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NA CULPA DOS OUTROS OS CULPADOS SE REVELAM - Márcio Accioly

Salomão Cruz deixou de dizer, por exemplo, que durante dez anos de administração das gestões passadas a que apoiou (inclusive como vice-governador, 2003-04), nada foi feito para que se encaminhasse devidamente a questão.



O ex-deputado federal (1995-2002) Salomão Cruz (PSB) colocou o dedo bem em cima da ferida ao declarar que a "falta de projeto específico de uso e ocupação da terra", por parte do governo estadual, é a razão maior da não resolução do problema fundiário de Roraima. Mas sua ex-excelência pecou ao não assumir sua parcela de culpa.
Deixou de dizer, por exemplo, que durante dez anos de administração das gestões passadas a que apoiou (inclusive como vice-governador, 2003-04), nada foi feito para que se encaminhasse devidamente a questão.
Ele até foi mais longe e enfatizou que "o problema se arrasta desde a instalação do estado". Mas não esclareceu as razões da omissão perpetrada no governo Flamarion Portela, bombardeado por acusações comprovadas no esquema gafanhoto, o qual levou Roraima ao centro de noticiário negativo em drama cuja solução judicial se aguarda.
Quando se fala em "governo do Estado", todos tendem a atribuir pecados e dúvidas ao mandatário do momento. Contudo, a maior dificuldade vivida no cenário político brasileiro diz respeito à absoluta falta de compromisso dos principais envolvidos.
A grande maioria promete mundos e fundos, ao longo das campanhas eleitorais, transformando a Terra num paraíso irrecusável. Mas esquecem convenientemente o que disseram, tão logo seja conhecido o veredicto das urnas. A atividade política, que deveria ser costurada na base do compromisso, tornou-se mero jogo de palavras e ocasião.
Em Pernambuco, por exemplo, no terceiro mandato governamental (1995-99) de Miguel Arraes de Alencar (PSB), tudo foi por ele articulado para privatizar a Celpe, companhia estatal distribuidora de energia. Isso, apesar de sua então excelência ter passado a vida inteira defendendo o patrimônio público, condenando tentativas de privatização.
Quando aprovada a emenda constitucional da reeleição, comprada a peso de ouro pelo presidente FHC (1995-2003), Arraes fez das tripas coração no último ano de mandato para receber o dinheiro referente à venda da Celpe (entregue na bacia das almas ao grupo espanhol Ibedrola), pois necessitava de recursos para injetar na disputa de sua reeleição.
Naquele ano, porém (1999), o dinheiro não veio e as urnas lhe foram contrárias. Foi em contenda acirrada com o ex-aliado Jarbas Vasconcelos (PMDB) que viu ruir o domínio alongado por décadas e consolidado pelo regime militar (1964-85) que o remetera ao exílio. O ídolo se apoiava em pés de barro.
A venda da Celpe acabou por jogar ao chão o restante das bandeiras defendidas pelos ditos "socialistas". Que não tinham mais a quem inculpar e foram então arrancados, de forma inapelável, do Palácio do Campo das Princesas.
Arraes voltaria a se eleger deputado federal em 2002, mas já não tinha nem vigor nem o que dizer, pois era apenas um ancião de saúde debilitada (morreu em 2005) a alimentar memória de promessas não cumpridas.
O restante da história a maioria está vivendo: as distribuidoras de energia de quase todo o Brasil foram entregues a grupos estrangeiros e a inadimplência bate à porta em contas extorsivas que impedem que se honrem dívidas.
Seria muito bom se a atividade política voltasse ou começasse a ser um simples compromisso em que os eleitos colocariam em pauta, tão logo empossados, o mar de rosas que se oferece nas praças públicas. Somente assim, eles teriam o direito a cobrar erros que garantem não ser seus.
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