- 18 de junho de 2025
DE QUEM SÃO OS NOSSOS FILHOS
JOBIS PODOSAN
Dada a repercussão do artigo da semana passada, continuamos no mesmo tema.
O ensinamento de Gibran, bem expresso no texto abaixo, extraído do livro O Profeta, nos mostra em toda a beleza da sua construção, como devem pensar e agir os pais em relação aos filhos para fazê-los pessoas do bem. Filhos não são animais de estimação que podemos fazer de tudo com eles porque eles não mudam e nem evoluem. Com os filhos é diferente, nascem totalmente dependentes, vão adquirindo paulatinamente a independência, passam, em breve tempo, de absolutamente incapazes a relativamente capazes entre os 16 e 18 anos e a partir dos 18 são absolutamente capazes para praticar todos os atos da vida civil e aptos a assumir as consequências desses atos. As gerações se sucedem e a anterior vai modulando a forma de agir da seguinte. Quando a geração anterior trata os filhos como se fosses seus e imagina que nunca vai perdê-los, temos uma solução de continuidade entre essas gerações, porque a anterior chamou para si todas as obrigações e depositou na outra somente os direitos. Os mais antigos diziam que” criamos filhos para o mundo e não para nós”. Poupando-os de cometer erros - e de aprender com as lições da experiência – a geração protetora inutiliza os filhos para a luta da vida, dando-lhes o que tem, o que não tem e depois fica revoltada quando, não podendo dar o que os filhos querem – porque não há limite no querer – sentem-se culpadas e na obrigação de entender qualquer diatribe que os filhos cometam. A geração protetora não distingue no processo educativo, a diferença entre necessidades e desejos, atendendo a estes como se fossem aquelas.
Do texto de Gibran, podemos extrair a existência de três gerações: a protetora, a protegida e a redentora. Estas três gerações são resultado de uma geração entender, equivocadamente, que seus filhos são seus para sempre. Quando isto acontece, a geração protegida fica despreparada para a vida e seus filhos tâm de retomar o caminho correto, pois a proteção absoluta que os pais conferem aos filhos tem tempo determinado e não pode exceder à infância (até os 12 anos), tornando-se rarefeita na adolescência e se extinguindo na idade adulta (18 anos). Pais ajudam os filhos, mas a obrigação de fazê-lo se extingue, salvo se forem jurídica ou fisicamente incapazes. Vamos ouvir Gibran:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força
Para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como ele ama a flecha que voa,
Ama também o arco que permanece estável.
A GERAÇÃO PROTETORA
A geração protetora, que se apossa dos filhos como se fossem seus, desprotege a geração protegida com excesso de proteção, formando os filhos para os problemas serem resolvidos pelos outros e, quando adultos, esses filhos não conseguem resolver seus próprios problemas, por menores que sejam. São meninos e meninas criados na bolha da ilusão e não sabem respirar fora dela. É de felicidade plena para a geração protetora o crescimento dos filhos, que são criados como animaizinhos de estimação, que nunca fossem crescer e assumir seus destinos. Nessa fase de só amor reside o erro da geração protetora, que responderá por ela pelo resto das suas vidas.
A GERAÇÃO PROTEGIDA
O modo de agir da geração protetora tem como base a subtração das consequências dos atos livremente praticados pelos filhos e afastar todo sofrimento das suas vidas, transformando os filhos em verdadeiros mandriões.
A geração protegida também tem participação decisiva nos males sociais, até no tráfico e uso de drogas, porque o consumo se concentra nela. Os ricos que consomem drogas não alimentam significativamente o tráfico, primeiro porque são poucos e depois porque fazem tratamentos caros e com o tempo se livram do vício.
Com isto, a geração protegida não aprende o valor do próximo e recusa as lições da experiência, passando a sofrer de analgesia moral, sequer os próprios pais a geração protegida respeita ou ama, porque a geração protetora não lhe deu a alternativa do não. Não há amor na educação baseada somente no sim. O não sozinho também não ensina, magoa. Mas o sim e o não, cada um no seu momento, forja o bom caráter e incentiva solidariedade que nos humaniza para a cooperação, amando o próximo como a nós mesmos.
Para a geração protegida nada é suficiente, mesmo os pais não têm serventia quando não podem atender aos seus reclamos por coisas, geralmente inúteis. São capazes de usar linguagem chula contra a própria mãe, esquecidos ou não lembrados, do quão sagrada é - e deve ser - a relação entre mãe e filho, sendo cada filho o efeito de que a mãe é causa. Nada é mais odioso ou provoca tantas desgraças quanto as ofensas arrogadas pelo filho contra a mãe. O filho que esquece esse dever de amor e gratidão jamais merecerá a confiança de ninguém, pois ninguém vira herói desrespeitando a própria mãe, sendo, ao contrário, objeto de desprezo de quantas pessoas o conheçam. Esse tipo de filho ainda não percebeu que a casa da mãe é a única cuja porta jamais se fecha. Enquanto existir, a mãe é sinônimo e garantia de amor. Também está no inconsciente coletivo e na escala de valores que no extremo das pessoas ruins estão os que são capazes de bater na mãe, xingar a mãe, insultar a mãe, não defender a mãe, falar mal da mãe, permitir que falem mal da mãe. O indivíduo que desce tanto na escala axiológica, não merece a admiração de ninguém, são em geral desprezados e banidos do meio social. Recentemente um homem de 43 anos foi condenado, pela justiça do Distrito Federal a quase 6 anos de reclusão por ter chamado a mãe de "velha safada". Tal indivíduo sofrerá na cadeia, pois nem o mais empedernido criminoso tolera ofensas à mãe. Depois de cumprir a pena estará definitivamente marcado a ferro: desrespeitou a mãe, afastem-se dele! Maria teve vários filhos (pesquisadores apontam pelo menos mais quatro: Tiago, José, Judas e Simão), sendo um deles Jesus, porém Maria se multiplicou em centenas, milhares, milhões de Nossas Senhoras, de tal modo que em cada mãe reside uma.
GERAÇÃO REDENTORA
A proteção que se dedica aos filhos evolui de integral nos primeiros anos de vida e vai diminuindo à medida que eles crescem e andam e tomam pequenas decisões. Precisam, desde cedo, aprenderem as consequências dos seus atos, até chegarem à maioridade, quando a proteção deve desaparecer e ser substituída pela ajuda ocasional, sob o princípio de que quem ajuda faz a menor parte. Os filhos ainda podem contar com os pais, mas a responsabilidade é de cada um. Quanto menos precisar, melhor filho será. Será melhor ainda se parar de buscar e se aproximar para ajudar e proteger os velhos país, dando-lhes até a proteção integral, que recebeu na infância, se a vida o exigir. A geração redentora nascerá nas casa da geração protegida e perceberá o mal que os avós fizeram aos seus pais e começarão a reconstrução.
Esta geração redentora voltará a perceber que os nossos filhos não são nossos filhos, são filhos da vida por si mesma, vem de nós mas não nos pertencem.