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ORÁCULO

Foi ela quem deu a partida na minha vida.


A VIÚVA QUE CHORAVA DEMAIS
JOBIS PODOSAN
PARTE IV

Lembram da viúva que chorava demais? Chamava-se Emília. Pois é. Foi ela quem deu a partida na minha vida, como se lê nas partes anteriores desta crônica. Foi através dela que eu vi uma juíza pela primeira vez na vida e, a partir daí, encetei minha caminhada. Naquele longínquo ano de 1958, dia do julgamento dela por ter ajudado a matar o próprio marido, tomei a decisão de me tornar juiz, antes mesmo de entrar na escola primária, primeiro degrau da vida escolar, pois não havia escola para crianças menores de 7 (sete) anos, como hoje tem, com as crianças indo à escola ainda de fraldas.

Pois bem, a promessa feita a mim mesmo de que ainda seria um Juiz de Direito e que provocou risos, deboches até, agora parecia que ia se materializar. Parecia que eu já tinha encontrado o caminho para o objetivo sonhado.

Terminado o curso preparatório, fomos para a Academia de Polícia Militar, onde estudaria para ser oficial da Corporação, o que já era um feito e tanto para o menino de Central, então distrito de Pojuca. Emprego permanente, carreira garantida, talvez até o posto de Coronel

O curso foi uma apoteose pra mim, estudava muito e me divertia a valer, tendo terminado o curso em terceiro lugar, numa turma de 65 (sessenta e cinco, sendo 35 (trinta e cinco) da Bahia e o restante de outros Estados da federação). Felicidade e júbilo na família, festas e grandes alegrias. Terminado o curso e formados em 17.12.1976, nos apresentamos no Quartel do Comando-Geral-QCG, no dia 26 seguinte para sabermos qual o nosso destino. Esperávamos que pelo menos os 15 (quinze) primeiros colocados ficassem em unidades da Capital, como era praxe nas turmas anteriores. No Salão Tiradentes, reunimo-nos com o Coronel Edson Franklin de Queiroz, Chefe do Estado Maior (hoje seria Subcomandante-Geral), figura de enorme destaque na Corporação. Moreno e manso, fora nosso professor da Academia e era por todos nós admirado.  Jovens e idealistas, estávamos prontos para mudar o melhorar o mundo ou, ao menos, a Corporação que nos acolheu.   

O Coronel começou a chamar os aspirantes, por ordem de classificação. De repente, uma cabeça branca apareceu na porta e interrompeu a chamada e deu uma nova ordem: ninguém dessa turma ficará na Capital, vão todos para o interior, seis para cada batalhão e o restante para Barreiras. Disse e saiu, provocando um turbilhão no Salão. Revolta, choro e ranger de dentes, ululava a indisciplina! Agitação tão frenética que esquecemos a presença do número 2 na hierarquia da PM que, imperturbável, esperava o fim da algazarra.

Enfim a disciplina nos chamou à razão e silenciamos. 

— Este é o momento de provarmos a disciplina e o respeito à hierarquia, bases da nossa Corporação.  Primeiro colocado, pode nos dizer o conceito regulamentar de disciplina?

— É a obediência pronta as ordens dos superiores, respondeu Dalton, na ponta da língua.

— Quem deu a ordem poderia dá-la?

— Poderia, respondemos todos.

— Então não há o que discutir, mas cumprir.

Retornou à lista, lembrou os Batalhões do interior e reiniciou à chamada. Os dois primeiros responderam que iriam para Feira de Santana, cidade mais próxima da Capital. Era minha vez, que, também, escolhi Feira de Santana. Nesse momento entra na sala um Tenente Coronel, que fora nosso comandante da Academia e dirigindo-se ao Chefe do Estado Maior, disse:

— Fui designado para comandar o 4º Batalhão, que tem sede em Alagoinhas e o Comandante-Geral me deu carta branca para escolher seis aspirantes, independentemente da ordem de classificação para irem comigo, consertar aquela unidade. E citou os nomes escolhidos, eu inclusive. Três fatores me influenciaram a aceitar o convite (a ordem): 1) proximidade da minha cidade Natal; 2)  a admiração que nutria pelo novo comandante; 3) se tem de ir, é melhor ser convidado que mandado.

E lá fomos nós para o interior, onde permaneci até o final do ano de 1980 e meu projeto de estudar Direito parecia distanciar-se de mim.

No final do ano citado, foi presidir o Conselho de Administração do Batalhão, o Major que comandava o CFAP, em Salvador (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças), que tinha sido meu professor de Guerra Revolucionaria na Academia. Ele lembrou de mim, na verdade, de uma prova na qual obtive a nota máxima e me perguntou se eu gostaria de serviu sob seu comando no CFAP. Novamente, a vida soprando a meu favor. Ele falou com o novo comandante do Batalhão (o anterior foi promovido a coronal e retornou à Capital e o novo não me liberou, naquele momento). Obtive a transferência para a nova Unidade. Fui para a Capital. Porém, um novo problema de apresentou para mim: nas duas universidades que tinham o curso de Direito à época, o curso em ambas funcionava pela manhã. Mais uma impossibilidade. Era preciso mais paciência e resiliência para aceitar os acontecimentos da vida, Eu estava buscando e quem busca acaba encontrando o que procura, eram apenas obstáculos para testar os meus planos.

A hora chegaria.

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