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ELEIÇÕES 2006 - Aliados ameaçam largar Lula em 2006

Por causa da proibição de alianças nos estados entre os partidos que lançarem candidatos ao Palácio do Planalto, legendas da base governista podem caminhar separadas no primeiro turno.



Alon Feuerwerker
Da equipe do Correio

Carlos Moura/CB/14.9.05
Deputado Beto Albuquerque (RS), vice-presidente do PSB
 
O novo presidente do PT, Ricardo Berzoini, quer ampliar as coligações do partido já no primeiro turno da eleição presidencial de 2006. Acalenta a esperança de um acordo com todas as correntes políticas que apoiam o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, do PCdoB ao PP, passando por PSB, PTB, PL e uma parte do PMDB. O risco maior, porém, é Lula caminhar para as urnas apoiado por um bloco ainda mais estreito do que em 2002, quando teve com ele o PCdoB e o PL. Tudo por causa da verticalização, a norma do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que proíbe alianças nos estados entre legendas que tenham candidatos diferentes a presidente da República.

"Nossa meta número zero é atingir a cláusula de barreira. Nossa prioridade é montar chapas fortes para deputado federal nos estados", argumenta Beto Albuquerque (RS), vice-líder do governo na Câmara dos Deputados e vice-presidente do PSB. "Queremos ser um dos seis ou sete partidos que vão sobreviver a essa exigência. Se a verticalização não cair, dificilmente haverá uma aliança formal entre o PSB e o PT no plano nacional."

Segundo a lei que impõe a cláusula, quem não conseguir 5% dos votos nacionais para deputado federal em 2006, com pelo menos 2% em nove estados, vai virar partido de segunda categoria. Não poderá formar bancada no Legislativo, terá menos tempo de rádio e televisão e menos recursos do fundo partidário. Seus parlamentares eleitos não perderão o mandato, mas serão, na prática, uma massa de "sem-partido" à mercê da sedução das grandes siglas.

Hegemonia
Depois de 2007, quem for rebaixado e quiser voltar à primeira divisão da política terá de escolher o doloroso caminho das fusões e incorporações. Organizações históricas da esquerda, como o próprio PSB, o PCdoB, o PDT e o PPS, que disputam há décadas a hegemonia nesse campo, correriam o risco de perder suas identidades. Seus caciques, que controlam as máquinas partidárias com mão-de-ferro, estariam sob ameaça. O mesmo drama enfrentam as siglas médias, como PP, PTB e PL, as mais feridas em sua imagem pela crise política deflagrada com as acusações de Roberto Jefferson sobre o suposto mensalão. Não por acaso, repetem o mesmo discurso e esnobam uma possível coligação com Lula.

"É muito cedo para decidir qualquer coisa, mas se a verticalização não cair, não haverá como fazer a aliança nacional", afirma o presidente do PP, deputado federal Pedro Corrêa (PE), um dos ameaçados de perder o mandato. "Os parlamentares terão papel decisivo nessa definição. E a maioria deseja ter liberdade para fazer nos estados os acordos que possam facilitar sua caminhada."

"Com a verticalização, não há hipótese de um entendimento nacional com o PT", endossa o líder do PL na Câmara dos Deputados, Sandro Mabel (GO), cujo processo no Conselho de Ética está na fase final. "Precisamos fazer uma forte bancada federal, e para isso queremos liberdade. No limite, poderíamos pensar até em ter candidato próprio à Presidência da República."

"O PTB tem alianças estaduais que impedem o alinhamento nacional com o PT", confirma o líder petebista na Câmara, José Múcio (PE). "E nossa experiência com o PT nas eleições municipais não foi boa. O PTB rompeu coligações históricas no ano passado para ajudar os petistas em diversos municípios. Só deu certo em Belo Horizonte, onde os petebistas fizeram o vice do reeleito Fernando Pimentel. Em São Paulo e no Rio, afastaram-se do PSDB e do PFL, respectivamente, e acabaram sócios da derrota do PT para José Serra e Cesar Maia. Para piorar, o PTB alega que o PT não cumpriu o compromisso de ajudar financeiramente os candidatos petebistas. Esse suposto calote foi uma das razões que levaram Roberto Jefferson a acender o pavio da crise política.

A legenda mais empenhada em derrubar a verticalização é o PMDB, que têm candidatos competitivos a governador em no mínimo 18 estados e, pelo menos até agora, está decidido a lançar um nome próprio a presidente da República. A situação do PMDB não chega a ser novidade. Como em 1989 e 1994, quando abandonaram Ulysses Guimarães e Orestes Quércia à própria sorte depois de lançá-los à Presidência, os chefes peemedebistas buscam cada um o meio de cuidar da própria vida, enquanto juram fidelidade ao projeto presidencial do partido.

O candidato mais viável da legenda é o ex-governador Anthony Garotinho, com seus 10% a 15% de intenção de voto. Mas a cúpula partidária não consegue unificar-se em torno dele, nem produzir um concorrente à altura. A saída é acabar com a verticalização, ainda que o partido jure que desta vez a candidatura ao Planalto é para valer. "Vamos ter candidato e temos chance de romper a polarização entre PT e PSDB", insiste o deputado Marcelo Barbieri (PMDB-SP), um dos políticos mais próximos do ex-governador Orestes Quércia, que controla a seção paulista e é o fiel da balança no partido.

Berzoini confia no fim da verticalização e no diálogo com as forças políticas para evitar o isolamento de Lula em 2006. "Quem vai decidir as alianças é o diretório nacional. Como presidente, vou defender que procuremos todos que hoje dão sustentação ao presidente da República." Pelo menos com o PCdoB ele pode contar. "Estaremos juntos em 2006", diz o líder na Câmara, Renildo Calheiros. "Mas é importante que a aliança seja ampla, não podemos permitir que a oposição consiga isolar o presidente Lula", diz o comunista. "A crise provou que subestimar a necessidade de alianças seria um erro gravíssimo para 2006."

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