Home
Opinião Formada
Contagem regressiva para as cassações

Contagem regressiva para as cassações

Celso Junior/Agência Estado José Dirceu: ex-ministro da Casa Civil soube que o processo seria encaminhado para O Conselho de Ética pelo presidente da Câmara e disse que não vai renunciar Carlos Moura/CB Izar (C), presidente do Conselho de Ética: escolha dos relatores Às 13h de ontem, o celular do deputado federal José Dirceu (PT-SP) tocou. Do outro lado da linha, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE): "Estou enviando ao Conselho de Ética a representação contra você. Tem algum problema?", perguntou. "Não, nenhum. Que seja feito o que o regimento manda, eu não pretendo renunciar", respondeu o ex-ministro.

Por Edersen Lima,
10 de agosto de 2011
em Opinião Formada

facebook
whatsapp
telegram
linkedin

Mariana Ceratti e Ugo Braga
Da equipe do Correio

Celso Junior/Agência Estado

José Dirceu: ex-ministro da Casa Civil soube que o processo seria encaminhado para O Conselho de Ética pelo presidente da Câmara e disse que não vai renunciar

Carlos Moura/CB

Izar (C), presidente do Conselho de Ética: escolha dos relatores

Às 13h de ontem, o celular do deputado federal José Dirceu (PT-SP) tocou. Do outro lado da linha, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE): "Estou enviando ao Conselho de Ética a representação contra você. Tem algum problema?", perguntou. "Não, nenhum. Que seja feito o que o regimento manda, eu não pretendo renunciar", respondeu o ex-ministro chefe da Casa Civil, um dos parlamentares mais ameaçados de perder o mandato por quebra de decoro. Severino definiu a ação como "uma cortesia", mas, no final das contas, a ligação acabou tendo mesmo um tom de consulta - como se o presidente da Casa estivesse preocupado em não chatear Dirceu com a decisão.

Com a resposta de um dos nomes mais poderosos do PT, Severino pareceu ter finalmente se sentido à vontade para mandar o Conselho de Ética iniciar o processo de cassação do mandato de Dirceu. Severino, pressionado, também, enviou representações contra os deputados Sandro Mabel (PL-GO), Romeu Queiroz (PTB-MG) e mais dois parlamentares. Hoje, às 15h, é o prazo final que os eles têm para, se quiserem, renunciarem aos respectivos postos sem perderem os direitos políticos. É para essa hora que está prevista a reunião do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara - nela, serão revelados os nomes dos relatores que analisarão as representações contra Dirceu, Mabel e Queiroz.

Uma vez que os relatores tenham sido escolhidos, o processo de cassação de mandato se inicia, e os parlamentares não podem mais abandonar seus cargos. "Já tenho idéia de quem vou indicar, mas só amanhã (hoje) poderei revelar", contou o deputado Ricardo Izar (PTB-SP), presidente do Conselho de Ética, sem esconder o cansaço depois de dois dias turbulentos - ele havia dormido apenas duas horas na madrugada de segunda-feira para terça-feira.

Na segunda-feira, Izar se indispôs com o presidente da Câmara porque Severino havia encaminhado ao Conselho somente quatro processos considerados pouco relevantes - relativos à cassação dos deputados Sandro Matos (PTB-RJ), Neuton Lima (PTB-SP), Joaquim Francisco (PTB-PE) e Alex Canziani (PTB-PR). Essa decisão daria a José Dirceu e Sandro Mabel mais tempo para enfrentar o processo de cassação. Severino justificou-se dizendo que Izar havia demorado demais para enviar os processos contra Dirceu e Mabel - que foram os últimos a serem encaminhados. Além disso, alegou que o conselho não teria tempo suficiente para analisar todos os processos ao mesmo tempo.

Mas, no começo da tarde de ontem, Severino demonstrou ter recuado da polêmica decisão. Nem bem chegou a uma reunião da Mesa da Câmara - iniciada pouco depois das 15h, quando ele e Dirceu já haviam conversado havia duas horas - anunciou a mudança de planos. Questionado sobre o assunto, o presidente da Casa soltou mais uma de suas frases polêmicas. "Eu não tenho idéia fixa. Quem tem idéia fixa é doido."

"Não precisei nem perguntar muito. Ele já abriu a reunião avisando sobre as novidades", disse o deputado José Thomaz Nonô (PFL-AL), primeiro vice-presidente da Mesa, que havia chegado à reunião pronto para questionar a escolha de Severino. "Prevaleceu o entendimento de que a Mesa não pode exercer esse juízo sobre que processos devem ou não ter continuidade. Isso cabe ao Conselho de Ética", comentou ele, que ressaltou o impacto da opinião pública como uma causa da mudança de rumos do presidente da Câmara.

Representações
Segundo Izar, nenhuma das nove representações contra os deputados pode ser considerada "a primeira da fila". O andamento dos trabalhos vai depender muito mais da complexidade dos processos, que têm, cada um, 90 dias para serem analisados. "O processo contra Dirceu promete ser longo, assim como o do Mabel e o do Jefferson. Já os dos quatro petebistas (Sandro, Neuton, Joaquim e Canziani, que foram candidatos a prefeito e supostamente se beneficiaram dos R$ 4 milhões que o PTB recebeu do PT, como caixa dois) deve ser bem mais fácil."

Caso os 90 dias se revelem insuficientes, o prazo pode ser estendido por mais 60, conforme proposto em projeto de resolução do deputado Ney Lopes (PFL-RN). Agora, Dirceu estuda recorrer ao Supremo para frear o processo.

Representações

OS PEDIDOS ENCAMINHADOS AO CONSELHO DE ÉTICA

José Dirceu (PT-SP)
É acusado por Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o chefe do esquema de mensalão

Sandro Mabel (PL-GO)
É acusado de oferecer mensalão à deputada licenciada Raquel Teixeira (PSDB-GO)

Romeu Queiroz (PTB-MG)
É acusado de ser beneficiado com saques nas contas do empresário

Marcos Valério
Francisco Gonçalves (PTB-MG)
É acusado de não ter denunciado a tempo suposta distribuição de dinheiro no plenário

Sandro Mattos (PTB-RJ)
É acusado de ter recebido dinheiro de caixa 2 para a prefeitura São José do Meriti (RJ)

Neuton Lima (PTB-SP)
É acusado de ter recebido dinheiro de caixa 2 para a prefeitura de

Indaiatuba (SP)
Joaquim Francisco (PTB-PE)
É acusado de ter recebido dinheiro de caixa 2 para a prefeitura do

Recife
Alex Canziani (PRB-PR)
É acusado de ter recebido dinheiro de caixa 2 para a prefeitura de

Londrina
Roberto Jefferson (PTB-RJ)
É acusado de apresentar denúncia, sem provas, sobre a existência do mensalão