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ORÁCULO


O MAL MENOR: QUAL SERÁ?

JOBIS PODOSAN

 

O texto que segue é o do art. 13 da Constituição: a língua portuguesa é o idioma de todos os brasileiros. São também de todos os brasileiros a Bandeira, o Hino, as armas e o selo nacionais pertencem A TODOS os brasileiros, não havendo "proprietários e nem possuidores individuais ou de classe" desses elementos espirituais do país. Ninguém pode deles se apropriar para se fazerem mais brasileiros que os demais. São símbolos civis, porque a cidadania é civil. Não se trata de símbolos militares, mas de símbolos civis, repito.

O presidente Jair Bolsonaro cometeu muitos erros na campanha, muitos deles pequenos, mas que, somados, tiraram votos. Diatribes familiares, erros pontuais, a língua solta para falar coisas impróprias para o chefe de uma nação, como a cantilena do imbrochável, pilotar moto sem capacete, tentar usurpar funções do Poder Judiciário e do Poder Legislativo, transmissão da ideia de que pode, a qualquer momento, dar um golpe de Estado, usando as Forças Armadas para tal etc. Porém,  três erros foram determinantes para a redução dos votos do candidato, que talvez tenha lhe custado a reeleição e a  eleição do Lula. O primeiro foi a tentativa de apropriação dos símbolos nacionais, que não podem subtraídos de ninguém. Os símbolos acima mencionados pertencem ao passado, ao presente e ao futuro de todos os brasileiros. As cores da nossa Bandeira são de todos nós, são símbolos civis da nação e não representação dos militares; o Hino Nacional é música para todos os ouvidos brasileiros e não somente os dos militares. São símbolos que incumbe a todos usar e proteger e que não podem ser usados como ingredientes políticos em campanhas eleitorais de fulano ou beltrano. São símbolos de todos e de ninguém em particular. O seu uso como coisa própria gera um sentimento de apropriação indébita; o segundo erro foi o uso em vão do nome de Deus e a manifestação religiosa por quem a conduta desmente a fé e a religiosidade. O uso de Deus para campanha eleitoral laica é fuga da argumentação política para engabelar a fé do povo, principalmente para atrair a boa-fé dos religiosos. Votar não é um ato de fé e nem mesmo um ato cívico, é um mero método de escolha que o titular do poder (o povo) pratica para preencher os cargos eletivos, colocando neles cidadãos que atuarão a serviço do titular do poder, ou seja, o próprio povo; o terceiro erro foi a tentativa insana de levantar suspeitas sobre a lisura das urnas eletrônicas, usadas há  mais de duas décadas, sem que nenhuma acusação se provasse contra elas, usando, tão somente, as Forças Armadas, como fator de controle da lisura do pleito, atribuindo a elas competência  estranha ao seu papel constitucional. Estes três fatores o fizeram praticamente a perder as eleições.
Se o candidato insistir nesta senda terá sua chance de ser reeleito jogada no ralo das tolices. A diferença de votação é grande, porque os que foram ao segundo turno quase totalizaram os votos válidos. A eleição está praticamente ganha por Lula, porque incumbe a Bolsonaro a tarefa de atrair os votos de Ciro e Tebet. Se atrair só a metade a eleição está perdida. O presidente violou a constituição sucessivamente ao atirar suspeitas sem provas contra o sistema eleitoral, esquecido que o poder é um só, repartido em funções distintas para evitar o excesso de poder. E errou feio. Porque, sem ter competência para mudar nada, jogou suspeitas ao vento. Os poderes não podem investir uns contra os outros sem que sofra também as consequências das pedras lançadas. Com tais suspeitas atiradas a esmo, o presidente não fez mais que levantar a bola para Lula fazer um belo gol. Estava morto e enterrado e foi trazido ao jogo eleitoral pela imprevidência do presidente.

Lê-se nas redes sociais que "o Nordeste foi responsável pela liderança de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno das eleições de 2022. A região deu ao petista 12,9 milhões de votos de vantagem em relação a Jair Bolsonaro (PL). O resultado amorteceu a derrota de Lula no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste. Nessas três regiões, o petista teve 6,95 milhões de votos a menos que o presidente. No saldo final do país, a diferença foi de 6,1 milhões de votos a favor de Lula. Ao todo, Lula recebeu 57.257.473 votos na votação deste domingo. Bolsonaro, o segundo colocado, contabilizou 51.071.106. A diferença entre os dois candidatos foi de 6.186.367 votos. Isso significa que Lula teve 5,23% de votos a mais do que Jair Bolsonaro”.

A pequena parcela do povo que irá decidir as eleições está diante de duas alternativas, ambas ruins. A primeira é votar em Lula e seus sequazes que ainda estão soltos. Há uma grande quantidade de petistas que estão presos, usando tornozeleiras eletrônicas e processados. Outros estão soltos por cumprimento das penas a que foram condenados, muitos que devolveram o que roubaram. Os outros, que compõem o staff atual do candidato, os velhos e os novos, são candidatos fortes à prisão, uma vez que o líder não  vai deixar de ser quem é mudando a sua natureza aos quase 80 anos. Esses seguidores, novos ou velhos, estão todos de olho nas batatas que Lula vai lhes dar se for eleito e a quadrilha voltar ao Poder.
A segunda alternativa, porém, pode ser pior que a primeira. O atual presidente põe em perigo o Estado brasileiro, ao acenar com um golpe de estado que zerará a evolução constitucional do país, que ele já desmoralizou a nível internacional e pôs grande apreensão entre brasileiros de mente sã. Seus seguidores são gente que se recusa a ver que constituição boa é constituição velha, constituição que rege a nação e não que é regida pelas paixões de momento, levadas por interesses de poucos.

Estamos, portanto, na mão dessa minoria que vai decidir entre o ruim e o pior. Já vimos isto nas eleições presidenciais de 1989, com Lulalá! Deu no que deu.

Uma coisa, no entanto, parece estar certa: é preciso limitar o papel das Forças Armadas, de maneira que elas não possam mais colocar o Estado em perigo, assombrando a Nação, deixando de ser um elemento de instabilidade.

Do jeito que as coisas estão postas, podemos afirmar que a vocação autoritária do atual presidente tornou mais palatável votar num batedor de carteiras que correr o risco de fazer periclitar e Estado. A questão virou uma discussão sobre o mal menor.

A não ser, claro, que alguém ponha juízo na cabeça do presidente para que ele perceba que não é tentando assustar a Justiça Eleitoral que ele vai ganhar a eleição.

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