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Acuado, Lula fala em fazer "ofensiva" para conter crise

Em encontros reservados com líderes políticos ontem em Recife durante o velório do deputado federal pernambucano Miguel Arraes (PSB), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou preocupação com a governabilidade do país e disse que tanto o governo federal como a base aliada devem adotar uma estratégia "ofensiva" para tentar frear a escalada da atual crise política.


FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

Em encontros reservados com líderes políticos ontem em Recife durante o velório do deputado federal pernambucano Miguel Arraes (PSB), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou preocupação com a governabilidade do país e disse que tanto o governo federal como a base aliada devem adotar uma estratégia "ofensiva" para tentar frear a escalada da atual crise política.
As suspeitas sobre o envolvimento do presidente nos escândalos do "mensalão", diretamente ou por conivência, aumentaram nas últimas semanas e atingiram seu ponto mais alto com o depoimento do publicitário Duda Mendonça à CPI, na última quinta-feira, quando admitiu ter recebido dinheiro de caixa dois do PT em paraísos fiscais.
O impeachment de Lula passou a ser debatido desde então mais abertamente, entre os políticos e por setores da sociedade.
A "ofensiva" citada por Lula ontem em diferentes conversas, uma reação aos reveses dos últimos dias, tem como armas, segundo ele, o avanço das investigações a um ponto conclusivo, para evitar um clima de ansiedade negativa a cada dia no Palácio do Planalto, e a retomada dos projetos prioritários do governo, como disse aos seus ministros em reunião no Torto, na última sexta.
"Temos de ir para a ofensiva, mas com coesão, para poder assegurar a continuidade do governo e de nossos projetos", disse o presidente, segundo relato de alguns dos presentes ao encontro reservado com Lula.
Acompanhado de seis ministros, Lula chegou ao Palácio do Campo das Princesas (sede do governo de Pernambuco) por volta das 9h45, onde estava sendo velado o corpo do presidente nacional do PSB, deputado Miguel Arraes, morto anteontem pela manhã por conta do agravamento de uma infecção pulmonar. Por dez minutos, Lula permaneceu diante do caixão. A seguir, entrou numa sala reservada a familiares, políticos locais, deputados e senadores.
Por cerca de uma hora, num local ao qual a imprensa não tinha acesso, Lula participou de diferentes rodas de conversas, ora sentado ora em pé. Aos familiares do ex-governador pernambucano, Lula disse que, em 1979, fez questão de receber Arraes em seu retorno do exílio.
E completou, segundo seus auxiliares relataram à reportagem: "Foi com o Miguel Arraes que muita gente pôde comprar o primeiro colchão, o primeiro rádio de pilha e teve acesso à luz elétrica pela primeira vez. O que nos conforta é saber que a passagem dele por aqui valeu a pena".

Compreensão
Ontem, dois dias após ter feito um pronunciamento no qual pediu desculpas à população por possíveis erros do PT e do governo federal, o presidente declarou a alguns dos presentes que sua fala havia sido positiva e que, pelo menos neste momento, não enxerga a necessidade de se preparar um outro discurso em cadeia de rádio e TV para tratar da turbulência política.
O pronunciamento de sexta, quando disse que foi "traído" mas preferiu não citar ninguém nominalmente, foi criticado pela oposição e até por setores governistas. Por conta disso, ontem o presidente disse que, em alguns momentos, não é "compreendido".
De acordo com relato obtido pela reportagem, Lula tentou demonstrar tranqüilidade e deu ontem algumas alfinetadas em setores da oposição que, segundo ele, estão usando a atual crise política, a pior de sua gestão, para "aparecer". "Estou tranqüilo, com certeza, mas sempre tem gente que está querendo usar a crise para aparecer", disse, minutos antes de ser abordado pelos tucanos Geraldo Alckmin (governador de SP) e José Serra (prefeito paulistano), que chegaram ao palácio uma hora depois da comitiva presidencial.

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