ORÁCULO

ENSIMESMADO

JOBIS PODOSAN

De ordinário, ante situações misteriosas, mergulho pelo meu interior fim de buscar, pela ruminação das ideias, a solução do enigma. Agora mesmo estou perplexo ante a disputa do quem acaba com quem: se o Presidente derruba a Rede Globo ou se a Rede Globo derruba o Presidente. O enigma é claro: o presidente sabe que não pode, sozinho, por ato seu, acabar a Rede Globo. Sabe também que se puder acabar com a Rede Globo, poderá acabar, também, com todo o sistema de radiodifusão do Brasil, o que o colocará em conflito de sobrevivência com toda imprensa brasileira e ainda atrairá o enfrentamento com toda a imprensa mundial, pois, como é por todos sabido, pior do que imprensa contra, é imprensa oficial a favor, pois esta requer a imbecilização do povo. A liberdade de imprensa preconizada na Constituição, consiste em poderem os veículos de comunicação estabelecerem a própria linha editorial, não podendo o governo exigir esta ou aquela direção no conteúdo das matérias publicadas. A imprensa é o altar da liberdade, pouco importa que esteja nas mãos de anjos ou de demônios, só não pode estar pautada pelo governo de plantão, pois, aí sim, liberdade do cidadão é que desaparece.   Pouco importa que a imprensa resolva publicar somente o joio, se o trigo for de qualidade, o cidadão percebe e julga. Nunca, porém, o governo. Por outro lado, a Rede Globo sabe que o presidente, por ato solitário, não pode derrubá-la, então por que até distorce os fatos para derrubar o Presidente? Será que falta a ambos a percepção de que os fins legítimos passa pela opinião intermediária? A imprensa não pode ser pautada senão por ele mesma, a opinião pública a julgará.

É certo que compete ao Poder Executivo outorgar e renovar concessão, permissão e autorização para o serviço de radiodifusão sonora e de sons e imagens, mas a não‐renovação da concessão ou permissão dependerá de aprovação do Congresso, sendo, portanto, ato complexo, a depender da vontade do Presidente e mais a do Congresso Nacional: o Presidente não pode sozinho e o Congresso não pode sozinho.  A Rede Globo sabe de tudo isto, mas resolveu enfrentar o Presidente, este também sabe de tudo, mas resolver enfrentar a Globo mesmo sabendo que se  trata de poder desigual. O da Rede Globo é maior: 1) a Rede de televisão foi fundada em  26 de abril de 1965 e está espalhada em todo território nacional, suas afiliadas estão nas mãos de congressistas ou aliados seus; 2) por dívida tributária não se deixa de renovar concessão, pois há mecanismo próprio para cobrá-la; 3) se o governo não cobrou ou não vem cobrando a dívida, é também responsável por deixar de cobrar; 4) quem cobrirá o vazio deixado pela Globo? 5) é admissível fechar um órgão de imprensa por opinar de modo contrário ao governo? 6) Não será desvio de finalidade, controlável pelo Poder Judiciário, usar o poder da lei, para atingir fins extralegais?

Estou ensimesmado, taciturno, meditativo, perplexo, mas o espectro da derrota está se delineando.