- 18 de junho de 2025
PUREZA APARENTE
JOBIS PODOSAN
Desde a redemocratização vimos elegendo candidatos à Presidência da República que apresente, comparativamente, o menor grau de impureza ou que melhor maneje a opinião pública apresentando-se como puros de ou menos impuros. A experiência e a competência de fazer o que prometem não preocupam o eleitorado, que se magnetiza mais com as palavras que que com o currículo dos candidatos.
Na verdade, o governo é apenas um dado na formação de um país. Roma teve imperadores inúteis e daninhos, bastando citar Nero e Calígula. Aqui e ali surgia um Trajano, um Adriano, um Tito, um Antonino ou um Marco Aurélio que salvaram o império em seus reinados fazendo-o durar o que durou. A construção do Brasil tarda, porque elegemos e reelegemos inutilidades evidentes, que a mais mínima observação nos diria que não podemos avançar com tais lideranças de barro. Por isto, porque não sabemos ou ainda não aprendemos a escolher é que temos que desvencilhar o Brasil dos seus governantes, como grandes setores da sociedade estão fazendo. Devemos seguir em frente, apesar deles.
Se você quer verdadeira e ardentemente alguma coisa empenhe-se nessa busca de tal maneira que o universo tenha de atender a esse desejo, porque ninguém vai fazer isto por você. Não espere pelo governo, governe a sua vida e você estará ajudando o Brasil a se desenvolver.
Uma boa forma de cuidar do presente e se preparar para o futuro é da uma volta ao passado, buscando as experiências bem sucedidas e os exemplos, sobretudo morais, dos nossos antepassados.
Tomemos um de Tomás de Aquino, sobre o Boi que Voava:
Conta-se na ordem de São Domingos que, certa vez, estando São Tomás de Aquino em sua cela no convento de São Jacques, estudando e trabalhando sobre obscuros manuscritos medievais, entrou de repente um frade folgazão que foi logo exclamando com escândalo:
– Vinde ver, irmão Tomás, vinde ver um boi voando!
O grande doutor da Igreja, muito serenamente, ergueu-se do seu banco, saiu da cela e, dirigindo-se ao átrio do mosteiro, se pôs a olhar o céu, com a mão em pala sobre os olhos fatigados do estudo.
Ao assim o ver, o frade jovial desatou a rir com estrépito.
– Ora, irmão Tomás, então sois tão crédulo a ponto de acreditardes que um boi pudesse voar?
– Por que não, meu amigo? – tornou o santo.
E, com a mesma singeleza, flor da sabedoria, completou:
– Eu preferi admitir que um boi voasse a acreditar que um religioso pudesse mentir.
Nós, aqui no Brasil, ainda estamos vivendo a crença de que o boi pode voar, que é possível tirar água do poço seco, que o maior dos sábios é aquele que nada sabe, mas pensa que sabe tudo! (na verdade, o sábio é aquele que pelos estudos, por mais que aprenda, descobre que nada sabe).
Já escrevi alhures:
Aqui no Brasil a independência foi um grito, a república foi um gesto, a dita revolução de 30 foi uma desavença sobre a partilha do poder, quando Washington Luís, quebrando a alternância da política Café com Leite, impôs a nome do paulista Júlio Prestes, quando Minas entendia ser a vez do mineiro Antônio Carlos de Andrada, do que se aproveitou Getúlio Vargas para tomar o poder. Em 1937, a 10 de novembro, Getúlio sacou uma constituição do colete e a impôs ao Brasil derrubando a constituição de 1934, obra de uma Assembleia Nacional Constituinte, dando nosso primeiro Auto-Golpe, fechando o Legislativo e manietando o Judiciário à sua vontade. Derrubou seu próprio mandato, que terminaria e 1938 e concedeu-se outro que duração indeterminada, definiu-se como Chefe Supremo da nação, até que foi derrubado em 1945. Em 1964 o nome povo foi também invocado para o golpe de 31 de março, fazendo o país acordar em primeiro de abril (dia da mentira), com um novo governo, sob a égide da força, instaurando o governo militar, que teve seu final em 1985. Não tivemos revoluções no Brasil, jamais o povo foi organizado por um ideário de um líder carismático para alterar o poder e toma-lo sob novas ideias. O dado mais presente nas movimentos políticos brasileiros para a tomada do poder absoluto foram: 1) o fechamento do legislativo; 2) o controle do poder judiciário, este materializado na alteração do número de ministros da corte suprema, cassação de ministros e supressão da apreciação de certos atos do poder executivo, havendo agora a tentativa de desmoralização dos integrantes da cúpula do poder judiciário, minando o poder de decidir dos juízes, que não sabemos onde vai dar; e 3) controle e censura da imprensa que todos adoram na oposição e odeiam quando situação.
Vemos, agora, certos movimentos ou movimentos certos visando a alcançar objetivos ilegais por caminhos travessos: desmoralização da Justiça Eleitoral e da justiça de um modo geral, ações visando a desmoralizar potenciais candidatos, já lançados, como Ciro Gomes e João Dória, santificação do filho do presidente, aproximação contraditória com a Rússia, quando o mundo todo se afasta dela, por estarem vendo o Putin, querendo enfrentar mundo numa guerra talvez nuclear, recrudescimento de ataques ao combate à epidemia da COVID 19.
Enfim, há um esboço de ações autoritárias visando à perpetuação do poder, cuja armas principais são a distorção e da verdade e a fortalecimento do viés ideológico, à direta e agora com acenos à esquerda, a fim de justificar um golpe, tendo como motivo as urnas eletrônicas, que serviram para a conquista do poder, mas não servem para a perpetuação, acreditam, num Trumpismo tropical: se o presidente não se reeleger, houve fraude e golpe.