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O X DA QUESTÃO - Eliakin Rufino e Aroldo Pinheiro
Levantamento feito pelo Exército brasileiro e publicado domingo na Folha de S. Paulo aponta que mais de seis mil soldados norte-americanos estão em plena atividade em países que fazem fronteiras com a Amazônia. A informação colocou em discussão a defesa da soberania do país e o que está pro trás dos acordos de cooperação entre EUA e as nações vizinhas.

Levantamento feito pelo Exército brasileiro e publicado domingo na Folha de S. Paulo aponta que mais de seis mil soldados norte-americanos estão em plena atividade em países que fazem fronteiras com a Amazônia. A informação colocou em discussão a defesa da soberania do país e o que está pro trás dos acordos de cooperação entre EUA e as nações vizinhas. Esse é o assunto que o poeta Eliakin Rufino e o escritor Aroldo Pinheiro comentam no X da Questão. FB: Estudos do Exército apontam a criação de um "cinturão", militar dos Estados Unidos cercando a Amazônia. O motivo, alegam os governos dos EUA e os da fronteira como ações de cooperação contra o narcotráfico. O que vocês acham disso? AROLDO: Sem xenofobia. Nunca se sabe o que se passa na cabeça dos governantes norte-americanos. Historicamente, a coisa funciona assim: eles chegam a alguma região alegando interesses legítimos de cooperação, aumentam seus contingentes, estabelecem bases militares e, sorrateiramente, dão o bote. Nada se pode afirmar sobre o "cinturão", mas deve-se acompanhar os atos e passos militares cautelosamente. ELIAKIN : O Exército brasileiro deveria esclarecer sobre o "cinturão" que cercou os militantes da Guerrilha do Araguaia. Estudos do Exército deveriam esclarecer o paradeiro dos milhares de desaparecidos durante a ditadura. Já é nossa velha conhecida essa lorota de que os americanos vão tomar a Amazônia. O que ameaça a Amazônia é a corrupção, o desmando, o desvio de verbas, as falcatruas estatais. Os Estados Unidos não são a nossa principal ameaça. Quem nos ameaça são maus brasileiros, traidores, inescrupulosos. Apontar para os americanos é uma maneira cínica de desviar a atenção da verdadeira ameaça. FB: E sobre as outras missões estrangeiras que atuam na região em nome da religião, da defesa dos índios e do meio ambiente, o que se pode esperar? ELIAKIN: Há missões estrangeiras no mundo todo, a maioria realizando excelentes trabalhos humanitários. Aqui na Amazônia brasileira, qualquer pessoa ou organização que defenda os índios e o meio ambiente é imediatamente considerada persona non grata. Aqui em Boa Vista é comum encontrarmos muros pichados com: Fora Funai! Fora Ibama! Fora Polícia Federal! Fora Ongs! Fora Incra! Quer dizer, fora estado de direito, fora Constituição. Se não fossem essas Ongs, missões e organizações que defendem os índios e o meio- ambiente a matança e a depredação seriam maiores. FB::Aroldo, sobre as missões estrangeiras, entre a militar e as de proteção ambiental e de minorias (índios), qual ou quais podem implicar em alguma ingerência no governo brasileiro? AROLDO: Penso que as missões de proteção ambiental e de minorias são as mais preocupantes. As missões militares são regidas por acordos e normas preestabelecidas; as de "proteção" agem em liberdade quase total e a fiscalização de suas atitudes é precária. FB: Já é comum assistir na TV desenhos animados apresentando a devastação na Amazônia. Isso não seria uma espécie de preparação das futuras gerações informando que a região não é bem cuidada? ELIAKIN: Não sei se os desenhos animados sobre a devastação da Amazônia servem para preparar as futuras gerações para o perigo que corremos. Creio que devemos preparar as gerações presentes e não só as futuras sobre o que é desenvolvimento sustentável, preservação ambiental, incluindo aí a questão da água. Se os desenhos estão preparando esta consciência, ainda bem. Mas não devemos temer os desenhos nem podemos esperar que eles, sozinhos, façam a cabeça das futuras gerações. Temos que tomar a dianteira e educar as crianças e os jovens da Amazônia para a importância da nossa região para o equilíbrio do planeta. Não estamos cuidando bem da Amazônia e muitos ficam buscando causas externas para justificar a incompetência do governo brasileiro. Não vamos mudar nada, dando socos para o ar. AROLDO: Um posicionamento sobre assuntos que desconheço seria, no mínimo, leviano. Nunca assisti a nenhum desses desenhos; na verdade essa é primeira vez que ouço a respeito. Prefiro me omitir.
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