Parlamentares da oposição e da base do governo no Congresso dizem suspeitar de espionagem e pedem varredura e investigação da Polícia Federal. A Abin nega participação nas supostas escutas clandestinas.
O senador Osmar Serraglio quer uma verificação nos telefones de integrantes da CPI dos Correios
A crise política que envolve o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Congresso ganhou contornos dramáticos ontem com a suspeita generalizada de que vários parlamentares estão com seus telefones grampeados. O presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), disse que há 10 dias descobriu escutas nos telefones de seu escritório em São Paulo, sua casa e no celular. Ele acionou a Polícia Federal para retirar os grampos e investigar o caso. O relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), sugeriu ontem que os telefones usados pelo presidente da comissão e todos os sub-relatores sejam examinados para saber se estão grampeados. Em Roraima, grampos em telefones de políticos e autoridades não se trata de nenhuma novidade.
Se todas as suspeitas e denúncias tiverem fundamento, os grampos estão sendo espalhados em aparelhos de parlamentares da oposição e da base do governo no Congresso. O primeiro a reclamar de grampo foi o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS). Há três meses ele pediu que a polícia verificasse suas linhas, mas nada foi encontrado. Denúncias recentes sobre escutas partiram do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM).
A senadora petista Ideli Salvati (PR), uma das principais defensoras do governo na CPI dos Correios, também suspeita de que seus telefones estejam grampeados e que é vítima de espionagem. Desde que passou a compor a comissão, desconfiou de grampos e pediu uma verificação feita por funcionários da área de segurança do Senado, que nada encontraram. "A segurança informou que, com a atual sofisticação dos equipamentos, fica cada vez mais difícil detectar o monitoramento", lamentou.
Na terça-feira, o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) acusou o governo de espioná-lo por meio da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). ACM Neto disse que outros parlamentares da oposição também estão sendo investigados. Petistas rebateram os ataques de ACM Neto lembrando que o avô do deputado, o senador Antonio Carlos Magalhães (BA), renunciou ao mandato para não ser cassado pela acusação de montar uma rede de grampo clandestina na Bahia usando o aparato do governo do estado. Ontem o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, conversou com Arthur Virgílio e com ACM Neto e disse que a PF está à disposição para investigar.
Nota da Abin O Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ao qual está vinculado a Abin, negou em nota que parlamentares das CPIs estejam sendo monitorados pelo órgão. Segundo o GSI, essa é uma prática ilegal, que contraria a atividade de inteligência de Estado realizada pela Abin. "Carecem de fundamento as afirmações de que a Abin teria promovido o monitoramento ilegal de parlamentares", diz a nota. O ministro-chefe do GSI, general Jorge Armando Felix, enviou ofício na terça ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), com cópia para ACM Neto, pedindo informações sobre o caso. Dependendo da resposta, a Abin poderá abrir investigação interna.
Apesar dos fortes boatos em Brasília que vários parlamentares envolvidos nas CPIs do Mensalão e dos Correios estariam com os telefones grampeados, o deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG) não acredita na hipótese. "Consta que muitos parlamentares estão (com o telefone grampeado), mas até agora não tenho motivos para desconfiar, e nem tenho escutado algum sinal que demonstre o grampo", disse.
Pelas declarações de parlamentares, os grampos não são o único perigo. Ideli Salvati contou que há cerca de dois meses sua família recebeu ameaças. Ontem a deputada Angela Guadagnin (PT-SP), principal defensora do deputado José Dirceu (PT-SP) no processo de cassação em curso no Conselho de Ética da Câmara, relatou que na última terça-feira foi alvo de um trote com ameaça de seqüestro. Um telefonema para seu escritório em São José dos Campos, interior de São Paulo, informava que a deputada tinha sido seqüestrada e que a quadrilha iria pedir o resgate em alguns instantes.