- 11 de julho de 2025
Bom senso e tolerância
Brasília - Está mais que provado que Roraima carece de profunda ausência de bom senso e tolerância. E os piores exemplos não vêm só de autoridades, que a sociedade adora criticar, mas também de não autoridades, que, se julgam com autoridade para agir como entende ser mais que um direito, um dever.
O acidente de carro que deixou gravemente ferido um jovem, filho de empresário bem sucedido com obras públicas gerou a "pauta" do fim de semana e promete ainda ter muito pano pra manga durante esta que inicia. De um lado, amigos e familiares do jovem acidentado que, violentamente agiram com agressão física contra um cinegrafista que alega simplesmente ter tentado realizar o seu trabalho.
Do outro lado, o cinegrafista mais os colegas jornalistas que protestam - com razão - contra a selvageria ocorrida. Violência não é, nunca foi e nunca será sinônimo de bom senso e muito menos de justiça para se resolver situações conflitantes. Mas, também, um pouco de atenção e repete-se, bom senso, para se realizar um trabalho em momento emocionalmente tão delicado, não é e nunca será de mais.
O uso de violência de modo gratuito é por tudo condenável. E se arvorar de um poder que não lhe foi dado em julgar e punir, é ainda pior. E os envolvidos, entre eles, como acusam a vítima e os demais colegas jornalistas, está o conselheiro do TCE, Netão Souto Maior, advogado e conhecedor das leis. No mínimo, um pedido de desculpas, podendo até usar argumento de que "no calor da emoção" se revoltou em não querer que imagem de um ente querido ferido no acidente fosse gravada e veiculada, pode ser usada. Isso não justifica nenhuma violência, mas pedir desculpa é uma forma de se redimir do abuso e de covardia cometidos.
Quanto ao outro lado, cabe reflexão da imprensa com o uso de bom senso e tolerância quando a apuração de imagens que venham a chocar e constranger pessoas. Perguntinha simples: quem gostaria que a imagem de um irmão, pai, mãe, filho ou amigo próximo fosse veiculada igual a situação em que o jovem acidentado se encontrava?
Difícil encontrar, mesmo entre os colegas de imprensa, quem afirme com gosto, "sim, eu gostaria de ver imagem do meu pai, ferido, ensanguentado ou morto, sendo veiculada nas TVs e nas redes sociais". Pra isso, resta só comentar que há gosto pra tudo. Mas duvido que exista alguém assim com tamanho desprendimento profissional.
Não vejo que, só por se tratar de um conselheiro do TCE e demais pessoas ligadas ao poder público a agressão ocorrida se vale. Muitas pessoas, porém humildes, pobres mesmo, sem qualquer ligação que os ampare com o poder, sentem-se revoltadas e indignadas com a imprensa que expõe um filho, um pai ou uma mãe acidentados ou mortos. Não tomam reação mais ativa, como os amigos do jovem acidentado, porque se sentem inferiores. E isso, demais profissionais de imprensa se não sabem, fiquem sabendo.
Sou contra sensacionalismo e uso de imagens violentas que choquem leitores e telespectadores, imagens que constrangem vítimas e seus familiares. Mas sou ainda mais contra, ao uso despojado da violência. Nada justifica o uso de tamanha covardia que ocorreu na noite de sexta (31) para sábado (1). Pedidos de desculpas e reparações independentes de apurações policial e da justiça já deveriam ter ocorrido. E uma reflexão sobre como apurar fatos assim, cheios de emoção e dor devem ser expostos, é propícia diante de tantos exemplos negativos da falta de bom senso e tolerância que Roraima tanto carece.