- 26 de novembro de 2024
ELEITO PELA BAHIA
JOBIS PODOSAN
Concluída a apuração da eleição presidencial, realizada no último domingo (30.10) a diferença entre os candidatos Lula e Bolsonaro foi inferior a dois milhões de votos, na eleição mais apertada sob a Constituição vigente. Na Bahia, a vitória de Lula foi acachapante.
Confira-se o percentual obtido por cada candidato:
Lula (PT): 72,12% dos votos válidos (6.097.815 votos)
Jair Bolsonaro (PL): 27,88% dos votos válidos (2.357.028 votos)
A diferença de votos entre Lula e Bolsonaro na Bahia foi de 4.740.787 (quatro milhões setecentos e quarenta mil, setecentos e oitenta e sete) votos, o que significa que Lula ganhou a eleição presidencial na Bahia ou seja: é o Presidente eleito pela Bahia.
Como a Bahia, embora sendo o quarto colégio eleitoral do Brasil, jamais elegeu um presidente da república, tem-se que Lula é o primeiro presidente da república "baiano". Espera-se que haja tratamento especial para a Bahia no próximo mandato, uma vez que em termos de índices negativos de desenvolvimento a Bahia é campeã nacional, apesar de o petismo estar governando a Bahia a mais de dezesseis anos e caminhando para os vinte.
A Bahia, em todo Séc. XX, elegeu, verdadeiramente, três governadores: J.J SEABRA, cuja corrente mandou no Estado até os anos 1930; JURACI MAGALHÃES, que mandou até meados dos anos 1960 e ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, que dominou e estado até o fim do século. Todos os outros governadores, eleitos ou impostos pelas diversas ditaduras dominantes no país, foram satélites desses líderes. A partir de 2006, foi inaugurada uma nova corrente dominante, agora partidária e não pessoal, pois o Partido dos Trabaladores-PT se assenhoreou do poder e vem ganhando todas as eleições pelo mesmo critério do antigo morubixaba. Indica um poste e a estrutura partidária o elege. Dois fatores colaboram fundamentalmente para a manutenção dessa dominação: o primeiro é o atraso involuntário (na verdade provocado pelos tais líderes) do povo baiano, que de tão habituado aos ferrões do feitor, não percebe que são mera massa de manobra; o segundo fator é Lula, que com técnicas de encantamento e a oferta ou promessas de migalhas, elege até um sapo para governar o quarto colégio eleitoral do Brasil, uma horda de necessitados que não sabem e nem podem distinguir entre o certo é o errado. Um povo que pode ser comprado com uma lata de água, uma saca de milho ou dois tostões de mel coado não consegue dar um voto raciocinado, votando pelos instintos básicos, que não enxerga os defeitos de caráter do candidato e sequer se dão conta de que estão sendo roubados.
O pior de tudo isto é que o candidato eleito não pode e nem quer fazer nada pelo povo baiano, pois corre o risco de perder o favoritismo, já que se os eleitores se soltarem dos cabrestos tenderão voltar pela razão, caindo as escamas dos olhos, impondo-se que nada se faça por este povo que se entrega pela ignorância. Num estado assim, os governantes se assemelham a Antônio Conselheiro, que prometia rios de leite e ribanceiras de cuscuz e não mudava nada da realidade, mas os sertanejos, iludidos pela miragem criada pelo mítico personagem, entregavam-lhe a própria vida.
A Bahia está sob grilhões, como sempre esteve, sendo mandada por figuras míticas fugazes como os oásis do deserto e seu povo, bom e cordato, vivendo à espera de alguém que, vestido num camisolão, os conduza à terra prometida. O poder na Bahia foi sempre ilusório, figurativo, onde uma pessoa encarna o poder de distribuir benesses pequenas, realizando algumas obras, mas mantendo o povo no cabresto da pobreza e incentivando a esperança em dias melhores, que nunca chegam. As quatro correntes que mandaram na Bahia até hoje, embora na aparência divergentes, na verdade, usaram a mesma técnica de dominação sobre a esperança e a fome para se perpetuarem no poder, comendo o tutano e deixando os ossos para o povo roedor.
Eleições são ganhas por palavras, gestos e atos, mas também pelas palavras, gestos e atos são perdidas.
Boa parte dos brasileiros votaram majoritariamente contra Bolsonaro nesta eleição. Fosse quem fosse o outro candidato, esse seria o resultado. Preferiu-se nao o Lula, mas o outro candidato, mesmo se sabendo que Lula tem certo apoio dos brasileiros. Trata-se de derrota do bolsonaro, sendo a vitória de Lula mero acaso. Venceu por estar lá, fosse outro o candidato venceria também. O comportamento errático do Presidente, as falas sem peias, o desconhecimento, a falta de percepção da realidade minimizando a gravidade dos problemas, associados à multiplicação de militares no poder e a insinuação de cumplicidade das FFAA com as ameaças presidenciais, tudo isso provocou a debandada de votos para o outro candidato, para evitar o rasgo da constituição, as mortes daí decorrentes e a necessidade de reconstitucionalização do país e o difícil recomeço da caminhada do país na busca do desenvolvimento. Nenhum país se desenvolve editando constituições ao longo caminhada. Os países que se desenvolvem são os que fincam raizes constitucionais e superam suas dificuldades através das decisões judiciais ou de leis novas que tratem dos assuntos controvertidos. O atual presidente pôs a constituicao em perigo e, com ela, a tentativa de substituir o direito pela força. Cabeças pequenas podem achar isto apenas uma travessura. Mas não é. É da estabilidade do país que se trata. Grosso modo, é como se um casal resolvesse, a cada atrito, se separar na tentativa de salvar o casamento. Matar para salvar. Tolice sem tamanho.
É certo que Lula tem algum apoio, mas o resultado de hoje é, em última análise, um gesto heroico da maioria contra um governo perigoso de Bolsonaro, que o fez perder estas eleições. Ele foi atingindo segmentos importantes dentro da sociedade e até na caserna com as defenestrações de generais importantes.
Os eleitores mais radicais estão propondo ao presidente a tomada de decisões absolutamente inconstitucionais para reverter o resultado das eleições e até sugerem medidas radicais. Porém, no campo do direito existe, para os insatisfeitos, a Ação de Impugnação de Mandato Eletivo que poderá afastar o eleito da posse. Podera ser proposta perante o poder judiciário que julgará a ação e poderá afastar o presidente eleito da posse. Porém, não há qualquer outra instância para os insatisfeitos atacarem a eleição, exceto a força bruta, cuja consequência é a configuração de golpe de estado ou apenas uma ação temerária que levará os seus autores à prisão. Nas eleições, a regra é que os eleitos tomarão posse com base no princípio majoritário: quem teve mais votos é eleito e toma posse. Se a eleição não for contestada perante o tribunal competente - o TSE - marterializa-se a eleição e quem perdeu se conforma e passa a pensar nas próximas eleições. Segundo o princípio democrático o candidato vencedor consagrado pela maioria dos eleitores se torna governante de quem nele votou, de quem nele não votou e de quem votou em outros candidatos, e de quem se absteve de votar. Portanto, o presidente eleito é o presidente de todos, em respeito ao princípio da maioria. A rigor a eleição não divide a nação, une-a. Os vencidos se recolhem enquanto os vencedores governam. Tentar dar golpe para inverter o resultado das urnas e tema para o direito penal.
Eleito pela Bahia, vamos ver como o presidente Lula se comportará com os baianos que lhe entregaram a bastão da presidência.