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ORÁCULO

Na propaganda eleitoral está acontecendo uma coisa interessante


NEM UM NEM OUTRO
JOBIS  PODOSAN

         Estamos diante da eleição mais fácil do Brasil depois da redemocratização do país. Nunca foi tão clara a inadequação de dois candidatos à Presidência da República. Um saiu da cadeia direto para ser candidato, dizendo que foi absolvido, o que não é verdade. O mérito do processo, dizendo ser ele culpado ou inocente, não foi julgado. O que o STF decidiu foi que havia vício de competência do juiz que julgou os processos movidos contra ele. Em termos simples, a Suprema Corte disse que ele foi julgado pelo juiz errado e anulou os julgamentos desse juiz para que ele fosse julgado pelo juiz certo. Ocorre que, pelo tempo decorrido entre os fatos e a época atual, os crimes prescreveram, que dizer o tempo impede novo julgamento e, sendo assim, não pode mais ser julgado. O STF nada disse sobre as condenações. Se fosse julgado pelo juiz correto, hoje ele estaria na cadeia e não disputando Presidência.

          Quanto ao outro, a cada dia, sua situação fica mais difícil, porque aqui e ali vão acontecendo fatos típicos (crimes) próximos de si ou dos seus parentes e assessores próximos, que podem comprometer a eleição ou o próprio exercício do mandato.

          Na propaganda eleitoral está acontecendo uma coisa interessante: os candidatos que estão em primeiro lugar nas pesquisas esqueceram dos demais candidatos. Cada um está focado no outro e cada um desmanchando o outro. A coisa está chegando num ponto tal que o caso está parecendo com a história das duas cobras que começam a brigar e uma começa e engolir a outra pelo rabo e, no fim da briga, uma engole a outra e as duas desaparecem, por terem se engolido mutuamente. Cada um desses dois candidatos está provando que o outro não presta e, ao que parece, ambos estão certos. Talvez o Brasil lhes agradeça a competição e os dois voltem a ser somente dois cidadãos que não voltarão à Presidência. Esses dois candidatos estão prometendo rios de leite e ribanceiras de cuscuz a quem ganha até um salário mínimo (SM). Aos que ganham um salário mínimo, prometem aumentá-lo, aos que ganham menos do que o SM não precisam trabalhar, vão ganhar de graça uma quantia direta que beira o SM. Pergunta-se: para que trabalhar empregado se vão receber o fruto do trabalho dos outros?

Por outro lado, alguns fatos dignos de nota e de repúdio estão acontecendo na cara de todos. O candidato Presidente está cometendo dezenas de infrações de trânsito, a cada dia, explicitamente, ao pilotar sua motocicleta, nas tais motociatas, sem capacete. Ele pode? A lei não se aplica a ele? Ou ele é o que primeiro deve dar o exemplo?

        O art. 244 do Código de Trânsito considera infração gravíssima de trânsito conduzir motocicleta, motoneta, sem usar capacete de segurança ou vestuário de acordo com as normas e as especificações aprovadas pelo Contran, com previsão de multa e suspensão do direito de dirigir, além retenção do veículo até regularização e recolhimento do documento de habilitação. O presidente candidato tem noção exata de que está infringindo a lei, tanto é assim que todos os outros participantes estão usando regularmente seus capacetes. SOMENTE O PRESIDENTE SE PÕE ACIMA DA LEI E A VIOLA. Como o poder judiciário não age de ofício, a batata do Presidente está apenas assando, num péssimo exemplo para os demais cidadãos que, todos os dias, sofrem penalidades por não usar o capacete. Estará ele acima da lei? Se o Presidente pode descumprir uma lei, se pode arvorar o direito de descumprir quaisquer outras. Porém, a conta vai chegar dada a abundância das provas, principalmente se o candidato, numa dessas demonstrações absurdas de poder, provocar ou sofrer algum acidente de percurso no trânsito.

        O candidato em primeiro lugar nas pesquisas cometeu crimes antes da campanha, o candidato presidente está cometendo infrações atuais, cada dia mais graves. Eu diria aos dois: vencer não é não errar, é compensar os erros com os acertos e não praticar crimes para chegar à Presidência. Ainda bem que temos opções no primeiro turno inclusive de afastar os dois que estão optando pelo crime como meio de governar o país. Se um dos dois for eleito, vem mais um impeachment por aí.

       Outro aspecto a considerar é que os aliados do Presidente estão tentando transformar o voto em manifestação de patriotismo (está na propaganda eleitoral na televisão). Nunca foi. Os cidadãos votam para escolher empregados seus, servidores públicos, gente que, autorizados pela lei - quer dizer pelos cidadãos - vão trabalhar não em nome próprio, mas como meros representantes, para gerir o país no interesse do povo e, ao fim dos respectivos mandatos, devem retornar ao seio do povo. Trata-se de mero mecanismo de escolha dos servidores categorizados que vão ocupar cargos políticos, que entram e podem sair das funções por cumprimento do mandado ou por exclusão qualificada quando cometem atos desabonadores (dois já foram afastados sob a nova Constituição).

       A propaganda eleitoral é um mar de rosas, dada a pureza dos candidatos, dá vontade de ajoelhar diante da televisão, ante tais apóstolos. Porém, é grande a diferença entre o que se diz e o que se faz. Se houver contradição entre o que se diz e que se faz ou se fez, a verdade está com os atos e não com as palavras. As palavras são importantes quando a boca de onde saem pertence a alguém que as ouve e cumpre. A palavra, semente ela, desconectada da conduta de quem as fala, têm valor relativo ou nulo. As palavras voam, são os exemplos, a conduta, que revelam o caráter da pessoa. A palavra desconectada da conduta é somente instrumento da enganação e isto se prova cabalmente na campanha eleitoral em andamento: promete-se tudo, mesmo cada um sabendo que não vai e nem pode cumprir o que estão prometendo. Se para se eleger o candidato precisa vender a alma Diabo, depois de eleito ele não tem compromisso com mais ninguém, tem que pagar a conta ao credor satânico.

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