00:00:00

ORÁCULO

Todos queremos o que não temos.


O AMIGÃO

JOBIS PODOSAN


          Todos queremos o que não temos. O que temos com o tempo perde a importância. Certo rapaz apaixonou-se por uma moça belíssima, cortejou-a e foi premiado com a aceitação da formosa, o que provocou um frêmito de revolta dos outros candidatos. A revolta se deu porque o pretendente vitorioso não era do local, era originário da sede do município e a formosa morava num distrito desse mesmo município. Os rapazes candidatos à mão da bela eram seus vizinhos, conhecidos desde a infância.

Quando resolveu aceitar a corte do rapaz de outro local, a moça provocou a ira dos vizinhos, que aceitavam que a escolha recaísse sobre qualquer deles, mas alguém de longe estava fora de cogitação: o premiado deveria ser alguém do local e não de fora. A vontade da moça em nenhum momento foi considerada. Instalou -se a guerra. Os caminhos foram fechados para o escolhido.  Ele não chegaria à casa dela para efetivar o namoro, se se atravesse seria sumariamente surrado. Organizaram-se plantões, a guerra estava declarada!
         Mas o escolhido era obstinado e montou uma estratégia para conquistar os adversários. Não insistiu em ir ver a namorada e passou e frequentar os babas (futebol) matinais aos domingos. Não se ofereceu para jogar e limitava-se a comparecer ao campo e ficar olhando e aplaudindo as boas jogadas, especialmente as do irmão da pretendida. Um dia, faltou alguém para completar uma das equipes e ele foi chamado ao jogo. Entrou e fez bonito, jogava bem. A partir desse fim de semana passou a ser escolhido todos os dias e foi conquistando adeptos, mesmo entre os disputantes à mão da dita cuja. A pouco e pouco foi conquistando a todos e fazendo amigos entre os jogadores e amenizando a ira dos adversários. Enfim, o esporte zerou as diferenças e o namoro começou com as advertências de praxe: não fosse ele decepcionar a bela e depois cair fora deixando a moca falada. Compromissos e condições foram estabelecidos e o namoro floresceu e desembocou em casamento, sob os aplausos gerais.

O casamento frutificou e a jovem e bela esposa logo ficou grávida, fez uma barriga enorme, e pariu o primeiro filho, um garoto forte e bonito, motivo de muitos regozijos nas famílias dos nubentes e sob a admiração geral. Passado o resguardo, a jovem esposa logo pegou nova barriga e o mundo recebeu uma menina linda. Não demorou muito e um novo menino veio à luz e a jovem esposa, com os três partos seguidos e com pouco espaço de tempo, engordou de tal forma que ficou tão larga e roliça que parecia ter ficado mais baixinha de estatura. Mãe amantíssima, ela se negava a fazer dieta porque amamentava os filhos ininterruptamente e não queria, por vaidade prejudicar as crianças. Tornou-se uma senhora gorda e risonha, satisfeita da vida, dos filhos e do marido.
Os antigos pretendentes da moça passaram a tratar o antigo desafeto, hoje marido, de amigão, devotando-lhe “sincera admiração”.

 

Últimas Postagens