- 12 de novembro de 2024
Sandro Lima Da equipe do Correio
Na reunião, Lula e os ministros avaliaram que além da inviabilidade jurídica do impeachment não há clima político para a cassação do presidente. Nos últimos dias, o Palácio do Planalto recebeu diversas manifestações de apoio, como o da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Mesmo com esses apoios, o gabinete avaliou que a crise política permanece grave e deve durar mais alguns meses. Apesar de repercussão negativa do pronunciamento da última sexta-feira, o gabinete avaliou que até o momento as explicações e o pedido de desculpas de Lula foram suficientes. O presidente optou por esperar o desenrolar da crise e o possível surgimento de mais denúncias envolvendo o PT e o governo para voltar a se pronunciar. Por enquanto, não há chance de Lula convocar cadeia nacional de rádio e TV para tratar da crise. Porém, caso surjam novas denúncias, o presidente poderá fazer um novo pronunciamento. A convocação do Conselho da República - idéia defendida pelo presidente do PT, Tarso Genro - também foi descartada pelo gabinete de crise. Alguns ministros argumentaram que a convocação do conselho seria uma forma de dividir responsabilidades, mas o presidente Lula não simpatiza com a idéia. Ficou definido ainda que a segunda etapa da reunião ministerial, iniciada na semana passada, terá prosseguimento hoje, mas com apenas parte dos ministros. Infra-estrutura O objetivo é reunir os ministros ligados às áreas de infra-estrutura e desenvolvimento, que vão ouvir um balanço da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, para a definição das prioridades nesses dois setores. Lula tratou dos desdobramentos da crise política com os ministros de Relações Institucionais, Jacques Wagner; da Justiça, Márcio Thomaz Bastos; da Casa Civil, Dilma Rousseff; da Secretaria Geral, Luiz Dulci; e da Fazenda, Antonio Palocci. O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, e o vice-presidente, José Alencar, também estiveram presentes. Na reunião, Jacques Wagner recebeu a missão de trabalhar na Câmara pela derrubada do salário mínimo de R$ 384, aprovado na semana passada pelo Senado. Hoje, ele participa de café da manhã com o presidente Lula e o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. A seguir, fará um corpo-a-corpo com os líderes partidários na Câmara para aprovar o salário de R$ 300, que é a proposta do governo já prevista no orçamento. A intenção do governo é votar na quarta-feira ou, no máximo, na quinta-feira desta semana. Ontem, ele conversou com líderes partidários para tratar da questão do salário mínimo. Hoje, o ministro vai ao Congresso intensificar as conversas com a base aliada e a oposição. A avaliação feita pelo gabinete de crise é que, ao contrário do Senado, a Câmara buscará uma solução de consenso, aprovando o mínimo de R$ 300. O governo acredita que na Câmara haverá diálogo com a oposição. O principal esforço será retirar os deputados das CPIs e levá-los ao plenário para votar o salário mínimo. Os ministros do gabinete de crise isentaram Jacques Wagner de culpa pela derrota no Senado. Lula voltou a pedir o esforço de Jacques Wagner e dos outros ministros para acabar com a paralisia no Congresso e votar a agenda mínima proposta pelos empresários. Após a aprovação do mínimo, o primeiro item da agenda mínima seria a MP do Bem, que diminui os impostos para empresas que exportem 80% de sua produção. O ministro Palocci disse durante a reunião que a equipe econômica está negociando a aprovação com o relator da medida, o deputado Custódio de Mattos (PSDB-MG). Ontem, seguindo na estratégia de manter-se próximo aos movimentos sociais, o presidente recebeu uma comissão de 30 representantes do Fórum Nacional de Reforma Urbana. O grupo, que veio a Brasília com cerca de três mil pessoas, cobra do presidente Lula o barateamento do transporte público, a aplicação do vale transporte social, do fundo nacional de saneamento e do crédito habitacional solidário. "Vocês sabem o momento difícil que o governo está vivendo, mas continuamos trabalhando para atender as reivindicações de vocês e de outros movimentos", disse Lula. |
Mulher de militar contra o presidente
Um grupo de 11 integrantes da União Nacional das Esposas de Militares das Forças Armadas (Unemfa) pediu ontem o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Insatisfeitas com o aumento de 13% concedido aos militares do Exército, Marinha e Aeronáutica, elas exigem que o governo cumpra a promessa feita no ano passado de conceder um reajuste de 23%. O governo dará 13% a partir de outubro, e os 10% restantes em agosto de 2006. As mulheres dos militares querem que o reajuste de 23% seja pago em uma única parcela, retroativo a janeiro passado. Vestidas com camisas pretas e com os rostos pintados de verde e amarelo, as manifestantes estenderam faixas de protesto em frente ao Palácio do Planalto com os seguintes dizeres: "Lula corrupto: decepção, fraude enganação", e "Governo corrupto, Brasil de luto". Mais de 30 seguranças mantiveram as manifestantes à distância. A presidente da Unemfa, Ivone Luzardo, disse que é a favor do impeachment do presidente Lula porque depois das informações dadas pelo publicitário Duda Mendonça à CPI dos Correios, ela tem certeza de que o presidente tinha conhecimento das irregularidades. Para Ivone, é um equívoco do governo buscar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU sem investir nas Forças Armadas. "O Exército está sucateado. É assim que o governo quer ter papel de destaque na ONU, às custas do sofrimento dos militares", reclamou a manifestante. (SL) |