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ORÁCULO

O presidente pagará o preço das acusações


O ADVERSÁRIO ERRADO
JOBIS PODOSAN

Custa crer que o candidato Bolsonaro, que está disputando o segundo turno, tenha, de repente, mudado da água para o vinho o seu discurso agressivo contra o Poder Judiciário, pois passou o mandato inteiro atacando as eleições com as urnas eletrônicas, acusando de fraude as eleições realizadas nesse sistema. Soam estranhas as acusações já que o Presidente disputou todas as eleições realizadas desde a implantação do sistema 1996, ganhou todas as eleições e nunca denunciou a falsidade, sequer a fragilidade, das urnas eletrônicas. Quer dizer: o sistema só é bom para vencer!

Acenar com falsidade apenas diante da possibilidade de derrota revela arrematada tolice. Eleição alguém ganha e alguém perde. Acusar de falso um sistema testado e aprovado, sem nenhuma falsidade comprovada e com ação de variadas fiscalizações, parece apenas argumento de quem percebe que vai perder as eleições. Ainda pior porque passou o primeiro turno, restaram poucos cargos em disputa e nenhuma falsidade foi comprovada, pelas vias próprias, apesar dos quase infinitos fiscais que se debruçaram sobre o sistema.

Ao que parece o presidente pagará o preço das acusações jogadas ao vento, do jeito de quem cospe para cima. Passou para o segundo turno, mas com um número grande de diferença para o primeiro colocado. Talvez tivesse ganhado as eleições se não focasse na honra alheia e prestasse mais atenção na própria. Falou tanto que foi perdendo as eleições por setores, foi caindo em descrédito por acusar de corrupto um sistema do qual se beneficiou por mais duas décadas e contra o qual jamais se provou nenhuma fraude. O sistema é insuscetível de fraude? Nenhum sistema criado pelo homem o é. O homem pode corromper qualquer sistema por ele mesmo criado. Por isto que, ao longo do tempo, o sistema vai e foi sendo aperfeiçoado, com a múltipla participação de fiscais. Nesta eleição até as Forças Armadas, que tecnicamente nada têm a ver com a lisura do pleito, exceto quando solicitadas pela própria justiça eleitoral, foram chamadas e participaram do controle do sistema e nada até agora foi detectado. Quer dizer: o presidente foi para o segundo turno contra o candidato que ele próprio viabilizou. Quanto mais Bolsonaro criticava e acusava a Justiça Eleitoral e ameaçava não aceitar o resultado das eleições, mais gás e força foi dando para Lula que passou a surfar no medo que Bolsonaro provocava nas pessoas sensatas deste país, que passaram a olhar para Lula como um mal menor, porque sem possibilidade de ameaçar o Estado brasileiro com um retrocesso institucional, com mais um recomeço partindo do ponto zero.
Porém, nada como um processo para deter intenções maléficas. No debate na BAND Bolsonaro exibiu uma decisão do STF, tendo como relator o Min. Alexandre de Morais, que deu uma decisão favorável a ele, contra o Lula. Estranho? Para o Presidente sim, pois Moraes foi definido ao longo do mandato presidencial como "canalha". Estranho também para mim e tantos outros que conhecem a natureza das ações judiciais.

Mas voltemos à mudança extraordinária ocorrida com o candidato Bolsonaro no segundo turno. Ele não está sendo ele mesmo. Mimetizou um personagem estranho e está meigo como um Louva-deus. Tivesse encarnado esse novo personagem durante o mandato inteiro seria agora reeleito com aplausos de pé. Mas exerceu o mandato presidencial com tal destempero que está, agora, na fase meiga (ou piegas), pedindo desculpas pelas grosserias e falta de temperança.

Apesar dos percalços causados pelos filhos, o candidato, pessoalmente, poderia ser visto como honrado e bem intencionado. Porém, disparando a metralhadora da incontinência verbal contra todos, tentando se mostrar como único detentor da honra, foi causando o receio que o levou a estar perdendo as eleições para um candidato que criou o discurso de Robin Hood e a mágica simpatia do Zorro, que eram ladrões, bem intencionados, que destinava parte do roubo para os mais pobres que, entre a honra e a comida, preferem a comida, porque a fome antecede a todas as outras necessidades humanas. Bom é quem dá de comer a quem tem fome. Não é à toa que Lula, nos seus discursos, fala nas três refeições diárias que dará aos pobres. Não há pobre que resista a isto. É inexigível pedir que resistam a isto. A comida antecede a qualquer outra necessidade, seja material, seja espiritual. Embora não religioso (agora está até tendo comportamentos litúrgicos) Lula está aparecendo aos pobres como um Jesus milagroso, que de um cesto de pão e uns poucos peixes, alimentou uma multidão de famintos e ainda houve sobras. Não sei se ainda será tempo para o Messias brasileiro formar uma imagem de generosidade que leve o povo a reelegê-lo presidente, depois das duas grandes tolices de demonizar o Poder Judiciário e ameaçar derrubar a Constituição anulando as eleições, duas tarefas fora do seu alcance sem uso da força arbitrária, jogando no colo do adversário o voto dos brasileiros sensatos, que preferirão o mal menor conhecido, mas inofensivo ao Estado brasileiro.

Mais grave ainda é o Presidente mandar o ministério da defesa apurar lisura do pleito eleitoral. O Poder Judiciário não pode ser investigado pelo Poder Executivo, seja na atividade típica, seja na atividade administrativa. O Poder Judiciário só pode ser investigado pelo próprio Poder Judiciário, por isto ele tem organização complexa e em camadas diversas. Quem quiser atacar a lisura do pleito terá que se apresentar perante o órgão competente do Poder Judiciário, através das ações competentes e pedir que se apure as irregularidades apontadas, juntando as provas que tiver para sustentar as acusações que tiver.

Senão será somente só mais um ato falho do Presidente. 

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