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Crônica do Aroldo - DISCRIÇÃO

Na pequena cidade se praticava sexo como em qualquer lugar do mundo, só que no meio do mato, ao relento, no lavrado, nas praias dos rios, nas águas límpidas dos igarapés, atrás dos muros, em construções abandonadas, e, por aí ia.


Sexo é importante na vida dos animais. Sexo, como água, é imprescindível na vida do ser humano. Pessoas saudáveis e normais não vivem sem sexo. Não importa a forma praticada; sexo é sexo.

Na pequena cidade se praticava sexo como em qualquer lugar do mundo, só que no meio do mato, ao relento, no lavrado, nas praias dos rios, nas águas límpidas dos igarapés, atrás dos muros, em construções abandonadas, e, por aí ia.

A população foi aumentando, a cidade crescendo, e os lugares outrora utilizados para vadiagem tornaram-se impraticáveis; imperava esconder-se cada vez mais longe. A violência muito contribuiu para que já não se vadiasse tranqüilo como antigamente; durante o ato tinha-se que dividir a mente entre o sexo e o medo de ser abordado por algum meliante ou curioso..

João Macaco, empreendedor que era, deu tratos à bola e resolveu adaptar seu balneário às margens de um igarapé Caranã em motel: fez uma puxadinha, dividiu todo o prédio em cômodos minúsculos - três por dois metros -, divisórias foram feitas de compensado barato, passou-lhes uma mão de tinta mais barata ainda, instalou em cada um desses quartos uma cama de casal com colchão de terceira categoria coberto por lençóis da mesma classe, uma mesinha de cabeceira, um ventilador de pé, e "tá pronto o matadouro". A divulgação era feita boca a boca, ao pé do ouvido: importante manter um certo sigilo e discrição, evitando, assim, que respeitosas senhoras da sociedade soubessem onde seus maridos se escondiam para vadiar (ou que alguns maridos soubessem onde as respeitosas senhoras da sociedade também vadiavam). Macaco contratou Joãozinho, garçom bem conhecido na cidade, para administrar e divulgar o empreendimento. Este visitava, sempre que podia, os lugares freqüentados pelos clientes em potencial e propagava a novidade.

Um dia, no Maracangalha, ponto de encontro da canalha endinheirada da cidade, Joãozinho aproximou-se de uma mesa de preeminentes homens de negócios, pediu-lhes atenção e, em surdina falou:

- Gente, vocês não precisam mais se preocupar com o lugar aonde levar os seus casos. O Macaco inaugurou um motel de primeira; são oito apartamentos com luxo e conforto. Atende a qualquer hora do dia ou da noite; é só chegar. Posso garantir que o lugar é do mais alto nível. Eu sou o gerente e afirmo que a nossa preocupação é com segurança e discrição. Para vocês terem uma idéia de como é bem freqüentado, vou dizer quem vai sempre por lá: Seu João de Deus com aquela loura filha do Manoel Cangalha..., João Pinheiro com a Cristina Cruz...; Teodósio Alencar com a viúva do Abelardo..., Milton Cristo com aquela mulher baixinha do final da Benjamin Constant..., o prefeito com a sua secretária... Até o governador já foi lá uma vez...! Apareçam pois segurança e segredo é o nosso lema.

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