- 26 de novembro de 2024
A CAMPANHA SEM O TIRO
JOBIS PODOSAN
Alhures escrevi: a figura do recruta bisonho é conhecida nos quartéis, e até na literatura jurídica, pela pena respeitada de Nelson Hungria, conhecida como o soldado que, por inexperiente, é acanhado nos movimentos e não sabe obedecer a ordem simples, atrapalha-se com atividades pequenas e não sabe prestar contas atividades modestas. O recruta bisonho não distingue as ordens que recebe, o que lhe é mandado é obedecido. A palavra ordem é de cumprimento inapelável, pois não sabe distinguir ordem legal de ordem ilegal, tampouco passa pela sua cabeça que a lei lhe permite não cumprir ordens absurdas e conflitantes com a lei. É por isto que a palavra bisonho se aplica somente no primeiro degrau da carreira militar e não aos demais postos e graduações, sendo impensável a figura de um coronel bisonho, por exemplo!
Agora, no entanto, ergue-se diante de nós a figura estranha de um Capitão bisonho, incapaz de medir as consequências dos seus atos, praticando uma tolice medonha, nunca vista em país algum: reúne-se com embaixadores de mais de 50 países para acusar o sistema que o elegeu de ser corrupto! Contradição ou sandice? Ou os dois! Esse Capitão foi eleito Presidente da República tendo como único mérito um tiro oportuno, ou não, que levou no início da campanha, da qual não participou, e que arrastou o povo brasileiro, que sempre teve simpatia pelos seus militares, a elegê-lo, aproveitando-se disso para nada dizer que atraísse o voto dos seus concidadãos.
A verdade é que praticou um ato que nunca se viu e provavelmente nunca mais se verá. Ajoelhou-se diante de países estrangeiros e atacou o seu próprio País, com a agravante de que o sistema por ele acusado de viciado foi o mesmo que o elegeu ou seja, ele se beneficiou do sistema que agora acusa de desonesto!
É certo que o povo brasileiro tem simpatia e admiração pelos seus militares e disso se aproveitou o capitão para incorporar em si a as Forças Armadas destinatárias da empatia dos brasileiros e das quais saiu com conceito baixo entre seus pares, passou dezenas de anos no baixo clero na Câmara dos Deputados, sem destaques e sem projetos, aparecendo apenas em episódios negativos, principalmente para exaltar maus militares. Essa figura pulula em todas as corporações militares, quanto mais desajustados, mais radicais. E pior. Arrastou com ele generais tidos como de escol e depois expulsou-os da sua proximidade ao notar sintomas de discordância das suas diatribes. Ficaram alguns que agora não sabem como sair, mas, com certeza, incomodados, e muito, com essa genuflexão diante de países estrangeiros ao atacar o sistema que o elegeu sem mérito que justificasse a eleição. Os militares estão e vão pagar um preço alto pela inoportuna submissão interessada ao indisciplinado oficial. Vão amargar o dinheiro a mais que receberam e muitos estão ainda recebendo, substituindo a verde oliva da farda pelo vermelho da vergonha. O ato de abdicação da honra nacional, num entreguismo nunca visto em parte alguma, provocou resposta das duas principais democracias do mundo - EUA e Inglaterra - reafirmando ambas a fé e confiança no sistema eleitoral brasileiro, dando uma homérica "mijada" no capitão de curto curso, ao afirmarem ser o sistema eleitoral brasileiro testado e comprovado com um dos melhores do mundo.
Será que o Presidente pensou isso sozinho ou alguém muito próximo de si - os filhos, por exemplo - soprou nos ouvidos presidenciais uma estultice dessas e o intrépido Presidente, apenas acolheu a estupidez?
São muitas as hipóteses, todas descabidas ou, então, o Presidente tem algo em mente que jamais alguém imaginou ou imagina. Com certeza seus seguidores mais próximos já engendraram alguma explicação fantástica para o tresloucado ato de submissão e humilhação do seu país. Os militares de raiz devem estar vermelhos de vergonha de ver a sua pátria agachada diante do mundo e vendo, olhando para o passado, que os velhos generais estavam certos ao não aceitarem submeterem-se sequer a um general de divisão, como quase aconteceu com o último general presidente, que teve de ser promovido às pressas ao último posto para salvar a hierarquia.
Talvez a razão da precipitação da acusação de fraude se deva ao fato de, no Brasil, a apuração se concluir no mesmo dia da eleição, poucas horas após o encerramento da votação e o fato esteja consumado, não dando oportunidade para contestações. Vimos nos EUA o Presidente Trump alegar fraude durante a apuração dos votos que, lá, demora vários dias. Daí que o Presidente do Brasil precisa alegar, não que houve, mas que haverá fraude nas eleições. Fraude numa eleição que ainda não aconteceu, sequer começou. Esclareça-se que quase 30 nos de eleições com urnas eletrônicas, nunca se detectou sequer sinal de fraudes e olhe que temos eleições no Brasil de dois em dois anos!
O estrépito da sociedade não demorou, veio de todo lado a crítica a essa subserviência presidencial.
Já não se fazem mais patriotas como antes. Primeiro o TCU-Tribunal de Contas da União-TCU, a Policia Federal-PF e depois a Agência Brasileira de Inteligência-ABIN, dentre outros órgãos e pessoas, disseram não ter indício de fraude nas urnas eletrônicas desde que foram implantadas no país em 1976. A própria opinião pública revela, ao votar alegremente nas eleições a cada dois anos, a qualidade do sistema eletrônico de votação.
Será o medo da campanha aberta o que assusta o bravo capitão, sem estar ao abrigo daquele tiro benfazejo - que pode ter sido real, mas a interpretação foi magistral - tornando seu silêncio eloquente? Pena ser difícil repetir a dose. Tendo tanta certeza do seu bom desempenho, por que está tentando sabotar o processo eleitoral, justificando antecipadamente eventual derrota, querendo arrastar consigo as Forças Armadas para uma batalha na qual já entram perdidas?
Há ainda generais nas Forças Armadas!
Espera-se.