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ORÁCULO

O adversário de Lula nestas eleições falou tantas bobagens perigosas


PERIGOSA BIFURCAÇÃO

JOBIS PODOSAN


           Há dias de vencer e há dias de fracassar. Há a vitória real e a vitória aparente, como a de Pirro que, ao fim do combate teve tantas perdas irreparáveis, que vencer e fracassar eram expressões sinônimas. Essa situação recebeu o nome do rei Pirro do Epiro, cujo exército havia sofrido grandes perdas após derrotar os romanos na Batalha de Heracleia, em 280 a.C., e na Batalha de Ásculo, em 279 a.C., durante a Guerra Pírrica. Após a segunda vitória o rei chorou porque não tinha mais exércitos. Todos gostamos das narrativas das nossas vitórias e, embora saibamos que aprendemos  mais com as nossas derrotas, preferimos omitir ou esconder os fracassos e preferimos não dar o braço a torcer, porque é sempre difícil julgar a nós mesmos, principalmente quando nos deixamos enganar por alguém mesmo diante das mais claras evidências de que essa pessoa estava nos manejando e se fazendo passar por lebre escondendo as garras afiadas dos gatos.

Muita gente boa e honesta deste país refere-se e percebe à prestidigitação do Lula. Ele perdeu três eleições presidenciais na fase da simplicidade e, agora, está aceitando a arrogância, certo de que há ainda muitos pacóvios neste país. Porém, o fundamento da sua arrogância agora é outro. O adversário de Lula nestas eleições falou tantas bobagens perigosas no exercício da presidência que fez o esperto candidato do PT ressuscitar o Lulinha Paz e Amor que o elegeu presidente em 2002. Adotou o tom conciliador contrapondo-se ao tom arrebatado e virulento do atual presidente, tanto assim que, neste segundo turno, o candidato Bolsonaro vestiu a pele de cordeiro e passou também a parecer a pessoa razoável que nunca foi. Assustou o país e levou muitas lideranças políticas - até algumas não políticas - a temer pela saúde institucional do Estado Brasileiro, que está correndo o risco concreto de ver suas Forças Armadas saírem dos quartéis para afrontar a vontade popular, sem ter atribuições para isto, nem aqui e nem em parte alguma do mundo civilizado. Quando soldados saem da sua missão de guarda do Estado e arvora-se a dirigir o país eles quebram a Constituição e precisam remendar a Carta vigente e fazendo nascer, incontinenti, o desejo de reconstitucionalização, pois soldados são avessos aos meandros da política e tendem a tornar os cidadãos que pensam ao contrário deles como inimigos, quando, na verdade, são somente cidadãos que pensam diferente sendo o uso da força uma demasia de mentes estreitas. É possível encontrar-se Brasil afora, na mesma casa irmãos que votam em cada um dos candidatos, levados pelas suas crenças e simpatias!

Os seguidores do atual presidente estão montando um cenário de resultado único das eleições de domingo: ou Bolsonaro vence ou a eleição foi fraudada. Quer dizer: o resultado das eleições somente será aceito se Bolsonaro ganhar, caso contrário, houve fraude! Observe-se que se trata de fraude presumida, houve fraude antes da sua comprovação. Isto significa haver um único resultado possível. Se o resultado for desfavorável ao presidente, houve fraude e o derrotado tentará ficar no poder mesmo perdendo a eleição. Porém, como se chegou à conclusão que houve fraude, antes da aplicação do devido processo legal? Houve porque houve. Se não houvesse o capitão não seria derrotado, afinal ele jamais perdeu uma eleição! Teremos então uma situação esquisita: a minoria venceu a maioria, porque, no caso, a minoria dispõe de força militar suficiente para consertar o erro da maioria pelas armas. Será que esse cenário e possível? Vimos recentemente nos EUA esse argumento de vitória a qualquer custo ser manejado pelo Trump e, ao que parece, ele está caminhando para inaugurar a prisão de ex-presidente por achar que ele não poderia ser derrotado. Eu torço para que até domingo ambos os candidatos façam uma catarse e aceitem o resultado das urnas, seja ele qual for, afinal no processo democrático o veredicto é dado pelos eleitores e não pelas armas.

É preciso evitar o estupro da Constituição, permitindo que ela envelheça e passe a merecer o respeito dos cidadãos nascidos sob ela. Temos dois candidatos problemas neste segundo turno:  um não tem honra para ser novamente Presidente do Brasil e o outro põe em perigo o Estado brasileiro pela sua vocação ditatorial, seguidamente manifestada. O eleitorado vai decidir pelo mal menor. É o que se espera da decantada sabedoria popular.

Torçamos para que a Constituição já tenha criado força histórica suficiente para resistir à crise que advirá seja qual for o resultado das eleições. Ou que o candidato eleito desmonte as suas armas e exerça o mandato no interesse do país e não olhando para o próprio umbigo.  Ou ainda que, seja qual for o resultado das eleições, as Forças Armadas estejam a altura da sua missão constitucional e deixe à política a resolução dos problemas políticos do país, não usando contra o povo as armas que o próprio povo lhes colocou nas mãos para assegurar a paz, não fazendo com que os militares entrem em cena para matar o povo a quem deve servir. 

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