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À espera do cheque

Buani promete apresentar hoje de manhã cópia do documento, no valor de R$ 7,5 mil, onde consta o endosso de um dos funcionários de Severino. O dinheiro seria para pagar propina ao deputado


Tema do Dia - Crise Ética

Lúcio Lambranho e Marcelo Rocha
Da equipe do Correio

A novela mensalinho tem hoje o capítulo decisivo. O empresário Sebastião Augusto Buani, concessionário do restaurante Fiorella, promete apresentar o cheque de R$ 7,5 mil que comprovaria o pagamento de propina ao presidente da Câmara, deputado Severino Cavalcanti (PP-PE). Buani, que revelaria ontem o documento, fez suspense a tarde inteira e driblou a imprensa, seu advogado, a Polícia Federal e a própria mulher, Diana Buani. As cenas dos próximos capítulos só foram anunciadas às 19h50, na 215 Sul, onde mora o empresário: "Buani está absolutamente tranqüilo. Ele está com o cheque. A verdade dele está confirmada", garantiu o advogado Sebastião Coelho. Sem revelar quem endossou o cheque, Sebastião Coelho comunicou que seu cliente só falaria em coletiva à imprensa hoje, às 11h, provavelmente na sede da Associação Comercial do Distrito Federal.

Buani aposta as fichas nesse cheque para desmentir a defesa de Severino. Na segunda-feira, o empresário apresentou à PF cópia de extrato que demonstra saque de R$ 40 mil em 4 de abril de 2002, valor referente à primeira parcela do tal mensalinho. A prova cabal da denúncia seria um dos oito cheques entre R$ 5 mil e R$ 10 mil que ele afirma terem sido entregues a Severino como acerto para a prorrogação do funcionamento do Fiorella no 10º do Anexo IV. Entre esses cheques, estaria um de R$ 7,5 mil supostamente descontado por um motorista do presidente da Câmara, em junho de 2003, e que levaria o endosso do servidor no verso.

Um dos motoristas que trabalha para o parlamentar, Paulo Sabino Sobrinho, esteve ontem na PF para entregar uma pasta com documentos ao advogado José Eduardo Alckmin, que cuida da defesa de Severino. Ele negou qualquer envolvimento no caso e também isentou o irmão, o motorista da Câmara José Sabino, de qualquer responsabilidade. "Nunca carreguei pacote de dinheiro para ele ou descontei cheque. A única coisa que fiz para ele (Severino Cavalcanti) até hoje foi dirigir. Eu acho que o deputado não é capaz de receber mensalão", afirmou Paulo Sabino.

Investigações
Com ou sem cheque, o delegado federal Sérgio Menezes, responsável pelo inquérito que apura a existência do mensalinho, pretende remeter o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF) até 4 de outubro, quando se encerra o prazo de 30 dias para as investigações preliminares. Na avaliação da PF há indícios de crime cometido pelo presidente da Câmara, que, de denunciante, passou a investigado por concussão (extorsão praticada por servidor público) e corrupção passiva.

A inversão causa a necessidade de a polícia se reportar sempre ao STF para cumprir diligências, como quebras de sigilo e buscas de documentos, porque Severino tem direito a foro privilegiado. Antes disso, porém, o delegado pretende ouvir a filha de Buani, Gisele, responsável pelas finanças do Fiorella e que teria entregue envelopes de dinheiro a garçons do restaurante com a recomendação de que eles fossem levados até a Primeira Secretaria, então ocupada por Severino.

Caso o cheque que comprovaria o recebimento de propina por parte do presidente da Câmara não apareça, a PF pretende pedir ao STF a quebra do sigilo bancário e telefônico de Sebastião Buani, para levantar pessoas beneficiadas por saques na conta do empresário. Os policiais não descartam pedir também dados bancários do presidente da Câmara. Para o delegado, a quebra de sigilo em busca de provas materiais é necessária para demonstrar quem mente.

Até agora, os indícios contra Severino se baseiam em provas testemunhais. O ex-gerente do Fiorella Izeilton Carvalho e três funcionários do restaurante - o maître José Ribamar da Silva e dos garçons Rosenildo Francisco Soares e Hélio Antonio da Silva - prestaram depoimento na Polícia Federal e forneceram informações que comprometem o presidente da Câmara.

O Instituto Nacional de Criminalística (INC) conclui até amanhã a perícia do documento em que Severino prorroga a concessão do restaurante de Buani. A dificuldade é que o termo de prorrogação é uma cópia porque o original desapareceu. "O sumiço do original pode significar a tentativa de criar um ardil só não sei por qual lado", disse Menezes. A Câmara forneceu à PF documentos assinados por Severino quando ocupava a Primeira Secretaria para que seja feita a comparação.



Peritos federais analisam veracidade de documento (D) supostamente assinado por severino em abril de 2002. Ofícios assinados à época pelo deputado foram entregues à PF para comparação

Restaurante reaberto
José Varella/CB
 

A direção administrativa da Câmara dos Deputados lacrou no início da manhã de ontem o restaurante Fiorella, do empresário Sebastião Buani, localizado no 10º andar do Anexo IV da Casa. O local foi fechado apesar de o contrato de concessão terminar apenas na quinta-feira às 18h. A alegação era de que os advogados de Buani tinham perdido a data-limite para entrar com o recurso administrativo para prorrogar o prazo de funcionamento do restaurante. O advogado do empresário, Sebastião Coelho, foi à Diretoria Geral e mostrou cópia do recurso protocolado no dia anterior. Logo depois, o diretor do Departamento de Material e Patrimônio, Mauro Limeira Mena Barreto, determinou a reabertura do Fiorella. Ele alegou que "tal fato ocorreu devido a uma falha de comunicação entre esta coordenação e a assessoria técnica da Diretoria Geral". "Minha vida aqui era até amanhã, mas eles queriam me matar hoje", declarou Buani.

Doze horas de nervosismo
Paulo de Araujo/CB
 

9h
A direção administrativa da Câmara dos Deputados fecha o restaurante Fiorella, do empresário Sebastião Buani, localizado no 10º andar do Anexo IV da Casa. Buani começa a receber os clientes e os primeiros jornalistas para dar entrevistas.

11h50
A direção administrativa da Câmara volta atrás e reabre o restaurante.

12h30
Buani diz aos repórteres e aos advogados que vai descer no estacionamento para tirar o carro de um local proibido.

15h35
O gerente da agência do Bradesco, localizada na 511 Sul, Astrogildo Nascimento declara aos repórteres de plantão: "Tudo que o cliente pediu já foi entregue", referindo-se às cópias dos cheques que comprovariam o pagamento do mensalinho.

16h40
O empresário chega com sua mulher Diana Buani no escritório do advogado André Pupin, localizado no escritório do Hotel Meliá, no Setor Hoteleiro Sul. No local também estava o seu outro advogado Sebastião Coelho. Eles tratavam do mandado de segurança que seria impretrado na Justiça hoje para garantir o funcionamento do restaurante.

16h50
Buani se despede de todos na garagem do prédio e diz que vai encontrar a esposa e Sebastião Coelho às 18h no seu apartamento na 215 Sul.

17h
Buani não responde mais aos telefonemas nem mesmo da sua mulher e se isola.

17h14
O advogado Sebastião Coelho deixa a agência do Bradesco depois de receber a mesma resposta do gerente: "Tudo que o cliente pediu já foi entregue".

17h20
Buani fala com sua esposa pelo celular. Diz que está com os cheques, mas não informa seu conteúdo. "Ele disse que parou para refletir sobre sua decisão. A pressão é grande", declarou Diana Buani.

18h
Sebastião Coelho diz que está preocupado com a integridade física de seu cliente e liga para a Polícia Federal. Pede ajuda para localizar Buani ao delegado que cuida do caso, Sérgio Menezes.

19h20
Diana Buani diz que o marido mandou um recado e que está seguro na casa de um amigo.

19h50
Sebastião Coelho declara que Buani vai dar uma coletiva às 11h de hoje. "Ele está com o cheque e está tranqüilo. A verdade dele está confirmada", disse.



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