- 12 de novembro de 2024
Não estejamos, pois, preocupados. O emblemático e fatídico dia 24 de agosto passou e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpriu a solene promessa: não se matou. Se ele escorrega visivelmente ao dizer que não sabe de nada, pelo menos nisso ele falou a verdade. Assim, ainda restam esperanças.
Contrariando o que desejam as "elites" e a oposição refratária, ainda restam esperanças de que ele (Lula) acabe defenestrado do poder. Voz discordante em toda essa orquestra de nota só, a deputada Zulaiê Cobra (PSDB/SP), acredita ser apenas questão de dias.
Mas, enquanto o impeachment não se estabelece - ou o processo é deslanchado - , bom ficarmos - se não com uma certeza - com uma mosca zumbindo em nossas cabeças: o PT morreu. Falta apenas ser enterrado. A luta interna dá o tom do réquiem, com indicações inequívocas de que serão sepultados juntos - o PT e a luta.
O PT de dias de glória, quando todos se levantavam de dedo em riste para acusar de forma maniqueísta membros de outros partidos de práticas menos ortodoxas, é peça que só existe no imaginário coletivo.
Ao dizer não à sua refundação, em busca de restabelecer um partido que tem como lídimos os princípios da ética e da moralidade, o PT mostrou que não passa de massa amorfa. Que de nada mais aproveita. O Brasil não precisa nem deve contar com ele para nada.
Ao manter em seus quadros, com a autoridade de "manda-chuva irresoluto" que sempre teve, o quase-ex-deputado José Dirceu, o Partido diz alto e bom som à população brasileira que não deseja fazer o "mea-culpa" sugerido por Lula num arroubo de generosidade que não lhe é peculiar e muito menos próprio de seu espírito dissimulado, dado à lambança.
Ao manter José Dirceu na chapa do "Campo Majoritário" (bolchevique), expulsando o atual presidente Tarso Genro, o PT se nivelou por baixo. Estabeleceu a igualdade com os demais partidos que mantêm em seu âmago miríades de defeitos e práticas espúrias, que visam como único objetivo o poder pelo poder, sem se importar com o bem maior que pregava em sua gênese, uma nova visão de mundo a partir do sentimento de empatia junto às classes menos favorecidas.
Com a queda e sua decisão intrínseca e arbitrária de não se levantar da lama, o PT jogou a pá de cal na esquerda brasileira e quiçá da América Latina. As bandeiras levantadas pelo partido, que encantaram nomes dignos como Hélio Bicudo, César Benjamim, Ricardo Kotscho e tantos outros, já não existem mais.
As idéias petistas do controle da sociedade sobre o Estado, da democracia direta, do Orçamento Participativo, das iniciativas republicanas de justiça social, de transparência em todas as ações hoje fazem parte de uma utopia que ficou mergulhada no esquecimento. Definitivamente. Ressuscitar defunto é tarefa divina, não de seres humanos. Uma pena.
(*) Jornalista, autor de "Até Quando? Estripulias de um governo equivocado", nas bancas; e-mail: [email protected].