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Desdobramentos de crise sem precedentes - Márcio Accioly

O maior problema do nosso país é não dispor de instituição capaz de encaminhar saída para a gravíssima crise que aí se encontra. O cumprimento da lei é lento.


             O maior problema do nosso país é não dispor de instituição capaz de encaminhar saída para a gravíssima crise que aí se encontra. Em artigo na Tribuna da Imprensa (RJ), terça-feira (26), o jornalista Hélio Fernandes mostrou e provou, por A mais B que "não há uma possibilidade em um milhão de haver impeachment" do presidente Dom Luiz Inácio (PT-SP). Todo esse processo é lento, muito demorado e só quem julga é o Senado.

O impeachment do presidente Collor, de acordo com Hélio, "levou 16 meses". Ora, para se dar início a um processo de impeachment, ele terá de ser iniciado na Câmara com um pedido assinado por 342 deputados (correspondentes a dois terços dos 513). Como se alcançar tal número, numa Câmara cuja maioria é composta por integrantes do mensalão? Além do mais, existe todo um rito democrático no cumprimento de prazos.

Com o afastamento do presidente, quem assumiria? O vice, José Alencar (MG), filiado ao PL, legenda que tem seu presidente, deputado Waldemar Costa Neto (SP), apontado como operador do mensalão. O tesoureiro do PL, Jacinto Lamas, flagrado com milhões de reais das contas do publicitário Marcos Valério, já está sendo chamado de "já sinto lama no meio da canela".

Vamos supor que, por uma ou outra razão, José Alencar não possa assumir. O posto iria, então, para o terceiro na hierarquia sucessória, o presidente da Câmara dos Deputados. Acontece que quem a preside atualmente é o deputado federal Severino Cavalcanti (PP-PE) cujo nome estaria numa lista apreendida pela Polícia Federal como beneficiário do mensalão.

O quarto nome da lista seria o do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ex-integrante do grupo do então presidente Collor de Mello (1990-92), dispensando, por si só, qualquer apresentação. Em quinto lugar viria o presidente do Supremo Tribunal Federal - STF -, Nelson Jobim, sobre quem Hélio Fernandes diz o seguinte:

"- Jamais vi, ouvi ou conheci um ministro como Nelson Jobim. No governo FHC, foi com o presidente FHC tomar banho nu na Ilha Grande. Além disso, na mansão de um empresário não muito representativo". E ainda há no Brasil quem fale mal do Paraguai!

Na terça-feira (26), depois de descoberto parte do esquema da roubalheira efetuada pelo mesmo Marcos Valério, desta feita com o PSDB de Minas Gerais (época em que Eduardo Azeredo era governador), o ex-presidente FHC finalmente saiu do mutismo e deitou falação. Sua ex-excelência disse o seguinte:

"- Queremos apuração e não confusão. Precisamos passar o Brasil a limpo e temos que investigar tudo, mas sem perder o foco de que a crise é hoje. O que aconteceu no passado, no meu governo, é coisa da história".

Ora, quer dizer que o sujeito comete um crime e depois de dois ou três anos não deve ser mais investigado nem preso? Tudo passa a ser parte da história? FHC montou uma quadrilha que acabou com a Petrobras, doou o Sistema Telebrás, entregou as distribuidoras de energia, destruiu a CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), mergulhou o país na miséria, mas nada deve ser investigado, em sua opinião, "porque pertence à história".

Ele pode agir assim na sua vida pessoal. Não reconhecer, por exemplo, os filhos que teve fora do casamento, pois ninguém tem nada com isso (teve um com Miriam Dutra, jornalista da Rede Globo e outro com a cozinheira do senador Ney Suassuna, PMDB da Paraíba). Mas dizer que a ladroeira praticada na sua gestão é coisa do passado e deve ser esquecida, colocada à margem das investigações, é muito cinismo.

Já o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, flagrado na prática de vários crimes, entre eles evasão de divisas e fraude fiscal, foi conversar com o presidente da CPI dos Bingos para livrar o Banco Rural, "com medo de que aquela instituição financeira quebre e afete o sistema financeiro". A notícia saiu no painel da Folha de S. Paulo da terça-feira (26). Meirelles foi protegido por Dom Luiz Inácio através de Medida Provisória.

O Banco Rural vem saqueando o país, pelo menos, desde a era Collor. Mas nada se faz. Uma instituição dessas pode fraudar e subornar que ninguém toma providências. E o presidente do BC ainda vai pedir apoio ao senador Delcídio Amaral (PT-MS). Por isso que a crise é grave. Porque as instituições são frágeis. Porque a ladroagem está enraizada. Porque ninguém é punido e quando vai preso é solto em poucos dias.

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