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Plebiscito já! - (*) Francisco Espiridião

"Que coisa, onde nós estamos? Severino disse que não tinha nada! Como é que pode isso?" A expressão de perplexidade é do vice-presidente da República, José Alencar (Sem Partido), dando a entender que ainda acreditava nas bravatas do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE).


"Que coisa, onde nós estamos? Severino disse que não tinha nada! Como é que pode isso?" A expressão de perplexidade é do vice-presidente da República, José Alencar (Sem Partido), dando a entender que ainda acreditava nas bravatas do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Sem dúvida, Alencar era um dos poucos - se é que existia alguém - que ainda acreditavam em Severino, em Papai Noel e em mula-sem-cabeça. 
Daqui a pouco ele vai dizer também que acredita na boa-fé do governo Lula e que Lula não tinha conhecimento da lama gulosa que aos poucos vai engolindo o Palácio do Planalto. Vai dizer que acredita até que o Brasil ganhou a Copa da França, em 1998, com Ronaldo, o Fenômeno, grogue a não poder mais.
Deixando o vice de lado, é impressionante ver o quanto os intelectuais do PT ficaram calados em meio a tanta sujeira moral que determinou o ocaso do partido. Impressionante vê-los desvestidos da habitual arrogância. Aliás, seria bom mesmo que continuassem mudos a falar impropérios, a exemplo de dona Marilena Chauí:
"O que é que nós fizemos para sermos tão odiados? Nunca, em toda a minha vida, presenciei ódio igual a este. É uma coisa que faz perder a respiração. Eu sei por que é. É porque nós fomos o principal instrumento de democratização do País, o principal construtor da democracia neste País. E não seremos perdoados por isso nunca", disse a conceituada professora de Filosofia.
Se ficasse calada, teria sido melhor. Errou na análise. Pisou na bola, a professora. O PT foi criado em 1980, quando o processo de democratização já estava selado, sob os auspícios do general-presidente João Batista de Oliveira Figueiredo, aquele que gostava mais de cavalos do que de gente. Lembram da história da "abertura política lenta, gradual e segura"? Pois é.
A abertura veio não porque os militares não tivessem verdadeiro apego ao poder, mas sim porque o povo queria. Bastava ter eleição e o MDB empurrava enxurrada de votos, humilhando a situação, representada pela Arena.
Pode-se dizer que os verdadeiros pais da democratização do País foram os incansáveis Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Marcos Freire, Paes de Andrade, entre outros, todos lendários integrantes do MDB. O PT, como partido, ajudou, sim, mas, sua responsabilidade em todo o processo foi mínima. Sua maior expressão se deu com a campanha das Diretas Já!, em 1984. Relembrar a história faz bem de vez em quando.
O ódio contra o PT, se é que se pode classificar assim, não é à toa. Adveio da falta de responsabilidade partidária. Adveio das mentiras pregadas ao longo do tempo, que fizeram com que a população acreditasse nelas, para frustração geral muito pouco tempo depois de ter sido catapultado ao poder. Adveio da falta de compromisso do Campo Majoritário para com suas bandeiras históricas.
O carro-chefe da eleição do PT foi a promessa de olhar pelos mais pobres, de endurecer o jogo contra o capital internacional, agir como paladino da justiça em favor dos servidores públicos, classe espezinhada ao extremo durante a era FHC (1995-2003). No poder fez tudo o contrário.
Na área social, o que se viu foi um arremedo dos projetos iniciados por Fernando Henrique, cujo objetivo único era promover o engodo do povo enquanto entregava a nação de forma escandalosa. Servidores públicos, então, chicote neles!
Onde estão os 10 milhões de empregos prometidos? Onde está a melhoria de vida para o brasileiro de baixa renda? E a classe média, que a cada dia vê o salário minguar enquanto cresce a olhos vistos uma montanha de contas a pagar? Nem o bodegueiro da esquina topa mais lhe vender fiado.
O que se vê hoje são aumentos da gasolina, do gás, do telefone, da energia elétrica, da cesta básica... Aumento de salário é assunto proibido no serviço público e muito mais na iniciativa privada, onde os empresários comem uma batata quente para pagar os escorchantes impostos, mais importantes que o salário do trabalhador. Hoje só os banqueiros se dão bem no Brasil do PT, a exemplo da era FHC. Isso, porque eles não têm salário, têm pró-labore.
Pelo sim, pelo não, melhor abraçar a proposta do Psol de Luciana Genro, Babá, Heloísa Helena & Cia: emenda constitucional criando plebiscito que permitirá ao povo extirpar do poder, ao longo do mandato, aquele político ladrão ou incompetente que não estiver correspondendo às expectativas. Por esse expediente, Lula já teria sido defenestrado da Presidência da República há tempos. E não se fala mais nisso.

(*) Jornalista, autor de "Até quando? Estripulias de um governo equivocado", nas bancas. E-mail: [email protected]

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