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NEGLIGÊNCIA
Dinheiro pra viajar para Brasília para bater palmas para Jair Bolsonaro, tem. Mas pra salvar vida, não.

O que é a morte de uma índia, Denarium e Joênia?

Protesto ontem nas redes sociais merece a maior repercussão possível. E seria muito bom que a apagada deputada Joênia Wapichana, usasse a tribuna para relatar a realidade cruel e desumana que ocorre há anos no Hospital Geral de Roraima. A índia Amanda Barbosa, de 16 anos, morreu no HGR depois de passar três meses esperando por uma cirurgia devido a um tumor cerebral. 

Informada que o hospital não tinha como realizar a cirurgia, a família de Amanda solicitou ao governo do estado o benefício de Tratamento Fora do Domicílio (TFD), que foi-lhe negado por falta de recursos. No entanto, o governador Antônio Denarium não passa duas semanas sem ir a Brasília e a outros estados tratar primordialmente de agronegócio, ramo do qual ele é empresário junto com seus amigos apoiadores.

Ontem mesmo Denarium estava em Brasília tirando mais uma selfie com Jair Bolsonaro. Dinheiro para viajar a negócios tem, para salvar vida, não. 

"Ah! Mas o governador paga do próprio bolso suas passagens", vão dizer seus assessores. Não teria ele, então, milhas aéreas pelos menos para doar a quem precisava de uma cirurgia?

A verdade, amigo leitor, é que pra quem é acostumado a emprestar dinheiro a juros e quando o devedor não tem dinheiro para saldar a dívida, toma casa, terreno, carro que serviram de garantias dos empréstimos, esperar que doe passagem aérea...

Todas as semanas morrem pessoas no HGR, em que parentes reclamam de negligência no atendimento, não propriamente de médicos, mas da falta de medicamentos, de material, de remédios, e de equipamentos em funcionamento.

Daí, tal como tantas e tantas outras mortes, essa de uma menor de 16 anos, não provoca indignação de políticos tão preocupados como a população, que se juntam a adversários de campanha em nome do bem maior para as pessoas. Não causa indignação do Ministério Público que já anunciou publicamente que um "genocídio" ocorre no HGR, e quantos médicos, enfermeiros, diretores, secretários e governadores já foram responsabilizados pelos rigores da lei pelo descaso com a saúde? Nenhum.

Pior é que temos a certeza que esse caso também não sofrerá rigor algum da lei.  Pra quem tem plano de saúde que chega a R$ 7 mil por mês, pago pelo contribuinte, como é caso de certas autoridades e parlamentares, com direito a tratamento em hospitais de ponta em São Paulo, as mortes assim como de Amanda, são só estatística. 

Até quando Denarium vai usar a desculpa sem vergonha de que os problemas do estado é da gestão passada, quando milhões de reais extras enviados pelo governo federal foram para o HGR no seu governo?

Amanda Barbosa morreu por omissão da diração do hospital, da secretária de Saúde, do governador que diante da falta de capacidade do HGR em atendê-la, destinasse um TFD para a paciente, que hoje poderia está viva se recuperando. Mas o que é mais uma morte onde tantas ocorrem da mesma forma e modo quase todos os dias? O que é a morte de uma índia de 16 anos, sem lenço, sem documento e sem parente importante?


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