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ORÁCULO

Aconteceu na minha terra natal um crime jamais lá imaginado!


A VIÚVA QUE CHORAVA DEMAIS
            JOBIS PODOSAN
                 PARTE I

 

Primeiro o problema: fui morar na Capital, num bairro pobre, atrás de um sonho. Queria estudar no CPM - Colégio da Polícia Militar - a fim de entrar na PM, visando a conseguir as condições de entrar na Escola de Formação de Oficiais para, a partir daí, conquistado o oficialato, estudar Direito e, depois, realizar meu sonho de menino de seis anos de idade e ingressar na magistratura. Era um projeto de longa duração e um sonho e tanto!

Primeiro o que veio primeiro.

Em 1958, aconteceu na minha terra natal um crime jamais lá imaginado! Um homem, trabalhador rural, foi encontrado morto pela esposa num galpão fora de casa, com a cabeça aberta ao meio, por uma única machadada. Desespero geral na cidade que jamais tinha visto um crime tão bárbaro. Consternação geral, pois o falecido era por todos conhecido e, todos os sábados, estavam, ele e a mulher, na feira da cidade, mercadejando suas mercadorias.

O delegado da cidade era um capitão da PM, amigo do meu pai e meu professor no ginásio e teve participação ativa e decisiva nos acontecimentos da minha vida. Feita a perícia, o agricultor foi enterrado. Chamou a atenção de todos o desespero da viúva, que não parava de chorar, sendo amparada por todas as senhoras que acompanhavam, compungidas, o féretro a caminho do cemitério. O Delegado iniciou as apurações para encontrar o assassino. Primeiramente, começou a ouvir os depoimentos dos feirantes e dos fregueses para ver se encontrava o autor desse crime terrível (hoje se diria hediondo). Ninguém sabia de nada, mas um fato chamou a atenção do Delegado: no dia do crime a esposa do falecido estava muito solícita com ele, não reclamou, como sempre fazia, das escapadas dele para tomar uma cachaça, hábito nela comum. No dia do fato, ela estava compreensível e amável com o marido, tendo chegado a comprar uma garrafa de cachaça para que ele não precisasse sair para beber. Satisfeito, o marido era só sorriso, pois aquelas cachaças aos sábados eram a sua única distração, o resto era trabalho duro na roça.

O Delegado dava tratos à bola e não conseguia encontrar o fio da meada. Tudo caminhava para a hipótese de crime insolúvel. A perícia constatou que o crime fora cometido por um homem, pois uma mulher jamais abriria em bandas uma cabeça de homem, pois era necessária muita força e com o machado afiado para conseguir, num único golpe, abrir uma cabeça humana, sendo certo que o assassino era um homem forte e habituado a usar o machado. A viúva foi descartada como a autora material do crime. Porém, quem dera a machadada?

O Delegado reconvocou a viúva e ouviu novamente a sua versão dos fatos. O falecido chegou em casa e foi imediatamente dormir, sob efeito da garrafa de cachaça, que entornara toda. No meio da noite, não estando ele na cama, saiu a procurá-lo e não o viu em casa. Saiu ao pátio para procurá-lo e o encontrou morto e com a cabeça aberta, uma cena difícil de se ver. Gritou por socorro, mas as casas eram distantes, tendo ela corrido à mais próxima e dado o alarme. Espalhada a notícia os vizinhos acorreram, socorreram a viúva e um deles foi chamar o Delegado. Essa versão era a mesma já tomada nos depoimentos anteriores, com uma diferença: a viúva continuava chorar ininterruptamente. O Delegado começou a suspeitar que a viúva sabia mais do que dizia. Meu pai contestou essa versão, ele também já fora delegado. Mas o Delegado continuava a achar que havia desespero demais. Os feirantes ouvidos diziam que todas as semanas o casal brigava e a mulher ficava irada com ele, as vezes necessitando a intervenção de algum freguês para acalmar os ânimos. Mas no dia do crime ela era só solicitude, tendo inclusive, ela própria, comprado a garrafa de cachaça coma qual o marido se embebedara.

Tem gato na tuba - refletia o arguto Delegado - essa viúva está chorando demais! É muita lágrima para um casal que vivia às turras. Eram lágrimas de gente apaixonada. Não combinava com o perfil dela. Não terá sido roubo? Aventada meu pai. Não. Nada fora roubado. O objetivo do assassino era matar o dono do sítio, retrucava o delegado. Vamos esmiuçar para ver onde chegamos.

 

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