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ORÁCULO

Dizem que o destino é parceiro do empreendimento.


A SORTE ESTÁ LANÇADA

 

JOBIS PODOSAN

 

A IMPORTÂNCIA DO SABER

Há trinta mil anos processou-se a revolução cognitiva, que começou a moldar o homem na busca da conquista da civilização. Consistiu essa revolução na percepção que o homem poderia conhecer, memorizar os conhecimentos e transmiti-los às gerações atuais e futuras. Isto significa que o saber adquirido por uma pessoa pode se estender a outras e fazer desaparecer o marco zero do aprendizado. Neste a pessoa nascia ignorante e tudo que poderia aprender era pelos seus instintos e este conhecimento se esgotava com o uso, não podendo ser reutilizado nem pelo próprio indivíduo e nem ser transmitido a outros. Não éramos diferentes dos elefantes, mas a revolução do conhecimento nos propiciou a cultura, que nos distingue de todos os outros animais. Cada geração deixa para próxima tudo que produziu e esta soma sobre soma nos permite tudo que hoje somos e temos.

Com o domínio do conhecimento, lentamente, formamos a ideia de ordem e de caos como conceitos opostos. Na natureza não existe o caos, existe apenas a ordem natural, como um vulcão em erupção ou um tsunami que, apartados dos humanos, são apenas fatos da natureza em ação, onde não há nem justo e nem injusto, apenas fenômenos.

Mas nós humanos criamos a ideia de ordem, para significar como a sociedade deve funcionar e a ideia de desordem ou caos, para identificar os desvios da ordem e poder, através de instrumentos adequados, restabelecer o comportamento desejado. Quando as coisas acontecem segundo as regras estabelecidas dizemos haver ordem, quando acontecem ao contrário, chamamos desordem. A ordem leva à paz e a desordem ao conflito. Aquela deve ser mantida e este deve eliminado para restabelecer a paz.

Estamos vivendo agora no Brasil uma sucessão de fatos que podem ser segundo a ordem ou contrário a ela. Estamos falando do processo eleitoral que está em curso. Teremos eleições em todos os municípios brasileiros. Há regras para tudo. A ordem está configurada. Se tudo acontecer segundo a ordem estabelecida, os escolhidos pelos partidos terão seus pedidos de registro deferidos pela Justiça Eleitoral, serão submetidos à votação popular, os escolhidos pelo povo tomarão posse e exercerão seus mandatos.

Para muitos a eleição significará o começo da desgraça. Os cargos eletivos, por exigirem apenas cidadania, colocam em todos os brasileiros a ideia de competência para o exercício das funções. Todos se acham capazes de, uma vez eleitos, se dedicarem a “cuidar das pessoas”, “cuidar de gente”, “melhorar a vida das pessoas”, “beneficiar os menos favorecidos”, “fazer mais pelos têm menos”, “lutar para gerar emprego e renda”, “melhorar a segurança, a saúde e a educação” e outras clichês neles inoculadas que os fazem realmente achar que é só chegar lá e fazerem estas coisas acontecerem. A ideia é que voto atribui competência. Sendo os candidatos eleitos, automaticamente estarão habilitados e exercer os cargos para os quais foram eleitos. Ledo engano. Não sabem o cipoal de leis e das múltiplas fiscalizações que sofrerão para chegar ao fim do mandato incólume!  Certa prefeita do interior, médica por formação, foi atraída para a vida pública em função da sua atividade clínica.  Aceitou e foi eleita. Começou o seu suplicio. Certo dia me ligou querendo a solução para um problema. Tinha morrido uma pessoa muito pobre, cuja família não podia pagar o enterro. Ela então chamou o tesoureiro e mandou ele pagar um funeral simples O tesoureiro objetou que não tinha dotação para esse fim. Como não? A Prefeitura não tem dinheiro para enterrar um pobre homem, vai deixá-lo insepulto? O que eu faço, perguntou-me angustiada? Respondi-lhe: 1) pague esse enterro do seu próprio bolso, pois para gastar o dinheiro do povo a senhora tem de pedir autorização ao povo, através do poder legislativo; 2) para o futuro mande um projeto de lei à Câmara de Vereadores pedindo autorização para enterrar pessoas pobres cujas famílias não possam custear o enterro; 3) coloque no orçamento anual a dotação para esse fim. Fora daí não é possível gastar o dinheiro dos outros, do povo. O único bolso que a senhora pode meter a mão livremente é no seu próprio. Mas isto não é justo, observou? Mas é legal e é com a lei que a senhora deve se preocupar.

Enfim, Todos os candidatos prometerão fazer tudo, os discursos serão idênticos, cabendo ao eleitorado dizer quem vai passar do discurso à prática. A eleição pode ser o céu ou o inferno. Os exemplos estão a aí, só não vê quem não quer.

 

A ORDEM E O CAOS NAS ELEIÇÕES

Dizem que o destino é parceiro do empreendimento. Acima descrevemos a ordem, o dever ser. Mas o que veremos a seguir é o que vai acontecer após o deferimentos dos pedidos de registro - mesmo antes - até o dia das eleições. Os candidatos esquecerão toda a ideia de ordem e vão tentar obter o voto dos eleitores de qualquer maneira, segundo a regra maquiavélica de que os fins justificam os meios. Meu conselho é que cada candidato deve montar duas equipes de assessores para orientar a sua campanha eleitoral. Uma para impedi-lo de cometer qualquer ato que possa leva-lo a perder o mandato, se for eleito. A segunda é para fiscalizar os outros candidatos para contestar a eleições deles. Já houve neste momento, a cassação de mais de 130 prefeitos eleitos nas eleições de 2016. Nestas eleições de agora esse número chegará, quem sabe, a mais de mil. Isto porque a fiscalização da tecnologia, com os meios hoje disponíveis, tornará quase impossível a violação da lei eleitoral não ser levada aos tribunais. Um exemplo: tudo que for dado a um eleitor será gravado por ele ou por outrem, mesmo da própria campanha do candidato e será vendido ao adversário ou à imprensa por muito mais que o custo que o candidato pagou pelo voto. Já vimos isto na campanha passada de 2018. No momento que o candidato, ou alguém de sua campanha, entregar cinquenta reais ao eleitor, estará perdendo o mandato. As armadilhas serão muitas e os candidatos devem ficar atentos

Para os candidatos cuja qualidade principal for a competência indireta (aquele que se destacou em qualquer atividade com talento especial) o problema é maior, pois pode terminar sofrendo processos eleitorais e processos penais comuns, por não conhecerem um mínimo de administração pública e prêmio vira castigo. Um humorista de nível nacional ganhou duas eleições para deputado federal, com grandes votações, e depois desistiu a vida política, porque não conseguiu entrar nela por escassez de conhecimentos específicos e, o que foi pior, perdeu a graça como humorista. Talvez, se ele fosse prefeito, estaria nas barras dos tribunais, respondendo por violações diversas.

Assim, advirto aos candidatos, que a eleição não garante nem posse e nem exercício. O que garante é a decência na obtenção do diploma eleitoral.  Tenham sempre em vista que a pior derrota é a que acontece depois das eleições e isto está cada vez mais frequente e resultará em vergonha, condenações, inelegibilidade, má fama, alguns até a morte, se forem pessoas de bem. A eleição não é como o carnaval. Em ambas abrimos mão de parte ou de toda nossa vergonha. O carnaval passa e a vida volta ao normal. Já nas eleições a desgraça vem para ficar. O que é do povo será tomado e o que é privado será engolido pela direito de defesa. Alea jacta est!

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