- 12 de novembro de 2024
Por Luiz Valério
Colaborador do Fontebrasil
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A população de Boa Vista foi surpreendida, nas primeiras horas desta quarta-feira pela paralisação repentina do serviço de transporte coletivo. Até por volta das 6h30 os motoristas das empresas que exploram o serviço na capital se recusavam a sair, alegando falta de condições de trabalho e atraso no pagamento do salário. O boicote dos funcionários aos patrões acabou gerando tumulto nos terminais e pontos de ônibus. Cerca de quarenta por cento da frota de ônibus que serva à capital ficou sem circular durante horas.
No chamado "Terminal da Integração", construído pela Prefeitura no bairro Caimbé, centenas de pessoas se aglomeraram desde as primeiras horas da manhã à espera de transporte para poder chegar ao trabalho. Usuários tiveram que esperar por até três horas para poder se deslocar do bairro onde moram até o Centro da cidade. A insatisfação dos passageiros e o empurra-empurra ensejaram a presença da polícia. Foram enviadas quatro viaturas para o terminal do Caimbé. A Guarda Municipal e os servidores da Emhur, que trabalham no local, tiveram que se desdobrar para amenizar o sentimento de insatisfação, manifesto por empurrões e xingamentos.
A revolta dos funcionários das empresas foi causada também pela retirada de dez ônibus novos de circulação. Exatamente os carros que foram adquiridos para ampliação e renovação de frota tão logo foi inaugurado o Terminal do Caimbé (da integração) há cerca de um mês. O presidente do sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus, Sidney Gomes, disse que a categoria não sente segurança em trabalhar com ônibus velhos, mas acaba tendo que se submeter à situação pelo fato de não contar com o apoio da população, que não se rebela contra o descaso das empresas. "A população fica muito passiva e até contra a gente", reclamou.
A retirada dos ônibus pelas empresas, conforme Sidney Gomes, teria sido decorrente da alteração de rota imposta pela Emhur (Empresa Municipal de Habitação e Urbanismo), da Prefeitura d Boa Vista, depois da construção do novo terminal. "A explicação que eles (empresários) nos dão é que o novo terminal inviabilizou o sistema de transporte coletivo", disse ele Fontebrasil. Há algumas semanas, as empresas já tinham ameaçado retirar os ônibus de circulação também por insatisfação com as novas rotas estabelecidas pela Emhur. "Como é que as empresas trazem dez ônibus sob o pretexto de renovação de frota e depois de um mês os retira de circulação e os envia para Manaus?", questionou Sidney Gomes.
Ele acusa a Emhur de fazer vistas grossas ao descaso das empresas de ônibus no que diz respeito à qualidade do serviço prestado à população. Mas o descontentamento em relação ao sistema de transporte coletivo de Boa Vista é generalizado. Os empresários reclamam da mudança de rota, depois da construção do novo terminal. Enquanto isso, os usuários do serviço, por sua vez, bradam pelo mesmo motivo, pois quem pegava apenas um ônibus para se deslocar do bairro Senador Hélio Campos ao Centro, por exemplo, agora precisar pegar dois carros. Com o agravante de ter que esperar, em alguns casos, por até duas horas no Terminal da Integração.
Usuários se dizem vítimas de "propaganda enganosa"
A irritação dos usuários do serviço de transporte coletivo de Boa Vista mais uma vez veio à tona, com a paralisação dos motoristas e cobradores nesta manhã. No "Terminal da Integração" muitos reclamavam do que chamavam "propaganda enganosa" feita pela Prefeitura, no que diz respeito ao que deveria ser um ganho na qualidade do serviço prestado, após a construção do novo terminal. "Ficou foi muito pior. Agora temos que esperar muito mais tempo e acabamos chegando atrasado ao trabalho", disse um dos usuários ouvidos pelo Fonte.
A servidora pública Erotildes Costa Sarmento, que mora no bairro Caimbé e esperava ônibus desde as 7h15, só conseguiu chegar ao trabalho depois de 9h30. "Isso é um absurdo", disse. Na mesma situação estava a também servidora pública Maria Idacelma Alves. Quando conseguiu embarcar em um dos ônibus que fazem a linha Tancredo Neves/Centro sua espera já completava três horas. Ela estava no Terminal da Integração desde às 6h30. "Não está nada bom", queixou-se.
Da parte das empresas ninguém ainda se manifestou a respeito da paralisação do serviço, na manhã de hoje. O Fonte entrou em contato com o assessor das empresas de ônibus, jornalista Humberto Silva, mas este afirmou desconhecer o boicote dos funcionários e a paralisação do serviço. Disse que iria entrar em contato com a direção das empresas para dar uma posição, mas até o fechamento desta matéria não havia dado retorno. A reportagem ligou para a Emhur, mas ninguém atendeu ao telefone.