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ORÁCULO

A VIÚVA QUE CHORAVA DEMAIS - Parte V


A VIÚVA QUE CHORAVA DEMAIS
    JOBIS PODOSAN

PARTE V



Parecia que a vida estava complicando as coisas para mim ou testando os meus objetivos para verificar se eram de cimento ou de barro comum. Todavia, novamente o destino interveio a meu favor. Nas eleições de 1982, fui designado para ser delegado especial nos Municípios de Santa Luz e Queimadas, no interior baiano. Foi uma experiência singular, pois iria tratar com políticos velhos e viciados em tentar viciar as eleições. No retorno, deveríamos todos os delegados especiais, entregar o relatório da atividade ao Coronel Ajudante-Geral da Corporação.

Quando ele me olhou, perguntou:

Você não é o aluno que deixou o boletim cair no chão, quando estava no curso preparatório, no Colégio da PM, quando eu era subcomandante?

Sim senhor. Mas tenho outra versão: na base da escada entreguei o boletim nas suas mãos. O senhor, à medida que lia o boletim, subia as escadas e jogava as páginas no chão, volteando escada a abaixo e eu entendi que o senhor as estava descartando e que a partir dali o trabalho era do pessoal auxiliar, pois eu estava no curso preparatório para ser Oficial da PM e não para ser faxineiro.

Você lembra como eu reagi?

Sim, o senhor sorriu levemente e me disse: boa resposta. Chame o pessoal da faxina, mande catar as páginas do boletim, as arrume e me entregue no gabinete. É por isto que estou lhe convidando par a ir para a Academia, pois vou ser designado para Comandá-la.

Novamente convidado e novamente aceitei o alvitre, trabalhar na Academia era sonho comum a todos os oficiais da PM, porém, pensei: a dificuldade para estudar continua a mesma, o sonho de cursar Direito estava cada vez mais distante. Tornei-me, surpreendentemente, amigo do Comandante e um dia, lhe contei a história do meu sonho. Lá para as quantas, ele me disse, você vai estudar Direito. Vou lhe botar numa função na qual você poderá desempenhar seu trabalho fora da rotina do horário escolar. Fui nomeado para a função de Chefe da Seção Técnica de ensino e finalmente pude estudar Direito e me formar, porém, durante o curso na faculdade, morreram meu pai e minha mãe e eu perdi os dois principais incentivadores da minha história.

Porém, afinal, formei-me em Direito e podia correr a atrás do meu sonho. Mas apareceu outro problema: na época, a Bahia tinha um “dono” e ele controlava os três poderes e eu não queria ser juiz manietado por uma força estranha à lei.

E a carreira na PM foi seguindo adiante. Eu já era Capitão há um bom tempo e chegou minha vez de fazer o curso que me habilitaria a ser oficial superior. Matriculei-me no curso e voltei à Academia para estudar. Era o ano de 1991. O curso de aperfeiçoamento estava perto do fim quando abriu concurso público para a magistratura num dos Estados da Região Norte e os jornais anunciavam o concurso para breve.

Resolvi tomar a decisão que parecia tresloucada. Vou ser juiz lá no Norte. Radicalizei. Pedi desligamento do curso de aperfeiçoamento.

O Comandante-geral de então tentou me demover da intenção de sair da PM, mas eu lhe contei minha história e meus propósitos e ele aceitou dando-me um conselho: vá e não volte

Parti e fui aprovado no concurso, que tinha somente 06 (seis) vagas, mas eu só precisava de uma e tomei posse como Juiz de Direito no dia 22 de dezembro de 1991.

Na verdade, as coisas estão contadas como uma crônica, sendo evidente a falta de detalhamento, muita coisa omitida, coisas que talvez desafiem obra de maior fôlego. Porém a minha história seria apenas a narrativa das histórias de todos nós, sem singularidades

A minha história, que teve origem na viúva que chorava demais, teve, ao longo da minha vida, múltiplos participes, todos como atores principais. Sem a viúva, eu não sei aonde iria e sem os múltiplos atores que intervieram na história, não haveria esta narrativa. Eu cheguei onde me prometi chegar, mas nunca sem eles, os mencionados e outros que também tiveram importante papel nos eventos narrados. 

Houve muito querer bem nessa caminhada.

O resto é outra história.

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