- 03 de julho de 2025
Sem resposta
Uma pergunta feita ontem nas redes sociais, se as operações da Polícia Federal realizadas há três, dois e um ano, e nenhuma constatação de crime cometido fora apresentada, não é tempo suficiente para se provar delitos, ou tudo não passou de pirotecnia, ficou sem resposta. Nenhuma instituição do país é mais preparada que a Polícia Federal para apurar a ocorrência de crimes, seja ele de que linha, gênero e padrão que for. Principalmente, crimes de corrupção e desvio de dinheiro público.
"Defender bandido"
Ao questionar a falta de resultados que provem que crimes foram cometidos depois de três anos de investigação, fui acusado de "defender bandido". A acusação é grave. Primeiro, que não se defendeu ninguém, e sim, se questionou se esse tempo não foi suficiente para se apresentar provas de delitos. Segundo, o pré-julgamento e a condenação sumária de que o investigado é culpado, de que é "bandido". Mas tudo isso, sem apresentação de qualquer prova da Polícia Federal e muito menos do "julgador".
Pré-julgamento geral
Imagens de viaturas da Polícia Federal em frente a uma residência ou empresa ou repartição pública são vistas como ocorrência certa de crime cometido. E as pessoas citadas, levadas para depor ou presas, são vistas como criminosos. O pré-julgamento é praticamente geral porque se a Polícia Federal está ali, é porque crime ocorreu. No entanto, nem sempre é assim.
Operação mal feita e suicídio
Uma investigação mal feita, errada e injusta causou a morte de Luiz Carlos Cancellier de Olivo, reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), por suicídio. Em 14 de setembro de 2017, o então reitor da universidade foi alvo da operação "Ouvidos Moucos", da Polícia Federal, que combatia supostos desvios de dinheiro na gestão da UFSC. Acusado levianamente de integrar um “esquema criminoso”, ele tirou a própria vida 17 dias depois se atirando do sétimo andar de um shopping center em Florianópolis.
Humilhado
O impacto da repercussão da prisão injusta, humilhou de tal forma Luiz Canleller Olivo, que ele não suportou ver seu nome estampado em manchtes de jornais como responsável de um desvio de R$ 80 milhões, sem qualquer prova de participação dele em desvios. “Ele se sentiu humilhado e impotente diante da pecha que lhe causaram", disse um irmão do retor que se suicidou.
Pura pirotecnia
A prisão foi desnecessariamente espetaculosa, como costuma e continua a acontecer: segundo a própria PF, 115 policiais foram mobilizados para prender Cancellier e outros seis professores da UFSC. No dia da prisão, a PF manchetou, em seu site, em um erro cavalar, que a "Ouvidos Moucos" combatia "desvio de mais de R$ 80 milhões". Esse valor, como depois explicou a delegada Érika Marena, era, na realidade, o total de repasses do Ministério da Educação para o programa de ensino a distância ao longo de dez anos, 2005 a 2015, quando Cancellier não era o reitor (só o foi a partir de maio de 2016).
Um ano sem resposta
Em Roraima, um conjunto habitacional recebeu R$ 32 milhões para sua construção com recursos do programa Minha Casa Minha Vida. O Fantástico fez reportagem informando que houve desvio de R$ 32 milhões. Então, como é que surgiram vários blocos de apartamentos, ruas asfaltadas, instalação de rede de energia elétrica e água, além de outras obras nesse conjunto habitacional?
A Polícia Federal investiga há mais de um ano esse caso.
Um erro dessses não é compensado
Sou da opinião de que uma injustiça não é e nunca será compensada com 10, 100 ou mil bem feitos judiciais. O erro de qualquer operação policial mal realizada não é maior que o julgamento e condenaçao que grande parte da opinião pública antecipadamente faz em cima de imagens de viaturas em frente de uma casa, ou de uma empresa ou de uma repartição pública, onde pessoas são conduzidas.
Pergunta:
A Polícia Federal é hoje o órgão de maior credibilidade do país. Mas como todo mecanismo operado por pessoas, é passivo de falhas e erros. Por isso, eu repito a pergunta que fiz: depois de três, dois e um ano de investigação em que nenhuma constatação de crime cometido foi apresentada, será que não é tempo suficiente para se provar delitos ou tudo não passou de pirotecnia?
ERRATA
A Coluna informa que errou em informar na edição anterior que o procurador do MPC, Paulo Sério Souza, e a funcionária do órgão, Anandria Salles, foram condenados por improbidade administrativa e peculato. Na realidade, a condenação dos dois foi com base apenas em improbidade administrativa.
edersen lima