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Agenda partidária

A agenda do então ministro da Casa Civil José Dirceu registra encontros com os principais supostos integrantes do esquema de corrupção que financiou repasses de recursos para partidos e parlamentares, segundo denúncia feita pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).


Lúcio Vaz
Da equipe do Correio

A agenda do então ministro da Casa Civil José Dirceu registra encontros com os principais supostos integrantes do esquema de corrupção que financiou repasses de recursos para partidos e parlamentares, segundo denúncia feita pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Além do encontro com o principal executivo do Banco do Espírito Santo (BES), que controla a Portugal Telecom, Ricardo Espírito Santo, em companhia do publicitário Marcos Valério, a agenda revela muitas reuniões com o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que assumiu a responsabilidade pela montagem do suposto esquema de caixa 2. Ele participou de várias reuniões com Dirceu e outros ministros. A presidente do Banco Rural, de onde partiram os repasses de dinheiro para parlamentares, Kátia Rabelo, também foi recebida por Dirceu, novamente em companhia de Valério.

O documento, preparado pela Casa Civil, em resposta a um requerimento de informação apresentado pela Câmara dos Deputados, contradiz as declarações do deputado José Dirceu (PT-SP) ao Conselho de Ética. O ex-homem forte do governo Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não assumiria os atos da direção petista: "Não assumo atos da direção do PT, da Executiva do PT. Eu não era membro da direção do PT". A sua agenda mostra, porém, que os encontros com os dirigentes do partido eram freqüentes, e muitas vezes ao lado de ministros de Estado.

No dia 8 de janeiro de 2003, por exemplo, lá estavam Delúbio, o então presidente do PT, José Genoino, o então secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, juntamente com os ministros Antonio Palocci (Fazenda) e Dilma Rousseff (Minas e Energia). No dia 9 de fevereiro do ano passado, reuniram-se com Dirceu a ministra Dilma, o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, e os dirigentes petistas Genoino, Pereira e Marcelo Sereno. Dirceu encontrou-se sete vezes sozinho com Delúbio em seu gabinete. Seis dessas reuniões tiveram duração de meia hora. O ministro recebeu dirigentes petistas em outras seis audiências oficiais.

"Não é verdade"
No depoimento ao conselho, Dirceu evitou falar do encontro de Valério com Antônio Mexia, ex-administrador do BES e ex-ministro de Portugal. "Ainda é muito cedo para falar disso", limitou-se a comentar. No dia 11 de janeiro deste ano, o ministro recebeu Valério em companhia de Ricardo Espírito Santo. No conselho, o ex-ministro rebateu assim a acusação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ): "Não é verdade. Nunca tive relação com a Portugal Telecom, nunca tratei de qualquer matéria. Esse caso é muito grave. O senhor está mentindo", disse. Na audiência com Dirceu, a presidente do Banco Rural e o seu vice-presidente, José Augusto, foram acompanhados por Valério, pelo seu sócio da agência SMPB, Cristiano Paz, e por Delúbio.

Em 7 de agosto de 2003, o ministro chefe da Casa Civil recebeu Rinaldo Soares, da Usiminas, juntamente com Delúbio e Valério. A empresa mineira tinha contrato com o publicitário e financiou campanhas eleitorais. O tesoureiro do PT também acompanhou encontros com líderes da base governista no Congresso. No dia 8 de janeiro, reuniram-se o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), o líder do PT na Câmara, Nelson Pellegrino (BA), o líder do PT no Senado, Tião Viana (AC), mais Genoino, Delúbio e Pereira. Duas semanas mais tarde, numa reunião em que foi discutida uma viagem do presidente Lula, estavam presentes vários ministros e, mais uma vez, Delúbio.

Detalhe da agenda de Dirceu: encontro com os petistas Delúbio, Genoino e Silvinho dentro da Casa Civil.

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