- 12 de novembro de 2024
Aristeu Gonçalves, metalúrgico, treze filhos, morador do barraco 417 no Beco da Merda, Vila Vintém, salário: R$700,00, estava sentado no Bar do Elpídio quando ouviu nosso presidente dizer que a culpa dos juros altos era dos brasileiros; que estes deveriam deixar de ser acomodados, levantar o traseiro da cadeira de bar e trocar bancos com altas taxas de juros por outros com índices mais aceitáveis. Ele, que estava com a bunda grudada num tosco banco de madeira enquanto tomava umas talagadas, sentiu-se invadido de remorso: "O presidente está certo. Segunda-feira vou mudar de banco."
Segunda-feira, 2 de maio, Aristeu mandou dizer ao seu chefe que não iria trabalhar: precisava tomar conta de suas finanças e ajudar o Brasil na luta contra os juros altos. Às onze da manhã, depois de enfrentar longa fila na caixa eletrônica, nosso trabalhador conseguiu imprimir o saldo de sua conta: R$47,35. Dirigiu-se à gerência e, depois de duas horas e quinze minutos, conseguiu ser atendido. Com o papelucho impresso em direção ao executivo, falou:
- Doutor, quero encerrar minha conta.
O gerente leu o extrato, esboçou um sorriso desdenhoso, pegou a calculadora e, depois de alguma contas devidamente anotadas no risque-rabisque, disse-lhe:
- Seu Aristeu, o seu saldo atualmente é R$47,35... Temos que debitar a CPMF do mês, R$2,66; a taxa de manutenção de conta, R$15,00; a taxa de encerramento de conta, R$21,00; a taxa de extrato mensal, R$2,00; o cancelamento do cartão eletrônico, R$5,00; e a taxa do saque em caixa, R$5,00. Total: R$50,66. O senhor, então, fica nos devendo R$3,31. Preencha este formulário e entre na fila da caixa 13, pague a quantia devida e, antes do final do expediente, sua conta estará encerrada.
Aristeu, depois de extenuante espera em nova fila, cassou moedinhas do fundo do bolso, entregou o cartão à caixa, e com o recibo em que estampava "Encerramento de Conta" saiu feliz da vida por ter atendido ao chamado do Presidente na luta contra os banqueiros. Comunicou à seção de pessoal seu desejo de abrir conta num outro banco que cobrava juros de 11,57% ao mês, ao invés do anterior que exorbitava em 11,58%.
No dia 8 de junho, o metalúrgico dirigiu-se à tesouraria da fábrica para receber o envelope de pagamento. Grampeado ao cheque de R$467,18, o holerite mostrava: Salário, R$700; INSS, R$70,00; FGTS, R$56,00; Sindicato, R$35,00; Falta (02/05), R$31,82; Correspondência Bancária (Cancelamento), R$5,00; Correspondência Bancária (Nova Conta), R$5,00; Abertura de Conta, R$15,00; Cartão Eletrônico, R$15,00. Líquido: R$467,18.
Às oito da noite, durante o Jornal Nacional, lá estava Aristeu no bar do Elpídio, mais uma vez com a bundinha grudada num tosco banco de madeira, sorvendo nova talagada. Quando apareceu a imagem do presidente, num de seus desastrosos pronunciamentos, nosso metalúrgico levantou o copo rumo à televisão e bradou orgulhoso:
- Presidente! Minha parte eu já fiz... Agora esses banqueiros vão começar a sofrer com o encerramento de minha conta.