- 12 de novembro de 2024
Hoje, 17 de setembro de 2005, com espanto, li uma das manchetes de um dos jornais de Roraima: "Festa na Raposa Serra do Sol - cem agentes federais farão a segurança" e no corpo da notícia: "conforme o superintendente em exercício da Polícia Federal, o ministro da Justiça, Marcio Thomas Bastos participará da comemoração". E mais adiante anuncia que "outros dois ministros mais o advogado geral da união estão na iminência de vir". Antes, porém, informa: "a polícia federal vai mobilizar cem agentes na terra indígena Raposa Serra do Sol, a partir desta quarta-feira, 21, quando começam as comemorações pela a homologação da reserva na aldeia Maturuca".
Sua Excelência o senhor ministro da Justiça, chega dia 21, "com pernoites nas aldeias da região e retorno para a capital federal no dia 23". Que seja bem vindo!
Informa também o periódico: "dos 100 agentes, 80 serão mobilizados de Brasília". E haja diárias!
A mobilização de 100 agentes da PF, pelo menos por três dias, custo do transporte aéreo para tanta autoridade, diárias e outras despesas, é mais uma vergonhosa festa imperial com o dinheiro público.
Assim seu Palocci, não tem superávit que agüente PT saudações.
Diga-se de passagem, sua Excelência o senhor ministro da Justiça, durante a pendenga "área contínua ou não", jamais se dispôs a dormir sequer uma noite em Boa Vista, quanto mais pernoitar nas aldeias. Que a dengue, ou a malária, lhe seja leve!
Ademais, no meu modesto entendimento, o senhor ministro da Justiça é ministro de Estado, por tanto de todos brasileiros e não de uma facção que comemora a homologação da área Raposa Serra do Sol e representa a minoria dos índios daquela região. Duvidam que é a minoria? Então façamos um plebiscito, coisa que o CIR não permite, como, aliás, não permitiu que o IBGE, ali, na Raposa Serra do Sol, fizesse o recenseamento oficial do governo brasileiro. E onde será a comemoração? Na aldeia Maturuca, quartel general do CIR onde a minoria dos índios é treinada, inclusive, para ação de guerrilha. E o que é o CIR? Uma ONG, braço direito do CIMI (Conselho Missionário Indigenista), um dos órgãos da poderosa CNBB. E não é segredo para ninguém a vinculação ideológica do senhor ministro com a "corrente progressista" dos bispos da Igreja Católica Apostólica Romana. O que não é demérito para qualquer pessoa. Salvo se esta pessoa, na qualidade de ministro de Estado, deixe a imparcialidade e perca a condição de magistrado. (não esquecer que se trata do ministro da Justiça).
Mas o susto da manhã foi bem menor que o da hora do almoço: fui informado que a Missão Surumu, de responsabilidade da Ordem Consolata (que fica na Vila Pereira, área Raposa Serra do Sol), cujo bispo italiano, anterior ao atual, defende ardorosamente área contínua de 1.700.000ha e é o principal responsável por todas as ações de mobilização da minoria de índios coordenada pelo CIR, foi totalmente destruída por um incêndio criminoso.
De imediato, a pergunta: a quem interessa essa violência?
E de pronto a analogia comum a um fato histórico e criminoso: Adolfo Hitler mandando queimar o parlamento alemão, atribuindo tal fato ao Partido Comunista, promovendo intensa campanha na imprensa para justificar a perseguição que faria aos comunistas, como de fato fez, e, com isso, consolidando a ditadura nazista.
Porque a correlação: incêndio da Missão Surumu e incêndio do parlamento alemão?
Vejamos:
1. apesar da homologação, existe ação, no Supremo Tribunal Federal, contestando a legalidade dos procedimentos adotados pela FUNAI, apontando vários vícios e inconstitucionalidades, propondo a nulidade do ato. Por tanto a questão está sub judice. Por isso estranhamos a presença do senhor ministro da Justiça para comemorar a decisão de um ato que ainda não transitou em julgado;
2. mesmo assim, sem a decisão final da justiça, a FUNAI continua a iniciativa para retirada dos não índios que habitam a região Raposa Serra do Sol, inclusive fazendo avaliação de benfeitorias que podem ser contestadas;
3. dentre os não índios estão os arrozeiros que ocupam uma área próxima a Missão Surumu.
Os produtores de arroz são pessoas com relativo poder financeiro graças a altas produtividades alcançadas em suas lavouras modernas e eficazes. E estão irresignados com a homologação e decisão da FUNAI de retirá-los imediatamente da área contínua.Portanto, os arrozeiros prometem, publicamente, usarem todos os recursos legais para não saírem da área, sendo assim o principal obstáculo à consecusão dos objetivos da FUNAI;
4. ressalte-se que para comemorar a homologação da Raposa Serra do Sol, foram convidados representantes da imprensa européia. E já está em Boa Vista, à equipe de uma TV portuguesa sendo esperada a chegada de outra de Londres.
Será que a simples comemoração da homologação é notícia internacional? Ou seria preciso gerar um fato que justifique a presença da imprensa internacional?
A quem interessaria queimar a Missão Surumu?
Amazonas Brasil
Jornalista e Conselheiro Inativo do Tribunal de Contas de Roraima