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A banalização da patifaria e pouca-vergonha - Márcio Accioly

Quem perdeu foi o país todo que depositou esperanças. Perdeu, porque vem sendo assaltado desde a fundação e a única cultura imposta é a do roubo. Todos enlouquecidos, querendo tão somente ganhar!


O presidente Dom Luiz Inácio (PT-SP), primeiro e único, sabe e tem certeza que seu desgoverno está derrotado e exposto à luz pública como um dos maiores vilões. Mas não é por nada, não! É porque se assemelha em todos os detalhes à narrativa sueca de Andersen: O Rei Está Nu! Não há, porém, porque se regozijar.

Quem perdeu foi o país todo que depositou esperanças. Perdeu, porque vem sendo assaltado desde a fundação e a única cultura imposta é a do roubo. Todos enlouquecidos, querendo tão somente ganhar! Na ascensão do PT, residia a esperança de mudança radical. Isso prova que o Estado tornou-se o caminho mais fácil. Porque mostra ser hoje o único possível. O Estado capitalista pertence aos capitalistas. Estamos no mato sem cachorro.

Um grande centro arrecadador, fonte distribuidora de dinheiro, cobiçado por todos. No Brasil, é assim: quem alcança o comando do Estado, alcança o paraíso. Não precisa ser detentor de nenhum senso de responsabilidade. Nenhum. E foi isso o que atual presidente da República fez.

Sua excelência pode ser acusado de tudo, menos de burro! Foi ele mesmo quem construiu sua imagem, com muita disciplina, passando uma rasteira em toda a população. Sua formação vem bem de antes de o publicitário Duda Mendonça aportar, desembarcando de campanhas milionárias de Paulo Maluf (PP-SP) e contas bancárias fartas no exterior.

Este último, símbolo da corrupção tupiniquim na mais alta categoria (poderia ser o ápice da desonra), movimentando milhões e milhões de dólares em contas milionárias nos paraísos fiscais. Riqueza formada unicamente do dinheiro público!

É bobagem falar de disputa eleitoral no atual momento, porque essas coisas todas vão se desdobrar. A população quer a punição dos culpados. Mas o presidente, esgotado o arsenal de truques, decidiu fazer campanha eleitoral. Antecipando o debate também nos estados. A discussão política que se trava nesta hora parece ser totalmente fora de compasso e propósito.

No que se refere a Roraima, depois da passagem ministerial do senador Romero Jucá Filho (PMDB-RR) na Previdência, não se tem ainda como certa sua candidatura na disputa governamental do próximo ano. O senador terá de escapar da abertura de processos que ameaçam levá-lo à cassação, por conta de dois pedidos no Conselho de Ética nesse sentido. Outros surgirão. A OAB nacional está interessada no caso.

A maior falha dos homens é mesmo a da ambição. "Sic transit gloria", oh! glória fugaz, transitória, passageira! Com a ida do parlamentar por Roraima para escalão ministerial, submeteu-se à exposição. E selou seu destino, com a mostra pública de processos que jaziam em gavetas (por desvios de recursos públicos em contratos falsos), resgatados pelo clamor nacional de uma imprensa investigativa.

Como é que Dom Luiz Inácio vem falar em ética (sem que se entre no difícil mérito da questão ética em si?), assunto que fica melhor para o conhecimento da brilhante intelectual e professora Marilena Chauí.

Como é que um presidente pode falar em seriedade, mantendo por tempo exagerado não apenas o agora ex-ministro da Previdência, mas o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, cuja carreira de crimes preenche boa parte de páginas do Código Penal?

Quanto à crise nacional em si, vem com bom argumento a opinião do ex-prefeito de Boa Vista (1974-78) e ex-deputado federal (1979-87), Júlio Martins, para quem o desfecho da situação é "totalmente imprevisível". Ele afirma que um fator a agravar é a não existência de um poder moderador.

No período imperial, até 1889, data da Proclamação da República, essa moderação foi exercida pelo imperador Pedro II. No período republicano, passou a ser exercida pelos militares. Até que eles se cansaram do jogo e resolveram dar um golpe e assumir, em 64, passando 21 anos em que o desgaste para a instituição militar comprometeu sua imagem e a imagem do próprio sistema republicano.

Júlio Martins acredita que a melhor saída para o atual presidente seria renunciar. Mas o mais alto mandatário não percebe a indispensabilidade de abraçar tal idéia. Sem um poder moderador confiável, não há como se sentir confortável com o desdobramento. O problema é que ainda falta muito tempo para o término do mandato. Se a população brasileira não for às ruas exigir, esse governo de corrupção não irá terminar nunca, não.

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