestre: "Porque os pobres sempre os tendes convosco" (João 12.8a). O pastor Eli Fernandes, da Igreja Batista da Liberdade, em São Paulo, afirma que a Teologia da Libertação confunde o conceito bíblico de justiça social, ao pregar que a igualdade entre os seres humanos deve ocorrer ainda que através da força - a luta de classes (conceito marxista). Fernandes ensina que o conceito bíblico de justiça social baseia-se no "progresso do indivíduo, estribado em sua própria escolha, trabalho, responsabilidade, iniciativa e mérito". Leonardo Boff reafirmou esta semana que o alvo da Teologia da Libertação continua sendo "os pobres do mundo". O objetivo, segundo os teólogos da Libertação, é libertar o homem de toda sorte de opressão, exemplificando com o episódio da libertação dos hebreus do jugo egípcio. Para embasar sua tese, citam o versículo 1 do capítulo 8 do livro de Êxodo. Ocorre que dão ênfase apenas à primeira parte do versículo: "Deixa Meu povo ir...", esquecendo-se da segunda e mais importante: "... para que me preste culto.". Enquanto na Teologia da Libertação o que se visa é a questão material, o bem-estar físico, na concepção bíblica o que está em jogo é o lado espiritual, sem desprezar o primeiro, é claro. A liberdade do ser humano, segundo os princípios bíblicos, é acima de tudo espiritual. O material é passageiro, já o espiritual é eterno. O apóstolo Paulo, em sua primeira carta aos Coríntios, disse: "Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão" (15:19 - NVI). Longe de pregar a "opção pelos pobres", as Escrituras indicam o caminho da liberdade espiritual. "Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça, e as demais coisas vos serão acrescentadas." (Mateus 6.33). Importante saber que a salvação em Cristo foi oferecida a todos os homens (I Timóteo 2.4). O caminho é o arrependimento dos pecados e a fé incondicional em Jesus. "O tempo está cumprido, é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho." (Marcos 1.15). (*) Jornalista e diácono da Igreja Batista da Liberdade: [email protected]
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