- 03 de julho de 2025
Populismo bilú
Na década de 80, o senador Fábio Lucena, do Amazonas, propos que todo o Senado, a exemplo da Câmara, disputasse a eleição de 1986 para que o Congresso fosse todo formado por parlamenatres eleitos para a elaboração da constituição. Fábio Lucena defendia renovação plena em que o eleitor colocasse no poder nomes de sua livre escolha para definirem as leis que vigorariam a partir de então no país.
Lógico que o Senado, em peso, recusou a proposta de Fábio Lucena. Qual senador eleito quatro anos antes iria querer perder quatro anos de mandato?
Pois bem, por coerência, Fábio Lucena renunciou ao mandato e concorreu de novo ao Senado em 1986, sendo eleito com mais votos que na eleição anterior. Fábio Lucena não usou de hipocrisia ou cinismo baratos. Não propôs coisa só para parecer que era desapegado ao poder, e que defendia os interesses do povo.
Conto essa história aqui, amigo ouvinte, depois de ouvir a proposta da deputada Shéridan Steffanny, de redução do número de deputados com objetivo de reduzir custos. Ora, dona Bilú, dona Jade, o problema dos gastos da Câmara está no valor da verba indenizatória, no valor da manutenção de cada gabinete, no salário que a senhora e seus colegas recebem de R$ 33.763; mais auxílio-moradia de R$ 4.253; mais verba de R$ 101,9 mil para contratar até 25 funcionários, de mais R$ 45.612,53 por mês para gastar com alimentação, aluguel de veículo e escritório, publicidade e propaganda, entre outras despesas.
O que tem que cortar são os dois salários no primeiro e no último mês da legislatura como ajuda de custo, ressarcimento de gastos com médicos que a senhora e seus colegas recebem, que somando tudo isso, custa por mês no bolso do eleitor R$ 180 mil por cada deputado, e R$ 2,2 milhões por ano.
O que custa caro é empregar no gabinete, empregada doméstica e babá por mais de R$ 10 mil. O problema, repete-se, não é o número de deputasos, e sim, a montanha de dinheiro que cada um de vocês custa pra gente, pra vir em fim de mandato, dessa forma dissimulada de que se preocupa com os gastos públicos. Hipocrisia barata. Se não é isso, faça como Fábio Lucena, renuncie o equivalente ao que propõe de redução de deputados, aos seus ganhos. E cumpra fielmente isso no próximo mandato, caso seja reeleita.
Quem propõe algo, tem que mostrar que o merece. Dê o exemplo, Shéridan, mostre coerência, e não apenas populismo bilú.