- 18 de junho de 2025
O COMEÇO DA VIDA
JOBIS PODOSAN
Vamos descansar um pouco dos artigos político/jurídicos e falarmos de algo mais ameno e tocante à vida de cada um de nós, viventes deste pais, que temos, independentemente do Estado e dos governos, que viver a vida que Deus nos deu, tornando-a útil e produtiva pelos nossos esforços e talentos, na busca da nossa felicidade, sem depositarmos todas as fichas em A ou B, só porque tais pessoas estão em cargos públicos importantes e parecem dirigir as nossas vidas. Na verdade quem está dirigindo as nossas vidas somos nós mesmos, se o Estado e o Governo não atrapalharem, já ajudam muito. Porém, como os governantes passaram a encarnar a razão da nossa luta, passamos a esperar que tudo venha deles, esquecemos a luta pela nossa própria vida e a razão do fracasso passou a nos parecer óbvia: se não vencemos, a culpa é do governo. Não é, nunca foi e nunca será. Somos nós os lenhadores dessa obra, nossa vida vai para onde a levarmos. Havendo algum incentivo do governo, utilizamos, mas se não houver, vamos em frente, apesar disso. Por que depositarmos em alguém, igual a nós, os nossos destinos? Nasceram com dois cérebros ou quatro braços? Ou nasceram como nós, a maioria em lares pobres, que, para chegarem lá, tiveram que atravessar os seus Rubicões? Eles é que necessitam de nós, do nosso voto, nós de nada deles necessitamos, apenas que não nos atrapalhem na nossa via escolhida. Aliás, quem quiser fracassar um bom caminho curto é por a vida nas mãos de governantes. Toda vitória aqui é aparente, porque temporária, pois hoje é José e amanhã é João e seu protetor passa a ser sua desgraça, salvo se você entrar no setor público por concurso, mas aí você dependeu de si mesmo e não das mãos nem sempre limpas de alguém que decretou a sua falência mental e substituiu a sua cabeça pela dele. Quando a cabeça dele rolar, a sua vai junto. É tudo, enfim uma questão de escolha.
E aqui reside o problema, na escolha do caminho.
Em 2019, a expectativa de vida dos brasileiros era de 76,6 anos, mas para os fins deste artigo, vamos arredondar para 77. Pergunto: a partir do nascimento, até quando estamos entrando na vida? Estivéssemos num túnel, a pergunta seria, até que ponto do túnel estamos nele entrando? Num ou noutro caso a resposta é a mesma: na vida ou no túnel, só estamos entrando até a metade, pois da metade em diante estamos saindo. Considerando que nossa vida média é de 77 anos, estamos entrando na vida até 38,5 anos, e, daí em diante, estamos saindo. Seguindo essa lógica, até a metade da vida nós temos que ter tomado todas as decisões fundamentais que regerão a nossa vida toda. Escolha da profissão, trabalho efetivo, família (saindo da de origem e começando a nossa própria), residência, preferências diversas. Não se pode guardar para a saída, o que deve acontecer na entrada da vida.
A vida só começa de zero uma vez, todo o resto é consequência dos atos antecedentes praticados. Toda segunda chance sofre as influências e consequências da primeira chance. A sua vida está no seu controle como se você estivesse segurando uma bola de boliche e a atirasse para derrubar as garrafas. Você não fica a vida inteira tendo chances de derrubar as garrafas. Há um tempo para isto. Quando mais cedo você aprender a fazer o arremesso definitivo, mais cedo você vence na vida. Não se engane com a mentira difundida por fracassados dizendo que "você é jovem e tem a vida inteira pela frente". Quanto mais cedo você derrubar as bolas mais perto da vitória você estará. Após os 40 anos você ainda é jovem. Mais para quê? Para ser Papa, por exemplo! Porém, para ser Papa, você terá que ser antes Padre, Bispo e Cardeal e para chegar a esses lugares há muito esforço a se fazer e ninguém poderá fazê-lo por você. As portas da vida se abrem aos seis ou sete anos. Abrem-se todas. Mas também começam a se fechar. Quanto mais a escolha demora, mais portas se fecharão, quanto mais cedo a escolha é feita, mas cedo os esforços convergirão na direção escolhida.
Certa vez, na sala de aula, perguntei a um aluno temporão:
- Quantos nos você tem?
- 45.
- Pelo que ouvi você falando, ainda mora na casa dos seus pais, não tem emprego ou trabalho não é casado, não tem filhos e esta é a sua primeira graduação.
- É verdade, meus pais gostam muito de mim,
- Mas parece que a recíproca não é verdadeira!
- Como?
- Podemos conversar depois da aula?
Conversamos a sós e eu lhe expliquei minha observação. Seus pais te amam muito, porém você os escravizou. Devem estar muito preocupados com o que vai acontecer com você quando eles partirem. Estão apreensivos com o seu destino, com o que lhe acontecerá, porque você até agora não plantou nada, está vivendo da aposentadoria do seu pai. Eles estão infelizes porque sequer podem morrer em paz.
- Professor, todos os dias eles me dizem isto!
- E você os acha chatos e repetitivos.
- E não são?
- Não. Quando eles morrerem você vai dizer e achar que eles foram péssimos pais, que não lhe preparou para a vida. Morreram e deixaram você na miséria. Poderiam ter lhe avisado para procurar caminhos na vida.
Agora é tarde, começou o crepúsculo, Inês é morta. Você não se preocupou com a sua própria plantação, vivendo da colheita da plantação dos seus pais, você está velho para quase tudo e inútil para a maioria das escolhas que você antes tinha e agora não tem mais. Você queira ou não, acredite ou não, é tarde para plantar. Você pode vencer? Pode. Porém há de despender um esforço imenso para conseguir essa proeza.
Todavia, “há sempre um tempo e um lugar para mudar.” Agora não é mais tempo de apenas esperança, esta já se foi com sua infância e juventude, é tempo de ESPERANÇAR, que não significa esperar e torcer para que as coisas aconteçam, significa animar(-se), estimular(-se), esperancear(-se). A vida é de fato muito curta para ser desperdiçada, apequenada. Ou seja, é necessário que você e eu construamos, juntos, o inédito viável. Segundo o grande pensador da educação, Paulo Freire, é preciso ter esperança para chegar ao inédito viável e ao sonho. Mas, cuidado! Há pessoas que têm esperança do verbo “esperar”. Esse grande educador e filósofo falava da esperança do verbo “esperançar”. Esperar é: “Ah, eu espero que dê certo, espero que aconteça, espero que resolva”. Esperançar é ir atrás, é não desistir. Esperançar é ser capaz de buscar o que é viável para fazer o inédito. Esperançar significa não se conformar. Quando eu coloco água em um copo, ela se conforma ao recipiente e está aprisionada nele. É preciso que você e eu sejamos capazes de transbordar. A esperança, no sentido de esperançar, permite que você transborde, isto é, vá além da borda. É preciso ter gana de vencer para alcançar a vitória. É a ambição, sem a ganância, que faz com que não nos conformemos e plantemos carvalhos e couves, aqueles para nos garantir a sombra do futura, estas para assegurar no nosso alimento diário. Comece a sonhar com a vida que você quer antes dos 10 anos e você será tudo que sonhou. Ou então fique esperando para sonhar após os quarenta e você verá, parodiando Raimundo Correia que, no azul da adolescência, as asas soltam e os sonhos, um por um, céleres voam, como as pombas nos pombais, porém, no crepúsculo, aos pombais as pombas voltam, mas os sonhos aos corações não voltam mais.