- 18 de junho de 2025
RECORTES DA VIDA II
JOBIS PODOSAN
O QUE AINDA TEMOS
Após o nascimento, vamos, aos poucos, adquirindo mais e mais habilidades. Vamos usando essas habilidades para sermos pessoas de sucesso ou um fracassado voluntário. A vida nos dá segundo os nossos pensamentos e nossas ações. Fracassamos quando decidimos fracassar, consciente ou inconscientemente. Vencer é uma decisão consciente e positiva, estabelecendo os objetivos e os alcançando, mais lentamente os que nascem em lares pobres, e mais rapidamente os que nascem em lares ricos. A luta, aparentemente desigual, não garante o sucesso àqueles mais afortunados. O rico pode fracassar e o pobre, vencer. Os ricos têm mais seduções imediatas que os pobres e tendem a relaxar porque não há o que conquistar ou por quê lutar, pois o sonho de ser e ter estão realizados, resultando ser inútil despender esforços para ter o que já se tem ou ser o que já se é. Apesar de ser equivocado esse pensamento, nem os pais e nem os filhos percebem que, cada um, temos caminhos e destinos diferentes, independentemente da fortuna acumulada pela geração anterior. Nossos filhos não são nossos filhos, são filhos da ânsia da vida por si mesma, como nos ensinou Gibran em O Profeta. Valor não se transmite, se ensina, mas o aprendizado fica por conta do aluno. É menos surpreendente o filho de pobre ficar rico do que o filho de rico continuar rico, ao menos é isto que a experiência ensina, havendo poucos cuja riqueza alcance a terceira geração que, geralmente, tem pouco a dilapidar. Evidentemente, que há as exceções, poucas e apenas confirmar a regra. Conta-se que certo empresário estava, na presença de um dos seus filhos, que o ajudava na administração dos negócios, discutindo com um mascate sobre a compra de um corte de tecido para fazer um terno novo. O empresário dizia que não compraria porque não havia tecido preto, a cor de sua preferência para seus ternos. A discussão entre o empresário e o mascate prolongava-se por algumas horas, nenhum deles dando-se por vencido, quando o filho interveio e disse, algo chateado: pai, pare com essa discussão, compre logo esses tecidos todos e despache esse mascate insistente! O pai olhou para o mascate e para o filho e disse: meu filho, você é filho de rico e pode desperdiçar dinheiro ganho com o esforço dos outros. mas eu ganhei cada centavo com o suar do meu rosto e não jogo nenhum deles fora. Uma fortuna se constrói centavo por centavo e, quem lutou para ganhar, não os desperdiça!
O TRIBUTO DA ESPERTEZA
O governo não é o produtor da felicidade, ele apenas possibilita o encontro de cada um com a máquina econômica funcionando a pleno vapor. Tudo depende das empresas e das pessoas que nelas trabalham, que tornam a economia saudável e gera as receitas através das quais os governos instituem os serviços públicos que facilitam, aos mais pobres, entrar na roda da fortuna que eleva o ser humano e o faz melhorar e, até, ajudar, pela solidariedade, alimentando a crença de que o sonho é possível. É fundamental, porém, se acreditar que só existe um caminho possível para melhorar e vencer de modo útil: seguir as regras que a todos submete e agir honestamente. Se alguém pretende vencer violando as regras que a todos submete, estará plantando em terreno infértil e, via de regra, têm um enganoso lucro imediato, mas as agências policiais reguladoras logo lhes baterão nas portas e os expulsarão do jogo, segundo a lição de BUFFETT. Quando, num determinado país, se estabelece a esperteza, gananciosos passam a agir às margens das regras que a todos subordinam e têm uma resposta de lucro imediato, porque o processo de descoberta, apuração, julgamento e punição de crimes, são etapas lentas, o que leva esses supostos espertos a entender que o crime compensa. A vitória é apenas uma possibilidade para aquele que tem uma vontade inquebrantável de vencer, em superar as dificuldades que à maioria desestimula. Optam, como a raposa da fábula de LA FONTAINE, a dizer, quando seus intentos fracassam, que as uvas estavam verdes e por isto não mereciam o esforço para alcançá-las. Não existe receita para vencer, geralmente isto envolve uma série de circunstâncias com resultados apenas previsíveis, mas que os assegura, a depender das ações positivas dos esforçados. A força inecessária ao sucesso é atributo de cada pessoa. Aqueles que resolvem atravessar a correnteza a nado alcançam, na margem oposta, o sucesso esperando. Mas os que menosprezam luta, achando que não vale a pena tanto esforço, sentam-se no berço dos acomodados e vão, pela vida agora, reclamar da aposentadoria ou a entrar na fila dos necessitados, esperando que o Estado, com o fruto do trabalho dos outros, venha a lhes prover as necessidades básicas, reclamando da sua insuficiência. Recebem, com desdém, aquele pouco que deveriam ter vergonha de receber.
ESSA TAL DEMOCRACIA
Tradicionalmente, a democracia tem como fundamento a prevalência da vontade popular. Não é necessário para se reconhecer o regime democrático que a vontade popular seja unânime ou exija maioria qualificada para ser reconhecida. O regime democrático se satisfaz com a opinião da maioria simples, até porque a democracia é tanto mais forte quanto mais frequente seja o debate e este exige ideias opostas às do governo eleito e em ação. Assim, é conveniente que a maioria esteja no governo e a minoria na oposição. Assim, o governo, que administra os meios, tem sua atuação sob a fiscalização da oposição, cabendo àquele aplicar os recursos e a esta fiscalizar essa aplicação. A oposição, que por definição não aplica recursos, por não administrar o erário, tende a exaltar a virtude e o governo tende a exaltar as suas realizações e, assim, se realiza e efetiva a liberdade do cidadão. Somos os únicos animais que, dotados de livre arbítrio, podemos ser bons ou maus, segundo a escolha livre e consciente de cada um. Podemos, por exemplo, tirar um tanto do que temos para ajudar a alguém que menos tem. Por outro lado, somos também capazes de subtrair essa doação da mão de dois velhinhos que a receberam e, ainda, espancá-los, até matá-los, se resistirem. Fazer o bem dá trabalho e fazer o mal, para alguns, dá prazer. O problema são as curvas da vida, que cobram a conta dos males que fazemos.
TIRANDO OS EXCESSOS
Ao ser perguntado sobre como fizera a escultura de Davi (com quase 4,5 metros em um só bloco de mármore, guardada na academia Artes de Florença), Michelangelo disse: "Foi fácil, fiquei um bom tempo olhando o mármore até nele enxergar o Davi. Aí peguei o martelo e o cinzel e tirei tudo o que não era Davi!" Talvez um Michelangelo nos faça falta no Brasil, alguém que saiba tirar os excessos e nos deixe apenas com este país de sonho que, tendo tudo para dar certo, sofre nas mãos de governantes horrivelmente escolhidos, que transformam este país de abundância numa sociedade de escassez. Temos em teoria todos os componentes de um Estado fadado a ser promissor, mas que não consegue escolher governantes que não vão, no final, bater com os costados na cadeia ou no ostracismo.
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