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DOIS FATOS
Médicos e enfermeiros estão lá, no front, salvando vidas.

Negacionismo e protesto descabido
​Dois fatos ocorridos ontem em Boa Vista demonstram o descompasso de posições e ações no combate ao coronavírus e tratamento da covid-19. Houve negacionismo com o colapso no sistema de saúde. E houve protesto descabido de agentes muncipais de trânsito que reclamam por uma colega ter sido infectada e morta devido ao coronavírus. 

A entrevista do novo secretário de Saúde, Marcelo Lopes, afirmando que há uma "histeria" desnecessária no HGR mostra que ele vive noutro mundo ou que nunca se deu ao trabalho de ver os telejornais, onde pacientes se amontoam por todos os cantos, e corpos são transportados por entre os pacientes. Um desinformado ou cínico.

Marcelo não falou nada sobre as irregularidades que ocorriam - ou ainda ocorrem - dentro da Sesau. Pelo visto, contratos superfaturados com empresas ligadas a políticos continuam valendo. Médicos e enfermeiros denunciam em vídeos que circulam nas redes sociais a falta de medicamentos e de respiradores com pessoas morrendo todos os dias por não ter esses insumos. E ninguém, inclusive Marcelo Lopes, tem a mínima ideia de quando o hospital de campanha irá funcionar.

Ontem, também, agentes municipais de trânsito fizeram, em hora de expediente, um protesto pela morte de uma colega acometida pelo coronavírus, e exigindo nova forma de trabalho com menos agentes presentes na mesma sala ou em missões. Há uma distorção nisso tudo.

Agente de trânsito é função essencial, nem tem como ficar em casa em caso de pandemia. Tem que ir pra linha de frente que significa o contato com as pessoas. E no momento como esse, é exigido mais a presença deles.

Chega a ser leviano afirmar que uma colega foi infectada dentro do trabalho porque não tem como se provar isso, já que entre familiares assintomáticos ou outras pessoas com quem ela teve contato em outros lugares como supermercado, padaria ou farmácia, é possível ter sido infectada.

Quem não quer trabalhar em hospital com doentes contaminados por um vírus, não devia ter estudado Medicina e nem Enfermagem. Médicos e enfermeiros têm que encarar essa situação com condições de proteção, que lamentavelmente, o governo do estado tem sido relapso. E é aí que tem que entrar Marcelo Lopes, justamente para acalmar a histeria que ele nega que todos sabem que já ocorre no HGR, no Hospital das Clínicas e no de Rorainópolis, porque pessoas estão morrendo por falta de medicamentos e respiradores, e seus familiares sabem disso.

Vale aos agentes de trânsito, exigirem, sim, melhor proteção e condições de trabalho, e não cruzar os braços e promover paralisação que nada disso resolve diante de uma pandemia. Protesto fechando rua enquanto pessoas estão morrendo é completamente despropositado.

A sociedade, os cidadãos é que precisam que eles estejam na rua, em escalas até mais exigentes, mas necessárias, e não questão política. Numa situação de descontrole que chegou em Roraima, amigos e familiares desses agentes não estão imunes. Ninguém está imune. Reduzir os riscos é, também, missão deles. Se reclamam disso, não deveriam ter feito concurso público para tal trabalho.

Contudo, médicos e enfermeiros estão lá, no front, cuidando e mais salvando vidas, do que perdendo. A sociedade também precisa dos agentes nas ruas. São duas situações, dois fatos que se dispensam negacionismos e protestos descabidos.


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