- 07 de novembro de 2024
Zeferino Carlos Nicodemos Souza carregava o apelido de Zecaniço. Ainda jovem tinha mania de abreviar e sincopar; usava por rubrica ZeCaNiSo, daí o apelido incorporado.
Zecaniço levava vidinha simples e sacrificada ao lado da esposa Doralice e a prole de 13 meninos. Moravam numa tapera de barro batido coberta de palhas de buriti, localizada em amplo e arborizado terreno. No fundo do quintal ficavam dois cerdadinhos sem cobertura utilizados como banheiro e privada. No banheiro repousava um barril desses de 200 litros que acumulava água para banhos de cuia; a privada era um cubículo de 2 por 2 metros, com piso de tábua grosseira que trazia um buraco no centro para, como dizia Zecaniço, "derrubar o barro". Ali se tomava banho e se cagava apreciando o azul do céu, o brilho das estrelas e o clarão do luar.
Dona Doralice numa das idas ao interior convenceu Zecaniço a deixá-la trazer Neuzinha para ajudá-la na cozinha, limpeza da casa, lavar e passar roupas, e tomar conta dos meninos. Neuzinha, sua afilhada, tinha uns 17 anos - não tinha certeza da idade, pois nunca foi registrada. Caboquinha arataca, analfabeta, burrinha, mas espevitada e arretada na flor da adolescência. Seus peitinhos furando o vestido roto de tecido barato e a bunda desenhada na roupa molhada quando no tanque de lavar roupas despertavam mil desejos em Zecaniço.
Sempre que dona Doralice se ausentava, Zecaniço acercava-se de Neuzinha com conversa mole, "conversa-de-cerca-lourenço". A caboquinha explodindo em tesão não se fazia de rogada aos gracejos e apalpadelas do velho. O tempo foi passando e a intimidade entre ambos aumentando. O ancião sempre arranjava um jeitinho de ficar a sós com a afilhada; já tinham ido às vias de fato alguma vezes e, sabe como é, cavalo velho com capim novo...: Zecaniço sempre querendo mais. O iminente perigo de serem descobertos durante a safadeza, parece, excitava o outrora respeitável senhor, pois, às vezes, levantava-se da cama em alta madrugada para encontros fortuitos com a mocinha ali no terreiro, entre cajueiros, mangueiras e abacateiros.
Doralice, escovada, vendo a mudança sistemática do marido, pensou: "tem caroço nesse angu". Passou, então, a vigiar de perto os movimentos do safado.
Noite de sexta-feira, a lua esparramava sua luz prateada naquelas redondezas, depois de apagados os lampiões, todos se recolheram para dormir. Zecaniço, deitado ao lado da esposa, estava em grande agitação..., ora se revirava..., ora sacudia as pernas..., ora se cobria..., ora se descobria..., tossia..., suspirava... Doralice dormia o sono dos justos..., até roncava (ou se fazia?). Lá pela meia noite Zecaniço levantou-se, passou na rede de Neuzinha, cochichou em seu ouvido e foi por ela acompanhado até o tronco de uma frondosa ingazeira, bem ao lado da privada. A mocinha deitou-se no chão, já abrindo as pernas à espera do amante. Ao desamarrar o cordão do pijama, nosso personagem ouviu um arrastar de chinelos naquele chão enfolharado. Zeferino olhou pra trás e deu com a figura de dona Doralice parada sob a luz do luar. Seu coração disparou. Em seguida veio uma pergunta na voz esganiçada de velha:
- Zé...!, o que tu tá fazendo aí?
- Nada, minha véia, levantei pra cagar... - Foi só o que aquela velha voz rouca e tremida conseguiu emitir.
Sem se dar por vencida, Doralice contra-atacou:
- E que monturo é esse aí perto do pé de ingá?
Zecaniço, sem muito pensar, falou nervoso:
- Tu não tá vendo que é uma penca de inajá?
Doralice, caminhando em direção aos amantes, falou decidida:
- Então eu vou aí pra ver...
Zecaniço resolveu impor moral e respeito. Alto e rispidamente bradou:
- Tu num vem... Se tu vier, eu te cago!!!