- 26 de novembro de 2024
OS OLHOS DA AMBIÇÃO
JOBIS PODOSAN
Os olhos da ganância seduziram
Se apaixonaram pela ambição
Espalhando dor e sofrimento (Neguinho da Beija-Flor)
FELIZES PARA SEMPRE
Há quem sustente que a felicidade é antiliterária, porque é enjoativa. Gente feliz enjoa de ser feliz e passa a procurar, como se diz na gíria "sarna para se coçar". Ninguém consegue escrever sobre felicidade. Salvo o "foram felizes para sempre", ninguém consegue descrever o êxtase provocado pela felicidade em mais de uma página. Quem quer se proclamar feliz e quer que esse estado perdure para sempre, espere completar noventa anos, a esposa aí pelos 87, com 70 anos de casado, comemoradas as bodas de prata e de ouro e, nas bodas de diamantes, diga olhando nos olhos da esposa que a vida de ambos foi só felicidade (ambos sabem da mentira) e que a felicidade deles vai durar para sempre, aí sim, uma verdade, até porque o "para sempre" está próximo, logo ali. A felicidade não é uma linha reta na vida. Quando a linha é sinuosa já está de bom tamanho, mas mesmo essa linha não responde pela verdade dos acontecimentos da vida. Os altos e baixos são muitos, mesmo os que só provocam abalos internos são terríveis. Mas, na vida de todos os casais, existem os cataclismos, aqueles episódios que abalam as estruturas e quase põem o casamento a pique. Se cada um tiver amadurecimento nas coisas da vida, não acabam o casamento mesmo nesses momentos ruins.
Tais acontecimentos, quando superados, afirmam e confirmam a relação. Modernamente, porém, estamos fazendo na vida duas operações: a primeira é casar, quase todas as pessoas se casam. Porém, com o advento das crises, o casal encontra fácil a solução dos problemas; separam-se e vão buscar novos relacionamentos, nos quais a felicidade reside, assim pensam; a outra solução é aguentar os pesados encargos do matrimônio e se conformar com a escolha feita.
Esta solução, que ainda existe, é muito rara. Porém, sabe aquela relação que acabou fazendo 70 anos, da qual acima falamos? Pois é, com o tempo e a madureza, o casal percebe que resistir às intempéries resulta em mais vantagem do que trocar de parceiros. Percebem que a troca de parceiros resulta na volta dos mesmos problemas do primeiro, senão mais graves, por causa dos filhos das relações anteriores, a mudança de ambiente e de amigos, a saudade dos velhos amigos, o antagonismo com os filhos dos leitos anteriores, os problemas e culpas de deixar os filhos ou mantê-los embaixo do mesmo teto com o novo companheiro ou companheira, muitas vezes a ausência de filhos comuns, que não consolida o casamento pelas responsabilidades, tudo isso não solidifica a vida sexual, que, sozinha, não segura casamento algum, até porque amor sexual não suporta dificuldades, quando estas aparecerem, eros se manda para a rua e nela demora. A casa vira um ambiente de problemas insolúveis porque ninguém abre mão de nada, ninguém renuncia a nada, todos querem renúncias do outro e os laços, como são tênues, rapidamente se rompem e lá vem a terceira relação, já embranquecidos os cabelos, mais curta a paciência e avantajada a intolerância, tendem tais relações a durarem menos, até chegar o dia que a solidão se instala, por falta absoluta de quem queira compartilhar a vida.
É este o momento no qual, ultrapassada a casa dos 50 anos, olhamos para trás e percebemos a existência de pessoas que se nos apresentam, como lenitivo de todos os nossos problemas: encontramos um novo amor 30 ou mais anos mais jovens, como é o caso daquela atriz famosa que aos 70 descobriu um novo amor 40 anos mais jovem e apareceu na mídia apresentando seu novo amor, enlouquecendo outras velhinhas, que se assanharam ante a possibilidade de reviverem tempos áureos, com os hormônios estourando nos colchetes e levantadas as ancas (via bisturi) em oferta tardia. Até que a bomba estourou e a bela flagrou o seu “amor” falando com a turma dele ao telefone e dizendo que mais tarde iria encontrá-los. Iria, assim que conseguisse “fazer a p.... da velha dormir”. Caíram-lhe as escamas dos olhos e arrefeceu o ânimo fogoso da outras velhinhas, que retomaram aos seus véus e voltaram-se para os netos, às missas e novenas para pedirem perdão pela loucura de pretenderem enganar a vida.
OS MANDAMENTOS DO PREGUIÇOSO
Recebi uma encomenda sui generis. Um rapaz, na casa dos vinte, abordou-me pedindo conselhos sobre o que fazer para mudar a opinião do pai sobre a inutilidade da sua vida, pois não estava plantando nada e, portanto, nada colheria lá adiante. Entendia ele que ainda estava muito novo para se preocupar com a vida. Lá adiante, quando o pai morresse, ele receberia o dinheiro suficiente para curtir a vida. Então eu dei a ele uma relação de dez mandamentos que ele deveria observar para sua vida ter significado. O preguiçoso, aquele que não planta e nem colhe e quer aproveitar a vida adoidado, tem por mandamentos da sua vida os seguintes (poderiam ser mais, mas a essência está aí):
1. Nunca tem tempo para nada;
2. Qualquer tarefa é sempre exagerada;
3. Nunca chega ou sai no horário;
4. Não respeita os horários dos outros e nem os próprios;
5. Tem sempre uma justificativa para suas faltas;
6. Sempre critica o trabalho dos outros;
7. Há sempre um culpado pelas suas faltas;
8. Reclama muito dos direitos que acha que tem;
9. Nunca é voluntário para nada;
10. Um simples banho justifica qualquer atraso.
Quer fracassar? Aí está uma receita simples e descomplicada, fácil de seguir. Com ela, por sorte, você chegará aos 40 anos. Assim, como ambição exagerada desgraça a vida, afirmo que a ausência de ambição a empurra para o abismo. A vitória exige ambição com comedimento. Ambição desmedida, é defeito. Nenhuma ambição, é defeito. Alguma ambição é qualidade. Ponha a sua ambição sob o controle do esforço e da ética e corra atrás dos seus sonhos, sob o lema dos Romanos: 1) viver honestamente; 2) não querer nada dos outros; 3) dar a cada um o que é seu.
Parece um conselho de otário, porém é uma garantia de liberdade, com esforço, demorada, pois.