- 18 de junho de 2025
O Estado alimenta facções criminosasA situação de epidemia de sífilis, pneumonia, doenças respiratórias e bacterianas constatada pela OAB e pelo governo do estado na Penitenciária de Monte Cristo, revela a forma desumana e cruel com que os detentos - de simples roubo de bicicleta ou celular, a crimes de tráfico de drogas e assassinatos - são tratados.
É difícil esse sistema penitenciário recuperar alguém para a sociedade. Pelo contrário, esse sistema na base do "direitos humanos para humanos direitos" que Jair Bolsonaro irresponsavelmente defende, é um verdadeiro criadouro para a criminalidade. É deixar o crime organizado que atua dentro dos presídios com a faca e o queijo na mão.
Isso porque, todo aquele quando entra no sistema prisional é obrigado a escolher entre servir à alguma facção criminosa ou ser tratado como indigente, em celas super lotadas, com comida reduzida, nas alas mais imundas da penitenciária, além do risco constante de espancamento, de violência sexual, e de morte.
Acredita-se que de cada 10 presos que entraram no sistema prisional nos últimos 10 anos, seis ingressaram para alguma facção criminosa, que dá assistência ao preso em troca de uma "contribuição" da família dele para a "caixa previdenciária" da facção. E quando esse filiado sai em algum indulto ou passa para o regime semi-aberto ou condicional, tem que pagar mais caro a sua eterna cota com a facção que o acolheu e o protegeu no presídio.
Por isso, muitos presos são flagrados em assaltos e roubos nos "saídões" de Dia das Mães, Dia dos Pais ou de fim de ano. Por isso, muitos que estão em condicional cometem os mesmo crimes porque só com roubos e assaltos terão dinheiro para se manter fora do presídio e para pagar a sua eterna cota com a organização criminosa que entrou.
Ou seja, tratar presos como lixo humano, sem qualquer política decente para se recuperar quem cometeu um crime, é alimentar um círculo vicioso em que só as facções criminosas estão ganhando, e ganhando cada vez mais. Há cinco anos, não havia chacina na Monte Cristo. De 2016 pra cá, ocorrem duas com mais de 50 mortes. Há dois anos, não havia um tal "tribunal do crime" que corta cabeças. No ano passado, mais de 20 pessoas foram degoladas, a maioria com menos de 20 anos.
A sociedade tem que abrir o olho para essa realidade desumana e cruel que é o sistema prisional roraimense, que só alimenta o crime organizado. Direitos humanos não são apenas para humanos direitos. São para todos. Inclusive, para quem quer mudar de vida. E ninguém muda de vida morrendo abandonado numa lixeira infestada de doenças, enquanto a única saída é entrar numa facção criminosa.