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No setor de telecomunicações não há ninguém que acredite na versão apresentada pelo empresário Marcos Valério de Souza sobre seu encontro com executivos da Portugal Telecom em Lisboa. Ele diz que as conversas com Antonio Mexia, ex-administrador da empresa, e o presidente Miguel Horta e Costa foram apenas para tentar manter o contrato de publicidade da Telemig Celular depois que a portuguesa comprasse a operadora.


Mariana Mazza
Da equipe do Correio

Carlos Moura/CB/6.7.05
Valério disse que tentou convencer a Potugal Telecom a manter contratos da Telemig Celular, que estaria sendo comprada pelo grupo lusitano
 
No setor de telecomunicações não há ninguém que acredite na versão apresentada pelo empresário Marcos Valério de Souza sobre seu encontro com executivos da Portugal Telecom em Lisboa. A tese defendida por Valério é que as conversas com Antonio Mexia, ex-administrador da empresa, e o presidente Miguel Horta e Costa foram apenas para tentar manter o contrato de publicidade da Telemig Celular depois que a portuguesa comprasse a operadora.

O conflito é que, em janeiro deste ano, quando a viagem foi feita, as negociações entre o Banco Opportunity, controlador da Telemig Celular, e Portugal Telecom estavam paradas há, pelo menos, quatro meses. Por isso, os analistas não conseguem acreditar que Marcos Valério possa ter negociado a manutenção da conta publicitária da Telemig Celular em sua carteira de clientes, uma vez que não havia nenhum sinal de compra efetiva da empresa.

"Não faz o menor sentido alguém ir a Portugal para negociar contratos em cima de uma compra que estava congelada", afirma um consultor de telecomunicações que preferiu não se identificar. Para os especialistas do setor, a única hipótese plausível seria Marcos Valério estar reabrindo as negociações com a Portugal Telecom em nome do Opportunity. Mas a impressão mais comum entre os consultores é que a operadora seria apenas uma fachada de outros negócios.

"Parece que o interesse não seria a telefônica, mas o Banco do Espírito Santo", comenta outro analista. O Banco do Espírito Santo (BES) é um dos principais controladores da empresa de telefonia portuguesa. Se a intenção era fechar um acordo para conseguir dinheiro para cobrir dívidas partidárias do PT e do PTB - como sustenta o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) em sua acusação contra José Dirceu (PT-SP) - seria fácil imaginar que o interesse estaria no controlador da empresa e não na Portugal Telecom em si. Mais um ponto de dúvidas é por que o publicitário se daria ao trabalho de fazer uma viagem internacional sendo que a Portugal Telecom possui representação no Brasil. "É tudo muito estranho", resume o analista.

Disputa
As movimentações técnicas feitas pela Telemig Celular geraram os mais fortes motivos para o desinteresse do grupo português. Em novembro de 2004, a Telemig anunciou a mudança completa da sua rede para a tecnologia GSM. Essa manobra técnica foi considerada na época como uma ducha de água fria nas intenções da Vivo. A explicação é que a Vivo, controlada pela Portugal Telecom em conjunto com a Telefônica, é a única no Brasil a usar a tecnologia CDMA, concorrente da GSM no mundo. Comprar uma empresa GSM significaria investimentos não só na aquisição de ações e licenças, mas gastos com uma profunda mudança na estrutura tecnológica da companhia para que os celulares da Vivo pudessem funcionar em Minas Gerais.

Outra ação do Opportunity que minou as negociações foi a compra de uma nova licença no dia 21 de setembro de 2004. A Telemig Celular arrematou no último leilão da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a autorização para ampliar seus serviços ao Triângulo Mineiro por R$ 9,725 milhões. Assim, a empresa passou a ter um calendário de obrigações a cumprir com a Anatel, o que tornou o negócio ainda menos atraente. Segundo o Opportunity, as negociações com a Portugal Telecom teriam acabado nesse mesmo mês.

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