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Descendo a ladeira - (*) Francisco Espiridião
O estado de Roraima é conhecido Brasil afora como terra de ninguém. O presidente da CNBB, Geraldo Majela, chegou a dizer para o Mundo, havia algum tempo, que esta era uma terra sem lei. O pior é que tudo ficou por isso mesmo.

O estado de Roraima é conhecido Brasil afora como terra de ninguém. O presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que tem no CIMI - Conselho Indigenista Missionário - o seu braço a serviço do ambientalismo internacional), Geraldo Majela, chegou a dizer para o Mundo, havia algum tempo, que esta era uma terra sem lei. O pior é que tudo ficou por isso mesmo. Nenhuma autoridade - local ou nacional - teve peito para desmenti-lo ou, pelo menos, pedir uma satisfação diante de tão grande insulto ao povo roraimense. O que não se diz, no entanto, é que o Estado tem tudo para dar certo. Basta ninguém atrapalhar. Sua localização geográfica é das melhores. Está quase que em sua totalidade no Hemisfério Norte. Isso significa que sua produção agrícola pode preencher a lacuna registrada no período de entressafra do restante do país. Temos vias de acesso para escoamento da produção, tanto para a Venezuela como para a Guiana. O clima é altamente propenso à agricultura. Temos chuva e sol na medida certa durante todo o ano, sem falar que já estamos despontando como a nova fronteira agrícola. A Embrapa tem anunciado excelentes resultados de pesquisas, com ótimos índices de produtividade de cultivos experimentais. O resultado disso é que já há algum tempo nos tornamos auto-suficientes em arroz de sequeiro, com excedente exportado para importantes pólos consumidores, entre eles o Amazonas. Durante seminário realizado em agosto de 1999, no Campo Experimental de Monte Cristo, técnicos da Embrapa anunciavam que o arroz de sequeiro em Roraima tem potencial para produzir 3,6 toneladas por hectare; arroz irrigado, sete toneladas por hectare; milho, nove toneladas/hectare; e algumas variedades de soja, quatro toneladas por hectare. Além do arroz, a soja também não é mais nenhuma promessa futura de divisas. É patente realidade. As primeiras remessas de grãos exportados se consolidam nesses dias para a Venezuela. Nessa segunda-feira (10) saíram as primeiras 15 carretas carregadas de grãos. A empresa venezuelana Coposa adquiriu 140 mil toneladas da soja roraimense. Somadas às 17 mil toneladas vendidas para o Grupo Maggi, do Amazonas, renderão algo em torno de US$ 6 milhões. Outro tanto ou mais poderia ser auferido caso os recursos minerais pudessem ser explorados. Nada disso, no entanto, é interessante aos olhos das ONGs ambientalistas, que buscam obstaculizar de todas as maneiras o desenvolvimento não só do Estado de Roraima, mas de toda a Amazônia. Para o Stablishment oligárquico internacional não interessa uma "autogestão dos povos da floresta". O amazônida deve mesmo permanecer carente de tudo. O pior é que a elite brasileira compactua com essa visão estereotipada, esteada em falsos argumentos de que o índio precisa continuar silvícola, tal como no Descobrimento. Esquece-se, a elite, que não será o progresso que irá retirar dele a sua condição de índio. Ele quer continuar índio, falando na maloca a língua materna, ao mesmo tempo em que não abre mão de trafegar pelas estradas roraimenses dirigindo suas caminhonetes importadas, a exemplo dos índios da reserva Roosevelt, em Rondônia. E muito menos quer deixar de assistir o desfecho emocionante da novela das oito. É evidente que o capital internacional tem lá seu poder de decisão, que se assemelha à força do tsunami. Isso ficou claro dias atrás, quando o presidente Lula fez menção ao quilate da pressão que vem sofrendo para homologar imediatamente a terra indígena Raposa-Serra do Sol em área contínua. Enquanto o Governo Federal insiste em manter o Estado de Roraima como uma unidade federativa virtual, negando-lhe um dos pilares importantes, que é a extensão geográfica, o presidente da Funai, Mércio Pereira, afirma categórico que os índios roraimenses de Raposa-Serra do Sol decidiram por se manter isolados, em área contínua. Quando se fala, no entanto, de tirar a "prova dos nove", através de um plebiscito entre as etnias envolvidas, ele foge da idéia como o diabo da cruz. É "o Brasil descendo a ladeira", como cantava a "Pimentinha", nos anos 80 do século passado. (*) Jornalista; e-mail: [email protected]
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