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Edersen Lima

JOBIS PODOSAN


AS PORTAS DA SEDUÇÃO
 

JOBIS PODOSAN
 

            O DILEMA

Os brasileiros vivem o drama de permanecerem honestos. Todas as pessoas nascem honestas, mas, para nós brasileiros, vem sendo particularmente difícil manter essa situação. Até o exemplo, uma das matérias primas da formação do cidadão, está numa crise profunda. Para se dar exemplo é necessário ser exemplo. Dizia Rui que a palavra ensina, mas o exemplo arrasta. Uma vida de retidão é condição para servir de exemplo. De nada adianta ensinar o que é certo e fazer o errado. O faça o que eu mando e não faça o que eu faço deve ceder lugar ao faça o que eu faço porque o que eu faço é o que eu mando.

 

A DESCRENÇA

Ninguém pode viver sem crer em alguma coisa. Mesmo ateus ou agnósticos devem acreditar que há uma finalidade na vida. Acreditam, senão em Deus, mas na força dos princípios éticos, na força do bem sobre o mal. As religiões, todas elas, nos seus livros sagrados, constroem um sistema de valores e sistematizam princípios que orientam os seus fiéis no caminho para encontrar a vida eterna e a felicidade. Vivemos hoje uma crença falsa de sucesso pelos meios econômicos e financeiros. Ser feliz é ser rico, poder consumir de tudo que o mercado oferece, mesmo que não necessitemos das coisas múltiplas criadas pela necessidade de consumir sem qualquer objetivo que não o próprio consumo.

Essa descrença nos valores atingiu as pessoas. Não cremos em mais ninguém, até ser decente virou defeito, não sendo mais que uma forma de esperteza. Sendo todos desonestos, qualquer conduta nossa está justificada: locupletemo-nos todos, ao invés de restaurar a moralidade, parafraseando o Barão de Itararé.

Em algum canto deste país imenso deve estar escondida a bolha da decência. Urge encontrá-la. Precisamos desesperadamente reencontrar com a moralidade ou então viraremos lobos uns dos outros: lupus est homo homini, ensinava Hobbes no Séc. XVII.

 

A MORAL É UM BEM COLETIVO

Os romanos tinham três regras que orientavam a formação do seu povo: 1) viver honestamente; 3) não querer nada dos outros; 3) dar a cada um o que é seu direito. Até hoje as regras são atuais. Se vivermos assim, seremos mais felizes e cooperativos. Observe-se que nenhuma regra tem sentido se formos eremitas, se vivermos solitariamente em algum lugar ermo. As regras da ética e da moral só têm significado se houver relação com outras pessoas, são, portanto, virtudes relacionais. É a presença do outro que nos obriga a sermos entes morais. A moral individual é sempre uma parcela da moral coletiva.

 

O ENGODO

Essa descrença aliada ao fato de nos colocarmos como seres singulares ante a coletividade, criaram as portas falsas da sedução. É certo que somos indivíduos, com direitos individuais reconhecidos, mas também é certo que pertencemos a uma coletividade que nos permite e possibilita a realização de sonhos. Não fazemos o pão que comemos, o calçado que calçamos ou a roupa que vestimos. Outras pessoas fazem isto e muito mais para nós. Das coisas que verdadeiramente necessitamos não produzimos quase nada ou nada. Nossa colaboração para o todo é mínima. Mas é dessa colaboração mínima que resulta essa multidão de coisas para servir a todos. Somos pequenas parcelas de uma grande soma. Assim, quando tiramos dos outros, estamos, em última análise, tirando de nós mesmos. Porque nós somos eles e eles, nós. Imagine-se o absurdo se todos nós virássemos ladrões. Qual a consequência? Não haveria de quem roubar, pois ninguém produziria mais nada. Estamos vendo o resultado da ganância de quem só pensa em si mesmo. As cadeias de Brasil estão sendo entupidas de pessoas que estavam a serviço do povo e subtraiu desse mesmo povo uma quantidade imensa de dinheiro e estão agora vivendo em celas minúsculas. Presidentes, governadores, prefeitos, senadores deputados, vereadores, todos na mira da lei. E o cerco a cada dia se fecha. As escamas dos olhos do povo demoram de cair, principalmente com o discurso de ajuda que os políticos adotaram nos últimos tempos, quando distribuíram migalhas que alimentaram a escamas da cegueira. Escamas que um dia caem e a luz da decência volta. O caso do Rio de Janeiro é emblemático: dois governadores na prisão, um deles no exercício do mandato!

Devemos, portanto, entrar pela porta estreita da honestidade e nos afastarmos das portas largas que levam à perdição.

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