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Ainda o seminário - Por Luís Valério*

Por mais esforço de marketing que se faça, vai ser difícil tirar esse perfil retrógrado e populista que é uma das marcas de Ottomar Pinto. Não sou em que diz isso. É a história que registra.


Uma das lições que aprendi desde cedo é que o valor inegável de um homem está na manutenção da sua palavra, custe o que custar. Não importa o preço a ser pago. Mas ter palavra e mantê-la não é virtude que se possa esperar de qualquer um, principalmente no mundo político onde homens aparentemente cheios de virtudes acabam sendo pegos com as calças e cuecas na mão - que o diga o famigerado escânda-lo do mensalão.

Faço este preâmbulo para tratar da questão central que motiva este artigo. Trata-se uma tréplica à "Nota de esclarecimento" publicada neste espaço pelo Secretário de Comunicação do Governo de Roraima, Rui Figueiredo, que nega ter convocado os profissionais que trabalham consigo na pasta a "vestir a camisa do governo" durante o chamado "seminário de marketing" realizado na sexta-feira, 22, no Palácio da Cultura. Tanto usou a expressão "vestir a camisa" quanto anunciou a "vinda de uma empresa de Manaus" para auxiliar os profissionais de marketing da sua secretaria a fazer um melhor trabalho para valorizar ainda mais a imagem do governo. O seminário foi, na verdade, uma reunião fechada para falar sobre a necessidade de mostrar mais as tais "ações de governo". Nada mais que isso.

Aqui esclareço que minha presença em tal evento se deu apenas e simplesmente pelo fato de ter sido convidado. Na segunda-feira, 25, ouvi alguns comentários sobre o meu artigo "Começou a campanha eleitoral", publicado neste site, no mesmo dia. Das pessoas que comentaram comigo a respeito do assunto, algumas delas subordinadas ao colega Rui, não ouvi nenhuma correção sobre o que escrevi. Ninguém me corrigiu ou disse que eu havia inventado ou feito confusão sobre o que ouvira. Essas pessoas ouviram as mesmas coisas que ouvi. Aliás, durante o tal "seminário de marketing" houve quem risse a cada frase dita pelo ilustre secretário. Ainda na segunda-feira, entre os "comandados de Rui" houve sim quem também tenha afirmado pensar que seria realmente de um seminário de marketing e não uma reunião fechada voltada apenas para assessores do governo. Foi por pensarem desse assim, que recebi o convite a também participar do evento.

Quanto à simpatia que o secretário de Comunicação afirma que eu manifestei pelo senador Romero Jucá por ter usado os termos como "naipe" e "experiência política" ao me referir ao ex-ministro da previdência em meu artigo anterior, sinto muito em desapontá-lo. Mas isso, sim, é um equívoco. Esta simpatia, nos termos colocados e insinuados por Rui, eu não a tenho. Apenas reconheço a influência política conquistada por Romero Jucá ao longos dos seus anos e anos de mandato na capital federal. Tanto assim que, mesmo sendo fritado diariamente por colegas de partido e pela grande imprensa, com acusações de desvio de dinheiro, conseguiu sobreviver à degola, até que se encontrasse uma forma menos traumática para que ele deixasse o governo Lula: a pífia reforma ministerial e a justificativa de que pretende disputar o Governo do Estado. Desde que milito na imprensa, nesses dez anos, nunca vesti camisa de nenhum político. E não pretendo fazê-lo.

Mas Rui Figueiredo não está desempenhando mais que o papel que lhe cabe - defender a imagem do governo que lhe paga o salário de Secretário de Comunicação. Eu de minha parte, sustento o que disse no artigo anterior: este governo ainda não mostrou a que veio. Agora, fazer alusão à "divulgação diária, feita nos veículos de comunicação locais, para que tenha idéia da grande obra desenvolvida pelo atual governo de Roraima" é brincar um pouco com a inteligência do povo. Todos que militamos na imprensa local sabemos que essas matérias custam um bom dinheiro aos cofres estaduais, com raríssima exceção de um ou outro veículo (?).

Se o governo realmente está trabalhando muito, como diz Rui, não faz mais do que a sua obrigação. Afinal, quem brigou tanto no tapetão para chegar ao Palácio Senador Hélio Campos, acusando o seu antecessor de corrupção e uso da máquina pública para se eleger, tem a obrigação moral de fazer um trabalho bem melhor, com transparência e zelo para com a coisa pública.

Porém, por mais esforço de marketing que se faça, vai ser difícil tirar esse perfil retrógrado e populista que é uma das marcas das administrações de Ottomar Pinto. Não sou em que diz isso. É a história desse estado vilipendiado ao longo dos anos que registra. No que diz respeito às "ações de governo", muito do que foi prometido por Ottomar antes a sua assunção ao cargo de governador ainda não fui cumprido. E também não sou eu apenas quem afirma isso. É o clamor de toda uma população que o diz. Afinal, espera-se de um governante mais que políticas assistencialistas, como distribuição de vales isso e aquilo, brinquedos ou peixe na periferia. Um governante tem que primar por políticas efetivas de inclusão social e geração de emprego e renda. Mas essa é outra história. E bem mais longa. História que os políticos brasileiros e locais parecem desconhecer.

(*) Jornalista e professor. E-mail: [email protected] Blog: www.bemdito.zip.net
 

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