- 26 de novembro de 2024
COTILLEO
JOBIS PODOSAN
Eu detesto fofoca, não suporto quem fala mal da vida alheia, a minha vida é um livro aberto! Os espanhóis usam a palavra cotilleo para designar adeptos do esporte favorito de quem, não tendo nada a fazer de útil, dedica-se a espalhar notícias, verdadeiras ou falsas, de preferência falsas, a respeito, sempre, de terceiros, de quem se tornam inimigos abstratos, uma vez que, às vezes, não se conhecem e nunca mantiveram contato algum. O cotilleo é tamanho que em pouco tempo são anulados pelas opiniões exageradas a respeito das virtudes dos oponentes.
A tecnologia é um bem, enquanto meio a nosso serviço para praticar o bem. Ela, em si, não produz mal algum, como a dinamite ou o avião, que produz bens imensos, mas que podem e são usados para o mal e o extermínio dos humanos que os inventaram. Assim são as redes sociais, que tornaram mais fáceis as nossas vidas, nos aproximando muito mais que o parentesco ou vizinhança. Nossos amigos se tornaram mais amigos, compartilhamos coisas fantásticas, de prazeres e dores, nos emocionando. E são, enfim, atendendo aos fins para os quais os utilizamos, maravilhosos. Ruim, mesmo, são os usos alternativos que desses meios fazemos. A antiga fofoca, que dá título a este artigo, era coisa de comadres ou papo de bar entre amigos. Hoje, jogamos nas redes sociais notícias negativas de gente conhecida e desconhecida, desenvolvendo a morbidez do mal pelo mal. Tentamos demonstrar que os outros são piores do que nós, não porque nós alteamos em algum valor, mas tentando reduzir o outro para parecermos maiores. Falar mal até de quem gostamos é como praticar um esporte favorito, ninguém mais tem virtudes, importam só os defeitos. A canalhice grassa.
Até pouco tempo, ser "de direita" era ser abominável e para obter tal título excrescente bastava discordar do governo de então. Agora, "de direita" virou virtude e ser "de esquerda", tão somente por discordar do governo de plantão, virou a encarnação do demônio. As pessoas viraram adjetivos. Tudo para reduzi-las e dizer que são menos, então, adotamos o binômio presta/não presta, para nos definir a todos, porque pensamos ou não pensamos como certa pessoa. Abdicamos de nós mesmos em favor de uma só pessoa, a quem entregamos tudo de nós. O primeiro já nos decepcionou, o segundo caminha a passos largos para o ostracismo, voltando ao anonimato qualitativo no qual viveu quase toda a sua vida. O cotilleo vem crescendo, sendo, talvez necessária, a intervenção da esperança para que prevaleça o menor dos males.
É antiga essa técnica de parecemos grandes e melhores rebaixando e piorando os outros, fazendo com os outros aquilo que jamais gostaríamos que fizessem conosco. Agora, com o mau uso das redes sociais, isto exagerou porque alguém produz o rebaixamento e nós reproduzimos para os demais. Uma coisa verdadeiramente horrível. Esquecemos as três peneiras de Sócrates e passamos a nos regozijar com a desgraça alheia. Recordemo-las:
Um homem foi ao encontro de Sócrates levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:
- Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!
- Espera um momento – disse Sócrates – antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.
-Três peneiras? Que queres dizer?
- Vamos peneirar aquilo que queres me dizer. Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres dizer-me é verdade?
- Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.
- A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?
Envergonhado, o homem respondeu:
- Devo confessar que não.
- A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo?
- Útil? Na verdade, não.
Então, disse-lhe o sábio, se o que queres contar-me não é verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas para ti.
Moral da história: Se as pessoas usassem desses critérios, seriam mais felizes e usariam seus esforços e talentos em outras atividades, antes de obedecer ao impulso de simplesmente passá-los adiante.
Arremata Sócrates:
Se passou pelas três peneiras, conte! Tanto eu, como você e seu irmão iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo. Será uma fofoca, um cottileo, a menos para envenenar o ambiente e fomentar a discórdia entre irmãos, colegas e todo o planeta.