- 26 de novembro de 2024
NEM UM NEM OUTRO
JOBIS PODOSAN
Estamos diante da eleição mais fácil do Brasil depois da redemocratização do país. Nunca foi tão clara a inadequação de dois candidatos à Presidência da República. Um saiu da cadeia direto para ser candidato, dizendo que foi absolvido, o que não é verdade. O mérito do processo, dizendo ser ele culpado ou inocente, não foi julgado. O que o STF decidiu foi que havia vício de competência do juiz que julgou os processos movidos contra ele. Em termos simples, a Suprema Corte disse que ele foi julgado pelo juiz errado e anulou os julgamentos desse juiz para que ele fosse julgado pelo juiz certo. Ocorre que, pelo tempo decorrido entre os fatos e a época atual, os crimes prescreveram, que dizer o tempo impede novo julgamento e, sendo assim, não pode mais ser julgado. O STF nada disse sobre as condenações. Se fosse julgado pelo juiz correto, hoje ele estaria na cadeia e não disputando Presidência.
Quanto ao outro, a cada dia, sua situação fica mais difícil, porque aqui e ali vão acontecendo fatos típicos (crimes) próximos de si ou dos seus parentes e assessores próximos, que podem comprometer a eleição ou o próprio exercício do mandato.
Na propaganda eleitoral está acontecendo uma coisa interessante: os candidatos que estão em primeiro lugar nas pesquisas esqueceram dos demais candidatos. Cada um está focado no outro e cada um desmanchando o outro. A coisa está chegando num ponto tal que o caso está parecendo com a história das duas cobras que começam a brigar e uma começa e engolir a outra pelo rabo e, no fim da briga, uma engole a outra e as duas desaparecem, por terem se engolido mutuamente. Cada um desses dois candidatos está provando que o outro não presta e, ao que parece, ambos estão certos. Talvez o Brasil lhes agradeça a competição e os dois voltem a ser somente dois cidadãos que não voltarão à Presidência. Esses dois candidatos estão prometendo rios de leite e ribanceiras de cuscuz a quem ganha até um salário mínimo (SM). Aos que ganham um salário mínimo, prometem aumentá-lo, aos que ganham menos do que o SM não precisam trabalhar, vão ganhar de graça uma quantia direta que beira o SM. Pergunta-se: para que trabalhar empregado se vão receber o fruto do trabalho dos outros?
Por outro lado, alguns fatos dignos de nota e de repúdio estão acontecendo na cara de todos. O candidato Presidente está cometendo dezenas de infrações de trânsito, a cada dia, explicitamente, ao pilotar sua motocicleta, nas tais motociatas, sem capacete. Ele pode? A lei não se aplica a ele? Ou ele é o que primeiro deve dar o exemplo?
O art. 244 do Código de Trânsito considera infração gravíssima de trânsito conduzir motocicleta, motoneta, sem usar capacete de segurança ou vestuário de acordo com as normas e as especificações aprovadas pelo Contran, com previsão de multa e suspensão do direito de dirigir, além retenção do veículo até regularização e recolhimento do documento de habilitação. O presidente candidato tem noção exata de que está infringindo a lei, tanto é assim que todos os outros participantes estão usando regularmente seus capacetes. SOMENTE O PRESIDENTE SE PÕE ACIMA DA LEI E A VIOLA. Como o poder judiciário não age de ofício, a batata do Presidente está apenas assando, num péssimo exemplo para os demais cidadãos que, todos os dias, sofrem penalidades por não usar o capacete. Estará ele acima da lei? Se o Presidente pode descumprir uma lei, se pode arvorar o direito de descumprir quaisquer outras. Porém, a conta vai chegar dada a abundância das provas, principalmente se o candidato, numa dessas demonstrações absurdas de poder, provocar ou sofrer algum acidente de percurso no trânsito.
O candidato em primeiro lugar nas pesquisas cometeu crimes antes da campanha, o candidato presidente está cometendo infrações atuais, cada dia mais graves. Eu diria aos dois: vencer não é não errar, é compensar os erros com os acertos e não praticar crimes para chegar à Presidência. Ainda bem que temos opções no primeiro turno inclusive de afastar os dois que estão optando pelo crime como meio de governar o país. Se um dos dois for eleito, vem mais um impeachment por aí.
Outro aspecto a considerar é que os aliados do Presidente estão tentando transformar o voto em manifestação de patriotismo (está na propaganda eleitoral na televisão). Nunca foi. Os cidadãos votam para escolher empregados seus, servidores públicos, gente que, autorizados pela lei - quer dizer pelos cidadãos - vão trabalhar não em nome próprio, mas como meros representantes, para gerir o país no interesse do povo e, ao fim dos respectivos mandatos, devem retornar ao seio do povo. Trata-se de mero mecanismo de escolha dos servidores categorizados que vão ocupar cargos políticos, que entram e podem sair das funções por cumprimento do mandado ou por exclusão qualificada quando cometem atos desabonadores (dois já foram afastados sob a nova Constituição).
A propaganda eleitoral é um mar de rosas, dada a pureza dos candidatos, dá vontade de ajoelhar diante da televisão, ante tais apóstolos. Porém, é grande a diferença entre o que se diz e o que se faz. Se houver contradição entre o que se diz e que se faz ou se fez, a verdade está com os atos e não com as palavras. As palavras são importantes quando a boca de onde saem pertence a alguém que as ouve e cumpre. A palavra, semente ela, desconectada da conduta de quem as fala, têm valor relativo ou nulo. As palavras voam, são os exemplos, a conduta, que revelam o caráter da pessoa. A palavra desconectada da conduta é somente instrumento da enganação e isto se prova cabalmente na campanha eleitoral em andamento: promete-se tudo, mesmo cada um sabendo que não vai e nem pode cumprir o que estão prometendo. Se para se eleger o candidato precisa vender a alma Diabo, depois de eleito ele não tem compromisso com mais ninguém, tem que pagar a conta ao credor satânico.