- 12 de novembro de 2024
Nesse aspecto, as previsões da publicação mais americana do Brasil foram todas equivocadas. Lula seguiu à risca a mesma cartilha do seu antecessor, FHC, e manteve a "estabilidade" econômica bem ao gosto do capital financeiro internacional. O sucesso brasileiro na seara econômica é tanto que passou a ser cantado em prosa e verso pelos interlocutores e representantes das instituições financeiras que mantém o domínio econômico do mundo - Bird e FMI.
Não contente com a não concretização das previsões pessimistas, Veja vem dando sucessivas capas sobre o "escândalo do mensalão", esquema inescrupuloso de pagamento de propina a deputados da base aliada do governo Lula por dirigentes petistas, para conseguir apoio parlamentar para a aprovação de projetos de interesse do Poder Executivo Federal. O cheiro de corrupção é inegável. Tanto assim que figurões do PT já caíram e o deputado federal, Waldemar da Costa Neto, presidente nacional do Partido Liberal, renunciou ao cargo e outros tantos já dão sinais de que farão o mesmo. E ainda há rumores de um escandaloso acordão de pode estar sendo tramado nos subterrâneos do poder em Brasília. Acreditar que Lula está fora de tudo isso ou que, no mínimo, não tinha conhecimento desse esquema porco seria inocência extrema.
Mas, as "bondosas" e gordas doações feitas pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Sousa (ou de empresários por ele representados, como Daniel Dantas, diretor do Banco Opportunity, por exemplo) beneficiaram também, no presente e num passado bem recente, parlamentares do PFL e do PSDB, que agora acusam o PT de ser o único partido podre da República. Há alguns indícios e algumas provas que apontam para o financiamento de campanhas de doações de dinheiro, sabe-se lá para quê (na verdade sabemos), a deputados pefelistas e tucanos durante o governo do ex-presidente FHC.
Posando de paladina da verdade a revista joga lama no ventilador para todos os lados, na tentativa de destruir o PT e desestruturar o governo petista, já cambaleante, como se ela fosse uma "moça donzela" desprovida de qualquer maldade ou culpa no cartório. Mas a coisa não é bem assim. Segundo editorial da revista CartaCapital, edição 353, uma das mais críticas e sóbrias publicações brasileiras da atualidade, "O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) informa quem quiser que a Editora Abril, dona da revista Veja, fez doações a tucanos no pleito de 2002. O atual líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman, recebeu R$ 34,9 mil, enquanto Aloysio Nunes, deputado licenciado e ex-ministro da Justiça no governo FHC, contava com a doação abriliana de R$ 15,8 mil".
Mais adiante, o editorialista de CartaCapital, Mino Carta, completa: "Goldman foi relator da Lei Geral de Telecomunicações durante o governo tucano, quando a Abril tinha um endividamento líquido de R$ 699,5 milhões. Graças à mudança na Constituição, a editora de Veja conseguiu associar-se a empresas de capital privado da Capital Internacional Inc., e reduzir a dívida para 13,8%". Ou seja, é fácil (e aqui uso uma parábola bíblica) apontar um algueiro nos olhos alheios, quando se tem uma trave nos olhos e a ignora. Mas como disse FHC, numa demonstração do mais puro cinismo, "a crise é agora, o passado é história". Será?
Luiz Valério - jornalista, escreve para o site de notícias Fontebrasil. E-mail: luiz.Valé[email protected] Blog: www.luizvalerio28.blogspot.com