- 12 de novembro de 2024
No momento em que os produtores rurais de todo o Brasil começam a preparar o solo para o início do plantio da próxima safra, persistem os motivos que fizeram cerca de 20 mil agricultores marcharem à Brasília no final de junho, segundo o deputado federal Almir Sá (PL/RR).
Em pronunciamento no plenário da Câmara, Sá disse que o momento atual de instabilidade política não favorece o "tratoraço", mas o governo precisa tomar medidas urgentes para evitar uma nova quebra de safra. "Em outubro os agricultores iniciam o plantio da próxima safra agrícola e não podemos deixar o setor que alavanca a economia a mercê de intempéries econômicas e de produção", afirmou.
Baseado em estudo da Confederação da Agricultura do Brasil (CNA) denominado "Projeto Conhecer", que mensurou a crise no campo com consultas diretas aos produtores rurais, o deputado disse ser alarmante ver que metade dos consultados tem sua renda comprometida com o pagamento de parcelas do custeio da lavoura, além das dívidas em outras linhas de financiamento, com vencimentos para este ano.
De acordo com o parlamentar, as principais razões da crise, como a defasagem cambial, baixos preços das commodities agrícolas, alto custo de produção, importações predatórias, quebras climáticas de safra e aumento de produtividade em outros países vem desequilibrando o setor.
"Além de alto comprometimento da renda com linhas oficiais de crédito rural, a consulta comprovou que 36% do setor rural também está endividado diretamente com fornecedores de insumos".
Para o deputado, a relação de troca, usada como parâmetro de preços na agricultura, hoje é prejudicial ao agricultor. Na safra passada, para adquirir uma tonelada de fertilizante para arroz de sequeiro, o produtor dispendia 23,2 sacas do produto. O preço hoje equivale a 30,4 sacas.
Mais grave é a situação dos produtores de soja, cujo custo de produção saltou de 19,8 sacas para 28 sacas por tonelada de fertilizante. "Paralelo a isso, houve uma diminuição brusca no preço internacional da saca do produto", afirma o deputado Almir Sá, para quem o não pagamento da dívida era a conseqüência óbvia.
Sá disse ainda que a crise de renda no campo já era conhecida do governo, que por meio de resoluções do Conselho Monetário Nacional baixou uma série de medidas para tentar facilitar a renegociação das dívidas, mas para ele estas medidas não foram suficientes para atenuar os graves problemas no campo.
"Hoje já temos a renegociação dos prazos das dívidas que vencem neste ano, o resjuste de preços nos contratos de opção, principalmente do arroz, e o cancelamento da execução das dívidas. Isto ajuda, mas não é o suficiente". Sá considera também insuficientes os 3 bilhões anunciados pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, para refinanciamento das dívidas através do BNDES.
O deputado explica que as dívidas do setor podem variar de R$ 5 a R$ 26 bilhões. Essas reivindicações dos produtores, entende, são exequíveis porque o segmento gera negócios da ordem de 170 bilhões todos os anos. "É absurdo que um setor da economia tão importante seja abrigado por um ministério (Agricultura) que tem apenas 0,8% do orçamento público federal".
Ponderando que o Brasil é o país agrícola mais competitivo do mundo, o deputado diz que, ao funcionar como uma indústria a céu aberto, sujeito à intempéries do clima, o setor rural precisa de suporte em momentos difíceis, apesar do apoio recebido do governo corresponder a apenas 3% do PIB do setor, enquanto na União Européia chega a 34%, nos Estados Unidos 17% e no Japão, 58%.