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NO LERO-LERO DA FALTA DE CONVICÇÃO - Márcio Accioly

Como a prefeita não gosta muito de Boa Vista, passando a maior parte do tempo de seu mandato na Capital Federal, tal acordo se ajustaria como uma luva. Acontece que qualquer aliança política com o casal só trará prejuízos para o outro lado.


Brasília - A presunção exibida pelo senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR) vai atingindo às raias da insanidade. Sua excelência declarou, à Folha de Boa Vista, que somente analisaria apoiar Ottomar Pinto (PTB) "se o governador não disputasse a reeleição e concorresse ao Senado, ajudando-o a assumir o governo do Estado".

            Há até bem pouco, Filho vivia correndo atrás do governador, apelando para que este consentisse na formação de aliança que garantisse a eleição da prefeita Teresa Jucá (PPS) para o Senado. Como a prefeita não gosta muito de Boa Vista, passando a maior parte do tempo de seu mandato na Capital Federal, tal acordo se ajustaria como uma luva. Acontece que qualquer aliança política com o casal só trará prejuízos para o outro lado.

            Além do mais, vai ser preciso esperar o desenrolar dos acontecimentos no Congresso Nacional, quando até o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) foi agarrado com a mão na botija e não terá como escapar da cassação. A lista de cassações encaminhada pela CPI dos Correios reúne o nome de apenas 18 deputados federais e nenhum senador.

            Até mesmo o presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), foi poupado. Ele foi flagrado na malha que apurou transações ilícitas com o publicitário Marcos Valério, nas conexões com o Banco Rural em Minas Gerais, mas as pressões exercidas por figurões da República conseguiram colocá-lo a salvo. Por enquanto.

            Depois disso, vai ser muito difícil livrar a cara de Romero Jucá Filho. Como todos sabem, Filho falsificou documentos na Junta Comercial de Roraima e, como se achasse pouco, efetuou empréstimo junto ao Basa (Banco da Amazônia), entregando como garantia sete fazendas inexistentes no estado do Amazonas. A opinião pública deverá cobrar providências para o ato criminoso, previsto na legislação como passível de cassação.

            Quando Filho procura impor condições para uma aliança política, parece apenas querer contaminar possíveis aliados que se rendam ao canto da sereia. Sua excelência está mais do que consciente de não possuir futuro político. Esgotou seu arsenal de truques!

            Ele poderá, quando muito, dar graças a Deus se não for preso, já que a maioria dos meliantes engravatados que comandam nosso país ficam impunes. Mas não tem como argumentar diante da prática vergonhosa de delitos em que foi flagrado. Daí, advém espécie de desespero. E o delírio pleno de composição política maluca que só a ele e aos seus interessaria.

            O governador afirma que não pode "querer um sujeito versado em corrupção para tomar conta do cofre de Roraima", na exata noção e dimensão do peso de suas palavras. No dia seguinte à decisão proferida pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), afastando o então governador Flamarion Portela por abuso de poder econômico, estava programada a posse de alguns secretários indicados pelo senador Filho, que mantinha aliança estreita com sua ex-excelência. Deu no que deu.

            O governador afastado, que havia sido cassado em agosto, mas permaneceu no cargo por mais de dois meses, declarou recentemente numa entrevista à TV que atende ao comando administrativo de Filho, que "não teve nem tempo de retirar suas coisas pessoais" do Palácio Hélio Campos, como se não estivesse cassado há meses e a cabeça praticamente a prêmio na Justiça.

            O mais interessante de tudo foi perceber uma porção de salafrários que atacava Ottomar sem dó, até à véspera da posse, de repente bater ponto no Palácio e até mesmo na sua residência, na tentativa desesperada de manter espaços ocupados na gestão defenestrada. Numa prova de que Maquiavel entendia profundamente da alma humana, prevendo com enorme antecedência todos os passos e atitudes inerentes à psicologia da raça.

            Agora, com a mesma presteza e disposição que serviu a Flamarion Portela (e com o mesmo empenho e carinho com que serviu à gestão tucana FHC, 1995-2003, e serve a Dom Luiz Inácio, 2004-?), o senador Romero Jucá Filho pretende prolongar sua estada no Senado, agregando parentes e afins. Tudo dentro do inaudito sacrifício de sempre ficar mais próximo do tráfico de influência e dos cofres públicos.

            Só com um furacão eleitoral, equivalente ao Katrina, destruindo finalmente tais vocações.

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